Cronobiologia: aspectos metodológicos
As perturbações
da saúde relacionadas com o TT passam por uma perturbação
da ritmicidade circadiana. Com efeito, muitas funções do
nosso organismo flutuam no tempo de forma cíclica: ritmos biológicos
(não confundir com biorritmos). Como exemplos, citamos a temperatura
corporal (com um mínimo cerca das 5 da madrugada e um máximo
perto das 17-19horas), o cortisol plasmático (com o seu pico às
7-8 horas da manhã), a força muscular (com o seu pico cerca
das 15 horas), a atenção, a memória a curto prazo
(mais eficiente perto do meio dia), a memória semântica (mais
eficiente para a tarde), o sono-vigília, o humor, etc.. A ciência
que estuda os ritmos biológicos é a cronobiologia (do grego,
chronos = tempo).
Quando se estuda um ritmo biológico determinam-se diversos parâmetros.
Teremos de determinar o valor mínimo (nadir) e o valor máximo
(zénite), bem como os momentos (hora do dia, dia da semana, mês
do ano, etc.) em que ocorrem o nadir (batifase) e o zénite (acrofase,
j). Por exemplo, se o valor mais elevado da temperatura corporal de um
indivíduo é 36.9º Cej=19h. Muitas vezes, em vez de
horas, dias ou meses, usam-se graus de ângulo.
Há pessoas que possuem acrofases dos seus ritmos avançados
em relação às médias populacionais, pelo que
acordam mais cedo e são mais eficientes de manhã (madrugadores,
matutinos ou cotovias). Outros possuem as acrofases atrasadas, pelo que
tendem a acordar mais tarde e são mais eficientes para o fim do
dia ou noite dentro (vespertinos, noctívagos ou mochos). Esta dimensão
"cotovia-mocho" traduz o "tipo diurno", um factor
preditor da adaptação ao TT.
Outros parâmetros importantes são a duração
de um ciclo completo (período ou T) e a frequência (f) em
número de ciclos por unidade de tempo. A unidade de tempo em cronobiologia
é o "dia" de 24 horas. Assim, se um ritmo tiver um período
de 1 segundo (T=1s), como por exemplo o cardíaco, terá uma
frequência de 86400 ciclos por dia. Estes 2 parâmetros permitem
definir o espectro cronobiológico: ritmos ultradianos (T<20h,
por conseguinte frequências elevadas), ritmos infradianos (T>28horas,
por conseguinte frequências baixas) e ritmos circadianos (20h<T<28h),
isto é, ritmos com um período de cerca de um dia (do latim,
circa diem= cerca de um dia).
Outro parâmetro importante é o nível médio
(M), isto é, o valor à volta do qual a função
biológica oscila. Quando se usam métodos de análise
trigonométrica e estatística dos ritmos biológicos
(ex.: método COSINOR ou análises do tipo Fourier), o nível
médio designa-se mesor, do inglês "midline estimated
statistic of rhythm". A diferença entre o zénite (valor
máximo) e o nível médio (M) denomina-se amplitude
(A). A flexibilidade, entendida como o grau da capacidade para mudar horários
de sono e vigília sem afectar significativamente o desempenho,
parece estar associada à amplitude da temperatura corporal: há
estudos que sugerem que os ritmos com amplitudes grandes resistem mais
a mudanças nas acrofases (rigidez).
Outro aspecto importante a ter em conta diz respeito às relações
de fase entre os diversos ritmos corporais. A fase traduz a relação
entre os valores da função biológica em estudo (ordenada)
e os valores do tempo (abcissa). Assim, poderemos dizer que entre as 5
e as 12 horas a temperatura corporal está em fase ascendente, dado
que a curva definida no gráfico apresenta um declive nesse sentido
(derivada positiva). A acrofase é a fase correspondente ao zénite.
Usando as acrofases como marcadores rítmicos, poderemos medir as
diferenças horárias entre diversos ritmos. Por exemplo,
entre a temperatura corporal (TC) e o cortisol plasmático (CP)
há uma diferença da ordem das 7 horas (jTC=17h; jCP=8h).
Os diversos ritmos biológicos num determinado organismo deverão
manter entre si relações de fase estáveis, o que
se designa harmonia bio-temporal ou sincronização interna.
Se por qualquer motivo (exemplo, trabalhar à noite) os ritmos perderem
as relações de fase que deveriam manter, surge uma dessincronização
interna ou dessincronose que está subjacente à maior parte
dos problemas de saúde no TT.
Fonte RHM (continua)