Mário Costa
Presidente do Grupo Select/Vedior
Se perguntássemos aos portugueses qual foi o maior empreendimento jamais levado a cabo por Portugal, certamente que a maioria responderia que foram os Descobrimentos. Neles existiram cultura e alma empreendedora, uma ideia, um projecto e uma empresa. Todos - ideia, projecto e empresa - de enorme complexidade, mas enformados pela grandeza de pensamento, de visão e de execução.
Depois disso, ao longo dos tempos - embora com algumas clareiras de esperança e mesmo de concretização - temos vivido nesta 'apagada e vil tristeza' que já Camões lamentava. O mesmo Camões que também ousou alertar que "um fraco rei faz fraca a forte gente".
Na verdade, o empreendedorismo económico não pode dissociar-se da cultura de um povo, entendida esta como conjunto de valores que o norteiam e, sobretudo, às suas elites.
A propósito do empreendedorismo económico, afirma Peter F. Drucker que "tentar adivinhar que produtos e processos o futuro exigirá é um exercício fútil. Mas é possível decidir que ideia se quer ver como realidade no futuro e construir uma empresa diferente baseada nessa ideia. Fazer o futuro acontecer significa também criar uma empresa diferente. Mas o que faz o futuro acontecer é sempre a incorporação numa empresa da ideia de uma economia, de uma tecnologia, de uma sociedade diferentes. (...). A ideia (...) não surge da pergunta: "Com o que se vai parecer a sociedade do futuro?" (...) Mas da pergunta: "Que grande mudança na economia, no mercado ou no conhecimento nos capacitaria a conduzir a empresa da maneira que realmente gostaríamos, da maneira pela qual realmente obteríamos os melhores resultados económicos?"
Um exemplo concreto de que nos falta a visão dessa 'grande mudança', desta vez ao nível das políticas do trabalho e do emprego, é o projecto de lei sobre trabalho temporário que a Assembleia da República aprovou ou se prepara para aprovar: em vez de potenciar a criação de emprego, a oferta de oportunidades de entrada e conhecimento do mercado de trabalho, a atenuação da nossa rigidez da lei laboral (a mais rígida da EU e da OCDE), concebe-se e executa-se a ideia do trabalho temporário como parente pobre e indesejado do contrato de trabalho a termo. Em vez de contribuir para a transparência, a legalidade e agilização da gestão dos recursos humanos, incentiva-se o aparecimento de empresas de falso trabalho temporário e de verdadeiro tráfico de mão-de-obra. Assim se perderá uma oportunidade para favorecer o empreendedorismo.