Carreiras

De médico a jornalista



01.01.2000



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De médico a jornalista

Carlos Monteiro marca pontos em duas profissões.
Tirou o curso de medicina mas é também jornalista na Cidade Médica Virtual onde ocupa o cargo de Director Médico.
Uma carreira multifacetada e cheia de dinamismo!



Fale-me da sua formação académica e percurso profissional

Até à faculdade, a evolução é idêntica à de todos os alunos de medicina, notas altas e algumas festas perdidas. No final do primeiro ano de faculdade e após um exame de anatomia, com uma classificação elevada, surgiu o convite para trabalhar como monitor da referida cadeira. Nessa altura morava em Setúbal e consumia quase 5 horas por dia em transportes, pelo que se tornou impossível a conjugação do curso com as aulas de anatomia. No final do segundo ano interrompi o curso pela primeira vez com o objectivo de reunir meios suficientes para concluir o curso em condições aceitáveis. Foi assim que comecei a trabalhar. Envolvi-me em várias actividades, nenhuma delas relacionada com a medicina ou o jornalismo. Nessa fase tomei a iniciativa de fazer voluntariamente serviço de urgência cirúrgica no Hospital de São José, actividade que se prolongou até 1998. Este período foi fundamental para a minha formação, talvez mais do que o próprio plano curricular oficial. Este investimento de tempo, mais de 2500 horas, permitiu-me adquirir elementos de formação e de informação que, por motivos vários, não é possível obter no próprio curso. Apesar de ter surgido mais por necessidade e não tanto por opção, esta fase foi aquela que mais me afastou do percurso estereotipado da licenciatura médica. Foi desta forma que diferenciei a minha autonomia e desenvolvi a capacidade de lidar com o doente, que comecei a perceber algumas realidades da profissão médica, nomeadamente a diferença entre a medicina livresca e a medicina à cabeceira do doente, e que aprendi a lidar com as exigências emocionais da prática médica. Depois de concluir a licenciatura em Novembro de 2000, iniciei o primeiro patamar da carreira médica, o Internato Geral, que actualmente decorre num patamar muito gratificante em termos curriculares. No princípio de 1998, através de um colega mais velho surgiu o convite para traduzir textos médicos para uma revista dirigida a clínicos gerais, a Semana Médica. Foi deste modo que se iniciou o contacto com o mundo do jornalismo. Em pouco tempo, para além das traduções, surgiu o convite para escrever textos originais para a referida publicação. Esse trabalho tornou-se conhecido e em Julho de 2000 recebi o convite para colaborar com a Cidade Médica Virtual, na altura em processo de profissionalização, elaborando conteúdos de natureza científica. Em Setembro de 2000 fui convidado para ocupar o lugar de Director Médico Adjunto. Em Julho último, e na sequência de uma reestruturação de ajustamento a novos objectivos, passei a ocupar o lugar de Director Médico.

Como surgiu a ideia da Cidade Médica Virtual?

Eu apanhei a Cidade Médica Virtual na reestruturação, foi criada à 5 anos por duas pessoas, Alfredo Vasconcelos e Francisco Gonçalves.
Francisco Gonçalves tinha um conhecimento técnico, era técnico de computadores e desde o princípio da Internet interessava-se por essas coisas, o Alfredo Vasconcelos, era delegado de informação médica.
Foi de ambos que nasceu a ideia de fazer um site em português que abarcasse tanto quanto possível a área da saúde e se dirigisse a médicos.
Sozinhos conseguiram manter-se e foram muitas vezes considerados como detentores do melhor portal temático na área da saúde em Portugal.
Mais ou menos em início do ano passado, o grupo Mello pegou neste projecto e enjeitou o capital, desenvolveu horizontes e profissionalizou-se a própria estrutura do portal, até chegar ao que é hoje.
Eu entrei nessa altura, em Agosto do ano passado a convite dos dois, até aí era apenas utilizador da cidade médica virtual, nessa altura precisavam de alguém para a parte dos conteúdos científicos que validasse algumas coisas.
Objectivamente, eu valido as notícias que os jornalistas fazem, ou seja faço algumas correcções, faço textos de actualização científica com consulta a várias revistas das várias especialidades, vou ver o que é mais importante, faço catalogação de congressos e ao mesmo tempo que desenvolvo este trabalho estou também a aumentar a minha formação.

Quais os principais objectivos do site e principais áreas?

O site está essencialmente dividido em duas partes, uma para o público em geral e outra para médicos.
O objectivo era ser tanto quanto possível abrangente na área da saúde, esse objectivo que veio do início, teve continuidade com o grupo Mello.
Na parte médica, o objectivo é que o profissional de saúde através da CMV, encontre aqui tudo o que necessita. Procurámos que o portal explorasse todas as vertentes que o médico precisaria: vagas da carreira, revistas de formação médica, notícias sobre política de saúde. Para o público era uma parte que não estava tão desenvolvida, a linguagem tem de ser simples mas tem de se desmistificar de forma a não ser alterada.
Além disso, tivemos de recorrer a algumas parcerias, nomeadamente com a DECO que tem livros sobre vários temas de saúde e também uma revista. O que tentamos fazer é responder a perguntas de carácter geral, dúvidas que as pessoas possam ter. Os nossos textos ficam mais completos na interacção com o público.

Conte-me um caso engraçado?

CM: Temos vários. De início éramos não mais que dez, era muito divertido, chegávamos a ficar mais horas do que era previsto. O fórum era muito giro e interessante porque se aproxima muito do que é o nosso dia a dia, no fundo porque se responde a dúvidas.
Houve uma altura que tínhamos perguntas de natureza sexual, que a pessoa colocava porque aproveitava estar escondida atrás do ecrã, e depois era o nosso esforço de tentar responder tanto quanto possível de uma forma séria.
Por vezes nós próprios, aproveitando aqueles momentos, colocávamos questões com nomes falsos, uns para os outros, acabava por servir de animação.
Só após algum tempo, é que aqueles que não sabiam, descobriram que éramos nós a fazer essa brincadeira.

Para o futuro, quais as novidade que pretendem introduzir no site?

Neste momento estamos numa fase de reestruturação, aproveitando o período de férias da maioria dos médicos, vamos modificar algumas coisas no site.
Provavelmente só em princípio de Outubro arrancaremos com rubricas novas como o banco de imagem. Vamos passar a ter também dossiers temáticos, apesar de já termos o chamado dossier de ouro, que está disponível para os médicos e para o público, mas que não é rigorosamente idêntico.

Como é que um site como este se encaixa no panorama de sites portugueses?

Este destaca-se de todos os que conheço de forma objectiva, isto porque aposta na parte médica e também na parte para o público. Pagamos caro em termos de trabalho e de esforço mas temos as 47 especialidades discriminadas.
Já foi tema de debate na empresa se vale a pena termos todas as áreas ou não, mas até agora quisemos mantê-las, cada vez mais com a personalização de cada uma delas. Não conheço outro site que o faça, conheço alguns que têm rubricas nossas mas misturadas. Por exemplo, a rúbrica das vagas, que nós temos sempre discriminadas para cada especialidade, existe noutros sites, mas com todas as especialidades misturadas.

O que pensa da percentagem de utilizadores da Internet?

Temos números muito simpáticos, mas, ainda assim, vejo que o nosso país ainda não está muito para aí virado. É uma pena não investirem, por exemplo, em centros de saúde que através da Internet disponibilizem o horário das consultas e outros aspectos úteis aos utentes. Dar uma utilização à Internet não só lúdica mas também séria, para serviço público, seria ideal.

AF

 






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