Álvaro Fernández
Managing Director Michael Page Internacional
Na primeira fase do concurso nacional foram admitidos cerca de 45000 alunos, o que representa um aumento de 6% face a 2007, crescimento que, uma vez mais, teve maior incidência no ensino politécnico. Estes dados mostram uma crescente consciencialização dos alunos portugueses em relação ao mercado de trabalho actual e nota-se um crescente afastamento de cursos ligados às Ciências Sociais e Humanas e ao Ensino. Contudo, estes cursos continuam com bastante procura por parte dos alunos portugueses e o número de licenciados nestas áreas representa ainda uma fatia muito significativa do universo dos recém-licenciados portugueses.
São várias as razões que levam um aluno a escolher um curso com poucas saídas profissionais, destacando-se a falta de informação sobre o mercado de trabalho e gosto e/ou vocação por uma determinada área. No mundo actual, a falta de informação é pouco crível, mas é também verdade que o ensino preparatório e secundário não está orientado para o mundo do trabalho, a falta de ligação das escolas às empresas é gritante e são muitos os alunos que, quando se deparam com a altura de escolher um curso, revelam uma ignorância profunda sobre o mercado de trabalho. A escolha de um curso baseada em gosto e/ou vocação deve pesar na decisão, mas não pode ser tida como factor único.
A solução deverá passar por aproximar a escola das empresas, formar alunos tendo em vista a sua integração no mercado de trabalho e não apenas por formar alunos de acordo com planos de ensino antiquados e desadequados. As empresas deverão tomar um papel mais activo na escola, promover «workshops» e informar sobre as reais necessidades que têm. O Estado deverá ter um papel importante, fomentando esta ligação, em vez de promover um ensino estanque e desfasado das necessidades do mercado de trabalho.
Não queremos com isto dizer que não são necessários recursos formados em Ciências Sociais e Humanas, mas com o parco investimento nas áreas da Cultura estes recursos tornam-se muitas vezes excedentários e são constantemente preteridos pelo mercado de trabalho face a alunos com formação em Gestão, Economia ou Engenharia. Hoje, a licenciatura é vista como dado obrigatório para o acesso a ‘bons empregos', mas cada vez mais torna-se insuficiente, devendo ser complementada com Mestrados, MBA ou outros programas similares. Face à realidade existente, a verdade é que, no momento de optarmos por uma licenciatura, a ‘razão' deverá ter peso acrescido face ao ‘coração'.