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Entre o Agir e o Ser



01.01.2000



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Responsabilidade Social – Entre o Agir e o Ser
(11-08-2006)

Carla Marisa Magalhães *
ebcarla@fgv.br


Como avaliar a RS das empresas? Até que ponto existem empresas socialmente responsáveis? Será que uma empresa, por praticar acções de RS, é socialmente responsável? Estas são algumas questões às quais é necessário responder, se não queremos cair no erro de abusar da doutrina da RS. Sim, porque a RS é uma doutrina, um valor, e não uma estratégia de gestão, como tantas vezes tem sido apelidada. Precisamente para não cometermos erros como este, devemos chamar a atenção para o seguinte: uma coisa é uma empresa agir de forma socialmente responsável, em determinadas áreas; outra coisa é uma empresa ser socialmente responsável.
Para compreendermos um pouco melhor esta distinção, vejamos os três aspectos que estão por detrás da RS:

- Actuação socialmente responsável ao nível dos três vectores (económico, social e ambiental);

- Actuação socialmente responsável de forma espontânea (que vai para além do que está previsto na lei);

- Actuação socialmente responsável ao nível interno e externo (preocupação com todos os stakeholders).

Com efeito, podemos colocar as seguintes questões:

- Uma empresa que apenas cumpre a lei, é socialmente responsável?

- Uma empresa que pratica acções de RS, mas não cumpre a lei em determinados parâmetros, é socialmente responsável?

- Uma empresa que tem uma política de RS na comunidade, mas efectua despedimentos em massa ou foge aos impostos, é socialmente responsável?

- Uma empresa que tem um comportamento ímpar junto dos seus funcionários, mas polui o meio ambiente, é socialmente responsável?

- Uma empresa que actua de forma directa na área da RS, ao nível interno e externo, mas tem fornecedores que dependem de mão-de-obra infantil, é socialmente responsável?

A resposta a todas estas questões é NÃO! Para ser socialmente responsável, uma empresa deve agir de forma a respeitar os três aspectos atrás mencionados. Caso contrário, não poderá (ou deverá) exibir esse rótulo. Sendo assim, é legítimo perguntar: Haverá de facto empresas que são socialmente responsáveis? Não será a RS uma utopia? Não, a RS não é uma utopia! É tão somente um conceito que nunca se alcança em pleno, pois está em constante construção e crescimento.

Mas, porque será tão importante fazer esta distinção entre o ser e o agir ?

Em primeiro lugar, é uma distinção que não pretende ter qualquer consequência negativa para as empresas, visto que a RS não é obrigatória. E é precisamente por não haver nenhuma lei que regula essa questão, que devemos ser cautelosos com ela. Caso contrário, a RS passará a ser utilizada de forma demagógica e como uma mera política de Marketing.

Em segundo lugar, é injusto e incorrecto colocar no mesmo patamar várias empresas, sem avaliarmos de forma mais meticulosa os respectivos contextos e linhas de acção. E este problema é tanto maior quanto mais abrangente for o conceito de RS, o que possibilitará às empresas a sua utilização de forma algo leviana. Deste modo, é importante desenvolver formas de avaliar o nível de RS das empresas, o que poderá actuar não só como um incentivo e um fio condutor para as mesmas, mas também como um corrector de comportamentos mais duvidosos.

Em terceiro e último lugar, a RS não é um conceito finito, mas sim um conceito que nunca se esgota e que deve estar em constante adaptação e aplicação.

Assim sendo, talvez seja um pouco abusivo referir que uma empresa é socialmente responsável. Talvez seja mais congruente com a realidade e com a verdadeira natureza da RS, referir que uma organização tem acções socialmente responsáveis e em que nível se encontra. E é neste sentido que a RS deve ser encarada por todos nós, pois só assim é que ela terá um carácter permanente e autêntico. Caso contrário, corremos o risco de aceitar que empresas socialmente irresponsáveis se assumam de forma inversa, fruto de uma ou outra acção pontual de RS. E se isso acontecer, chegaremos à conclusão de que toda a preocupação em torno desta temática foi em vão!


*Carla Marisa Magalhães é pesquisadora na área da Responsabilidade Social e doutoranda em Ciências Empresariais, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em parceria com a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.





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