Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
A criação do ensino profissional visou reparar aquele que foi provavelmente um dos erros mais graves da revolução de Abril. Na altura a desaparição das escolas comerciais e industriais foi encarada como a oportunidade para uma vasta maioria população aceder à ambicionada qualificação universitária de uma licenciatura.
Descoberto o filão, as universidades privadas proliferaram rapidamente sobretudo nas áreas de ensino tradicionalmente encaradas como mais acessíveis mas também e sobretudo as menos exigentes em termos de investimentos estruturais.
As facilidades académicas concedidas pelas novas universidades provocaram um surto de licenciados que — após esgotada a capacidade de absorção do mercado de trabalho — começaram a engrossar as estatísticas do desemprego e nos transformaram num dos países europeus com maior densidade de desempregados qualificados ou sub-aproveitados.
Só em 1989 foram criadas estruturas de ensino profissional vocacionadas para a formação, no âmbito do ensino secundário, de técnicos intermédios e técnicos especializados com resultados que o credenciam como a modalidade de ensino com melhores resultados escolares com os mais elevados níveis de adaptação ao mercado de trabalho e com os custos mais baixos do sistema educativo português.
Estruturados em pequenas unidades escolares, com métodos activos de ensino baseados no ‘aprender fazendo' com fortes ligações e muitas vezes em estreita parceria com as empresas locais os técnicos saídos destas escolas beneficiam geralmente de uma rápida inserção quer no mercado de trabalho local quer no acesso a mercados de trabalho internacionais.
A abertura de mais de uma centena de milhar de vagas para a via profissionalizante no próximo ano lectivo constituirá por tal motivo um sinal positivo desde que as matrizes curriculares dos cursos profissionalizantes mantenham o enfoque na resposta às necessidades tecnológicas e científicas concretas das empresas e não uma forma de criar mais postos de trabalho para os professores excedentes do ensino secundário tradicional.