Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital
Vivemos à escala global. Mais do que uma aldeia somos cada vez mais um condomínio global. A questão da internacionalização dos recursos humanos não é uma questão isolada das idiossincrasias da globalidade da nossa época. Quando falamos de recursos humanos trata-se de uma metáfora para não dizer a verdadeira expressão: pessoas!
De certo modo a emigração é um dos rostos desta internacionalização e nisso, nós portugueses, temos história. O recente estudo publicado pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais espanhol revela algo que nem nos meus dias de pessimismo poderia imaginar: a seguir à Roménia somos a maior comunidade de emigrantes europeus em Espanha.
Claro que podemos divagar e divergir em pensamentos profundos mas a realidade é esta: continuamos a emigrar e, de acordo com os números estrondosos, eu diria que em todos os níveis, operários, quadros, etc... Quando, há 15 anos, a Autoeuropa procurava 2000 jovens sem experiência com cursos técnicoprofissionais ficou claro que a Europa não ia acabar com essa formação. Apesar disso nós tínhamos acabado, após 1974, e nunca mais recomeçámos! Somos definitivamente um país de doutores.
Assim, quando emigramos — passando a ser recursos humanos internacionais — só nos restam duas grandes alternativas: sermos mão-de-obra indiferenciada mas com condições de trabalho, ou sermos quadros altamente qualificados que, com uma enorme probabilidade, nunca mais voltaremos ser ‘recurso humano' em Portugal. Conheço portugueses que estão a fazer carreiras brilhantes além-fronteiras. Também conheço quem as consegue fazer em solo lusitano.
Mas como no jogo da cadeira, temos por cá mais jogadores que lugares. E alguém ficará sem cadeira. Ou muda de jogo. Não é da minha área o estudo das migrações, mas confesso que me dá que pensar esta nova migração económica. Já não é necessário um espírito aventureiro. Já não é preciso ir para África ou para as Américas. Nem sequer para o Norte da Europa. Chega-nos o país vizinho, de onde pode ser verdade que não vem bom vento mas onde, seguramente, há quem encontre bom ‘casamento' (mais de 75.000 portugueses).
Se quisermos ser honestos, podíamos aprender tanta coisa! Inclusive em como criar condições de trabalho para os que imigram para Portugal. Temos recursos competentíssimos. A prova disso é-nos dada por centenas de portugueses que tiveram de sair do seu país para o saberem. Porém, por cá, salvo as excepções económicas que se contam pelos dedos das mãos, continuamos a só olhar para o fundo e para trás. Basta reler ‘A cidade e as serras' para ver que, apesar de tudo mudar à nossa volta, nós continuamos iguais.