De médico a jornalista
Carlos Monteiro marca pontos em duas profissões.
Tirou o curso de medicina mas é também jornalista na Cidade
Médica Virtual onde ocupa o cargo de Director Médico.
Uma carreira multifacetada e cheia de dinamismo!
Fale-me da sua formação académica e percurso profissional
Até à faculdade,
a evolução é idêntica à de todos os
alunos de medicina, notas altas e algumas festas perdidas. No final do
primeiro ano de faculdade e após um exame de anatomia, com uma
classificação elevada, surgiu o convite para trabalhar como
monitor da referida cadeira. Nessa altura morava em Setúbal e consumia
quase 5 horas por dia em transportes, pelo que se tornou impossível
a conjugação do curso com as aulas de anatomia. No final
do segundo ano interrompi o curso pela primeira vez com o objectivo de
reunir meios suficientes para concluir o curso em condições
aceitáveis. Foi assim que comecei a trabalhar. Envolvi-me em várias
actividades, nenhuma delas relacionada com a medicina ou o jornalismo.
Nessa fase tomei a iniciativa de fazer voluntariamente serviço
de urgência cirúrgica no Hospital de São José,
actividade que se prolongou até 1998. Este período foi fundamental
para a minha formação, talvez mais do que o próprio
plano curricular oficial. Este investimento de tempo, mais de 2500 horas,
permitiu-me adquirir elementos de formação e de informação
que, por motivos vários, não é possível obter
no próprio curso. Apesar de ter surgido mais por necessidade e
não tanto por opção, esta fase foi aquela que mais
me afastou do percurso estereotipado da licenciatura médica. Foi
desta forma que diferenciei a minha autonomia e desenvolvi a capacidade
de lidar com o doente, que comecei a perceber algumas realidades da profissão
médica, nomeadamente a diferença entre a medicina livresca
e a medicina à cabeceira do doente, e que aprendi a lidar com as
exigências emocionais da prática médica. Depois de
concluir a licenciatura em Novembro de 2000, iniciei o primeiro patamar
da carreira médica, o Internato Geral, que actualmente decorre
num patamar muito gratificante em termos curriculares. No princípio
de 1998, através de um colega mais velho surgiu o convite para
traduzir textos médicos para uma revista dirigida a clínicos
gerais, a Semana Médica. Foi deste modo que se iniciou o contacto
com o mundo do jornalismo. Em pouco tempo, para além das traduções,
surgiu o convite para escrever textos originais para a referida publicação.
Esse trabalho tornou-se conhecido e em Julho de 2000 recebi o convite
para colaborar com a Cidade Médica Virtual, na altura em processo
de profissionalização, elaborando conteúdos de natureza
científica. Em Setembro de 2000 fui convidado para ocupar o lugar
de Director Médico Adjunto. Em Julho último, e na sequência
de uma reestruturação de ajustamento a novos objectivos,
passei a ocupar o lugar de Director Médico.
Como surgiu a ideia da Cidade Médica Virtual?
Eu apanhei a Cidade Médica Virtual na reestruturação,
foi criada à 5 anos por duas pessoas, Alfredo Vasconcelos e Francisco
Gonçalves.
Francisco Gonçalves tinha um conhecimento técnico, era técnico
de computadores e desde o princípio da Internet interessava-se
por essas coisas, o Alfredo Vasconcelos, era delegado de informação
médica.
Foi de ambos que nasceu a ideia de fazer um site em português que
abarcasse tanto quanto possível a área da saúde e
se dirigisse a médicos.
Sozinhos conseguiram manter-se e foram muitas vezes considerados como
detentores do melhor portal temático na área da saúde
em Portugal.
Mais ou menos em início do ano passado, o grupo Mello pegou neste
projecto e enjeitou o capital, desenvolveu horizontes e profissionalizou-se
a própria estrutura do portal, até chegar ao que é
hoje.
Eu entrei nessa altura, em Agosto do ano passado a convite dos dois, até
aí era apenas utilizador da cidade médica virtual, nessa
altura precisavam de alguém para a parte dos conteúdos científicos
que validasse algumas coisas.
Objectivamente, eu valido as notícias que os jornalistas fazem,
ou seja faço algumas correcções, faço textos
de actualização científica com consulta a várias
revistas das várias especialidades, vou ver o que é mais
importante, faço catalogação de congressos e ao mesmo
tempo que desenvolvo este trabalho estou também a aumentar a minha
formação.
Quais os principais
objectivos do site e principais áreas?
O site está essencialmente dividido em duas
partes, uma para o público em geral e outra para médicos.
O objectivo era ser tanto quanto possível abrangente na área
da saúde, esse objectivo que veio do início, teve continuidade
com o grupo Mello.
Na parte médica, o objectivo é que o profissional de saúde
através da CMV, encontre aqui tudo o que necessita. Procurámos
que o portal explorasse todas as vertentes que o médico precisaria:
vagas da carreira, revistas de formação médica, notícias
sobre política de saúde. Para o público era uma parte
que não estava tão desenvolvida, a linguagem tem de ser
simples mas tem de se desmistificar de forma a não ser alterada.
Além disso, tivemos de recorrer a algumas parcerias, nomeadamente
com a DECO que tem livros sobre vários temas de saúde e
também uma revista. O que tentamos fazer é responder a perguntas
de carácter geral, dúvidas que as pessoas possam ter. Os
nossos textos ficam mais completos na interacção com o público.
Conte-me um caso engraçado?
CM: Temos vários. De início éramos
não mais que dez, era muito divertido, chegávamos a ficar
mais horas do que era previsto. O fórum era muito giro e interessante
porque se aproxima muito do que é o nosso dia a dia, no fundo porque
se responde a dúvidas.
Houve uma altura que tínhamos perguntas de natureza sexual, que
a pessoa colocava porque aproveitava estar escondida atrás do ecrã,
e depois era o nosso esforço de tentar responder tanto quanto possível
de uma forma séria.
Por vezes nós próprios, aproveitando aqueles momentos, colocávamos
questões com nomes falsos, uns para os outros, acabava por servir
de animação.
Só após algum tempo, é que aqueles que não
sabiam, descobriram que éramos nós a fazer essa brincadeira.
Para o futuro, quais as novidade que pretendem introduzir
no site?
Neste momento estamos numa fase de reestruturação,
aproveitando o período de férias da maioria dos médicos,
vamos modificar algumas coisas no site.
Provavelmente só em princípio de Outubro arrancaremos com
rubricas novas como o banco de imagem. Vamos passar a ter também
dossiers temáticos, apesar de já termos o chamado dossier
de ouro, que está disponível para os médicos e para
o público, mas que não é rigorosamente idêntico.
Como é que
um site como este se encaixa no panorama de sites portugueses?
Este destaca-se de todos os que conheço de forma
objectiva, isto porque aposta na parte médica e também na
parte para o público. Pagamos caro em termos de trabalho e de esforço
mas temos as 47 especialidades discriminadas.
Já foi tema de debate na empresa se vale a pena termos todas as
áreas ou não, mas até agora quisemos mantê-las,
cada vez mais com a personalização de cada uma delas. Não
conheço outro site que o faça, conheço alguns que
têm rubricas nossas mas misturadas. Por exemplo, a rúbrica
das vagas, que nós temos sempre discriminadas para cada especialidade,
existe noutros sites, mas com todas as especialidades misturadas.
O que pensa da percentagem de utilizadores da Internet?
Temos números muito simpáticos, mas,
ainda assim, vejo que o nosso país ainda não está
muito para aí virado. É uma pena não investirem,
por exemplo, em centros de saúde que através da Internet
disponibilizem o horário das consultas e outros aspectos úteis
aos utentes. Dar uma utilização à Internet não
só lúdica mas também séria, para serviço
público, seria ideal.
AF