Mário Costa
Presidente do Grupo Select/Vedior
A actual crise financeira, pelas proporções que atingiu e pelas que promete, faz já vacilar os ânimos de espíritos mais optimistas. O facto de ter a sua origem e de estar a afectar sobretudo a banca, não é razão para menos.
O mercado de emprego fica, com esta conjuntura, duplamente penalizado: se, por um lado, os bancos se vêem obrigados a cortar nos custos, e consequentemente nos postos de trabalho, por outro, no sector empresarial, dependente do crédito e do consumo, verifica-se uma recessão acompanhada da recusa de qualquer tipo de iniciativas susceptíveis de criarem emprego. A Federação Patronal da União Europeia estima, em resultado da crise, a perda de um milhão de empregos na Europa.
Na sua crónica do Expresso, do dia 1 de Novembro, Miguel Sousa Tavares sugere, com razão, que o modelo que vigora deve ser revisto, salientando que tanto o socialismo como o capitalismo falham por “desdenharem” o “factor humano”. O socialismo por achar que “a propriedade é um roubo”, quando é uma ambição legítima, e o capitalismo por não contar com a “ambição desmedida de riqueza”. Nada mais certo.
Mas também deveríamos acrescentar que tanto o modelo socialista como o capitalismo desregulado e individualista são duas faces da mesma moeda. Colectivismo e individualismo são duas vias de uma cultura marcada sob o signo do materialismo, e só neste âmbito as podemos considerar opostas. Nas suas formas mais radicais, e o século XX demonstrou-o, chegam mesmo a pretender dispensar o homem de ser justo para que a sociedade o seja e funcione.
Não há modelos perfeitos e acabados, até porque o tal “factor” que refere MST é “humano”. O problema dos modelos materialistas não é tanto “desdenharem” este “factor”: é não saberem o que significa “humano” e tomarem o conceito por outra coisa qualquer.
Feitas as contas, um modelo político ou económico é bom quando promove a justiça social — os outros trazem latente o germe da sua própria destruição. Pensar que o mercado ou o Estado podem dispensar o homem — medida de todas as coisas — é uma utopia que a história já pôs a descoberto vezes suficientes.