A Responsabilidade Social dos Stakeholders
(11-05-2007)
Carla Marisa Magalhães *
ebcarla@fgv.br
Uma das teorias que actualmente está mais em voga no que diz respeito à RS, é a chamada Teoria dos Stakeholders . Esta teoria diz-nos que a actividade das empresas não deve levar em consideração apenas os interesses dos seus shareholders (accionistas/ proprietários), mas de todas as partes interessadas ou intervenientes no processo organizacional – os chamados stakeholders . Mas, quem são estas partes interessadas? São muitas e variadas: os funcionários da empresa (de todos os sectores, cargos e hierarquias), os clientes, os fornecedores, os concorrentes, o meio envolvente (sobretudo aquele onde a actividade da organização provoca maior impacto, em termos sociais – pessoas - e ambientais - Natureza), o poder público, os sindicatos, o Terceiro Sector, a Imprensa, a comunidade académica e, é claro, os accionistas e/ou proprietários.
Assim sendo, se é inequívoco que a empresa tem que atender, acima de tudo, aos interesses dos seus shareholders , não podemos ignorar o facto das restantes partes terem uma importância crucial em todo o processo organizacional, dado o impacto que a actividade da organização pode exercer nelas e vice-versa. Logo, é legítimo que os stakeholders reivindiquem às empresas uma conduta adequada ao paradigma da RS mas, do mesmo modo, é legítimo que as empresas reivindiquem aos seus stakeholders o mesmo tipo de actuação.
Neste âmbito, é imperioso que cada um de nós se situe na perspectiva de um (ou mais) stakeholder e reflicta de que forma pode contribuir para a disseminação de comportamentos socialmente responsáveis, sendo que dessa disseminação muito depende a consciência e a conduta de cada um.
Mas, como actuar, caso a caso?
- Como funcionários, podemos agir com profissionalismo, responsabilidade e ética, não só defendendo essa conduta, mas praticando-a, servindo assim de exemplo aos restantes colaboradores da empresa.
- Como clientes, podemos assumir-nos como consumidores conscientes, dando preferência aos produtos e serviços cuja origem tem por base práticas socialmente responsáveis e consumindo de forma menos impulsiva e mais reflectida e sustentável.
- Como fornecedores, podemos contribuir para que a cadeia produtiva respeite os princípios da RS, começando pela sua base.
- Como concorrentes, podemos mostrar aos nossos “adversários” que a concorrência salutar é a forma mais benéfica, eficaz e sustentável para se obter competitividade e que as práticas de RS são um exemplo a seguir para quem busca uma posição competitiva e estável no mercado.
- Como membros do meio envolvente, podemos actuar como cidadãos conscientes dos nossos direitos, mas também dos nossos deveres, e como agentes protectores do meio ambiente (não só de forma reactiva, mas também, e sobretudo, de forma proactiva). Cidadania, civismo, ética e defesa do meio ambiente são, assim, comportamentos essenciais para que a comunidade local se possa assumir como um stakeholder eficaz no que diz respeito à RS.
- Como poder público (o que inclui os funcionários públicos), temos a obrigação de nos posicionarmos como entidades por onde os bons exemplos devem começar, na medida em que a natureza pública das funções implica uma maior responsabilidade perante o bem-estar da sociedade. Também aqui (e sobretudo aqui), os princípios de profissionalismo, responsabilidade e ética, que devem nortear a actividade dos funcionários privados, devem estar presentes no dia-a-dia dos funcionários públicos.
- Como sindicalistas, devemos zelar pelos interesses daqueles que representamos, mas de uma forma sustentável, isto é, buscando sempre um equilíbrio entre as partes envolvidas, pois isso é fundamental para a satisfação conjunta.
- Como integrantes de organizações do Terceiro Sector, na medida em que nos assumimos como entidades organizadas e representativas da sociedade civil e dada a natureza das causas defendidas, devemos dar o exemplo e agir de forma sustentável, transparente, ética e socialmente responsável.
- Como membros da Imprensa, devemos assumir a nossa responsabilidade de formadores privilegiados da opinião pública, informando a sociedade de um modo responsável e consciencializando os cidadãos relativamente à RS, actuando também de um modo construtivo, isto é, denunciar maus exemplos é necessário, mas publicitar bons exemplos, de forma isenta e fidedigna, também o é.
- Como académicos, enquanto agentes promotores da educação, temos o dever de desenvolver o debate em torno da RS, de divulgar essa temática junto do público com o qual interagimos e de a estudar e investigar com profundidade, de forma a tirar o maior partido dos seus benefícios.
- Por fim, como proprietários e/ou accionistas, temos a obrigação de zelar pelo bom funcionamento e pela sobrevivência da empresa, tendo por base uma conduta ética e os princípios da corporate governance .
É claro que na base de todas estas actividades cada stakeholder deve reger-se por princípios socialmente responsáveis, ao nível interno e externo, pois só a partir daí podem fazer disseminar esses princípios pelas organizações ou colectividades a que pertencem (sejam elas de cariz pessoal ou profissional).
Posto isto, veja em que tipo(s) de
stakeholder (
s ) se insere e faça a sua parte, pois só assim o ciclo da RS se completa de uma forma autêntica, dinâmica, construtiva, inclusiva e sustentável!
*Carla Marisa Magalhães (marisamagalhaes@clix.pt) é investigadora e consultora na área da Responsabilidade Social e doutoranda em Ciências Empresariais, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em parceria com a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.