Carreiras

Barómetro RH - Ana Loya



01.01.2000



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Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital


Devo confessar que o tema proposto para a reflexão deste mês me é particularmente caro. Reflectir sobre factos que se repetem sistematicamente ano após ano, não obstante toda a informação que circula no meio de pessoas que, supostamente, pertencem à classe mais letrada e informada do nosso país, é algo que para mim constitui um mistério — e não me estou a referir à sida ... Sabe-se que não há empregos suficientes para os recém-licenciados. Eles próprios o sabem.


Mas até serem recém-licenciados ainda faltam 3 ou 4 anos das suas vidas e o seu futuro aparenta-se-lhes como algo longínquo e irreal. Portanto, a grande maioria deve escolher o que mais lhe apetece, em vez do que, dentro do que gostam e são dotados, mais lhes convém. Aí entram para o curso que está ‘à mão'. Mas a vida é feita de escolhas. Em todos os planos. Escolher implica sempre renunciar a algo ou a vários algos. É um acto da vontade e logo é uma decisão. E as decisões têm sempre consequências.

Escolher um curso não pode nunca ser separado da tomada de decisão sobre o possível futuro profissional, económico e social. Parece continuar a ser um momento onde se escolhe o que parece mais ‘giro' para fazer nos próximos 3 ou 5 anos. Variáveis como a empregabilidade, a qualidade da formação ou mesmo os projectos de carreira, raramente são tidos em conta quer pelos jovens quer por aqueles que os ajudam a decidir. A escolha é individual, é pessoal, mas implica sempre ponderação porque senão é impulso, não é escolha! Sem dúvida que podemos apontar aqui várias variáveis que contribuem para a perpetuação da ‘desempregabilidade' dos licenciados. Algumas exógenas — sobre as quais já debatemos sobejamente neste espaço: estado, política de educação, homologação de curso irrelevantes e inúteis — mas, seguramente as principais são endógenas: têm a ver com o indivíduo, com as suas escolhas, a sua capacidade de se pensar e de se projectar no futuro.

Está na moda o hedonismo. As mensagens que se passam aos jovens são todas irreverentes, deseducadas e desresponsabilizantes. Não era necessário. A juventude é sempre irreverente. Reforçar essa mensagem é deseducativo, não os ajuda, nem ajuda a sociedade. Educar é transmitir valores. E um valor importante tem a ver com o ser consciente das consequências inerentes a qualquer escolha.

Podíamos começar por analisar, por um lado, quais as carências educativas no nosso país. De seguida, em vez de requalificar pessoas não qualificadas ou qualificadas em nada necessário, requalificar — talvez encerrando e abrindo novos — os cursos inúteis. Havendo um leque realista e necessário para escolher, talvez os jovens pudessem continuar a decidir sobre o que mais lhe apetece ou gostam, mas a sua escolha teria menos repercussões negativas no seu futuro profissional e, seguramente teria mais benefícios para o país.

É assim, “tudo me é permitido mas nem tudo me convém” como diz Paulo de Tarso. E isso aplica-se perfeitamente nos nossos dias, onde me parece muito triste sabermos que há famílias e jovens a sacrificarem-se para se qualificar numa coisa de que ninguém precisa. Resta saber, se essas famílias e esses jovens sabendo da exiguidade da sua formação, teimariam — como parece que teimam — ou reorientariam as suas escolhas de um modo mais racional e maduro.






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