Carreiras

Barómetro RH - Ana Loya



01.01.2000



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Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital


Estava de férias em África quando soube que 20.000 ou 40.000 professores teriam ficado no desemprego. Foi uma sensação simultaneamente estranha e familiar, sobretudo num momento em que os meus olhos estavam particularmente atentos a sinais de desenvolvimento, subdesenvolvimento e necessidades de educação num país que não o meu. São números (nada semelhantes) que fazem pensar muito.


Em primeiro lugar eu diria que dos 20.000 ou 40.000 desempregados nem todos são professores realmente. Já de si é problemático pensar que muitas destas pessoas se dedicam ao ensino por não terem qualquer outra alternativa profissional. Digamos que 50% são mesmo professores e 50% são licenciados sem alternativa profissional. Por si só não chega: é importante saber as áreas de formação dos professores dispensados bem como saber as áreas de carência de professores nas escolas porque, como todos sabemos, há escassez nalgumas áreas. A Prevenção Primária tem de existir no nosso Sistema Educativo — é já um lugar comum dizer isto, mas tudo se mantém — de modo a que os números de licenciados definidos em cada Escola, esteja mais dependente das necessidades do país. Os critérios continuam a ser outros — o número de bancos e provavelmente a rentabilidade — e, por isso, todos os anos cresce o número de licenciados desempregados ou empregados abaixo das suas qualificações. Ao nível da Prevenção Secundária seria fundamental criarem-se programas de reciclagem para os professores (já qualificados nesta categoria) e programas de qualificação para aqueles que estão no Ensino porque não encontram vagas na sua área.

Em Portugal já nos encontramos ao nível da Prevenção Terciária: o problema já existe, está implantado, cresce de ano para ano e é um péssimo indicador económico 20.000 (ou 40.000) pessoas sem emprego. Não sou política nem tenho quaisquer aspirações a tal mas, parece-me que este é um sinal que deveria preocupar MESMO a nossa classe política. É partilhado por todos — enquanto não estão no Governo — que o Sistema Educativo é deficiente e desadequado quer para o longo quer para o curto prazos. O investimento de carreira de qualquer indivíduo está directamente ligado às perspectivas que tem no seu lugar de trabalho. Nesta ordem de ideias qual o grau de motivação e envolvimento que um professor pode ter numa escola onde não sabe se permanece, com falta de autoridade devido a um estatuto precário que os alunos conhecem, a trabalhar com alguns indivíduos que não se sabem comportar porque não têm referências nem modelos em casa e correndo o risco de protagonizarem alguma cena digna do youtube com um telemóvel ou outro qualquer aparato que permite uma afirmação negativa e delinquente de qualquer aluno.

No plano das prioridades parece-me ser claramente um tema de nível 1 esta questão do Sistema Educativo do planeamento dos programas de estudo. O que se pode fazer agora com estes grandes números? Não sei! Mas acredito ser fundamental trabalhar para PREVENIR que os números se mantenham e/ou aumentem como é de esperar se nada mudar.






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