Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital
É mesmo um lugar comum repetir que vivemos numa época de mudança. Foi o choque industrial, o choque tecnológico e, como se não bastasse, chega o choque dos valores. Convém encontrar novos conceitos e novas soluções até porque, as que se conhecem à data, já não funcionam. Este é outro lugar comum.
Na antiguidade a legislação tinha como objectivo o estabelecimento de sistemas que pudessem funcionar como uma linguagem comum entre as pessoas (assim como um MSDOS social), tendo por finalidade o bem comum e a estabilidade. No presente, nesta época moderna (não necessariamente evoluída) acredito que os pressupostos possam ser os mesmos, mas o sistema operativo é outro. De vez em quando há novos chavões. Um recente passa pelo perfeito equilíbrio entre a flexibilidade e a segurança: A flexissegurança! (talvez a seguir se tente o perfeito equilíbrio entre liberdade e respeito...)
Parece que a Dinamarca implementou com sucesso o novo conceito da flexissegurança. Flexibilidade e segurança. Do que conheço desse país escandinavo, não me surpreende. As pessoas pagam os seus impostos, apesar de altos; mas o sistema social funciona. Os sindicatos fazem o seu papel; mas as associações patronais também. Os postos de trabalho mudam e os profissionais têm de ser requalificados para novos postos; mas a qualificação assegura o novo emprego e os desempregados voltam a trabalhar quando chamados.
Estes são pressupostos fundamentais para que prevaleça a flexibilidade nas empresas e a segurança para os trabalhadores. Parece-me um conceito construtivo mas eu não sou uma especialista da lei, sobretudo da lei laboral portuguesa, e parece-me uma demanda quixotesca, pensar na sua aplicabilidade em Portugal (e talvez em todo o sul da Europa), antes de se conseguir os alicerces.
A globalização é um facto — mais um lugar comum — mas não podemos ficar alheios ao que se passa no resto do mundo relativo ao trabalho, ao emprego e a novos paradigmas. A China, a Índia, proporcionam e proporcionarão ainda mais — Toffler previu nos anos 70 que o ritmo da mudança seria exponencial — novas e diferentes variáveis nos paradigmas sociais e de emprego europeus.
No fundo, a flexissegurança, pretende aliar os objectivos de dois estados de ser que, à luz da nossa (anda) lei do trabalho continuam a ser (parecer) antagónicos e não complementares.