Cátia Mateus, Fernanda Pedro
e Ruben Eiras
AS MULHERES dominam o ensino superior em Portugal. Entre
1991 e 2001, o crescimento de mulheres licenciadas foi de 198,9%, quase
o dobro do valor registado entre os homens licenciados (110,7%). A análise
é de Eugénio Rosa, economista, que baseou os seus cálculos
nos dados dos Censos do INE de 1991 e 2001. O resultado desta tendência
crescente é o predomínio do sexo feminino nas qualificações
superiores, com 55,4% do total desta categoria.
Além disso, as mulheres estão a tornar-se o sexo forte
nas áreas científica e tecnológica.
De acordo com aquela análise, no total da população
empregada, a marca feminina é maioritária nas ciências
físicas (66,2%), na matemática e estatística (73,3%),
na saúde (60,5%), e nas indústrias de transformação
e tratamento (53% dos licenciados desta área). Nas áreas
de administração de empresas e técnicas comerciais,
representam 53,8% dos licenciados.
Com efeito, na categoria profissional "especialistas das profissões
intelectuais e científicas" o peso das mulheres, entre 1996
e 2003 cresceu de 50,1% para 60,2%.
"Isto prova que em capacidades científicas e intelectuais
a importância das mulheres na sociedade portuguesa continua a
ser fundamental", refere Eugénio Rosa, autor do estudo.
Sónia Santos é um dos exemplos desta nova era feminina
da sociedade portuguesa. Engenheira química, explica que escolheu
o curso por vocação. Desde miúda que a fascinava
a imagem do cientista entre compostos químicos e experiências,
pelo que a opção não foi difícil.
Hoje, com 27 anos, lidera o departamento de controlo de qualidade numa
indústria química ligada ao fabrico de plásticos.
"A meu cargo tenho não só o controlo de qualidade
de toda a linha de produção, como também a responsabilidade
de tratar da aquisição de todos os componentes essenciais
ao processo produtivo", explica.
Facto curioso é que na empresa é a única mulher
com funções de chefia. Trabalha entre homens e não
considera que isso seja problema.
Explica que esse factor não lhe dificultou a entrada no mercado
de trabalho e embora esclareça que "na engenharia química
até nem há muito essa divisão entre homens e mulheres
ou a conotação de se tratar de uma população
masculina", entre risos, lá vai assumindo que o pior
foi mesmo ganhar o respeito dos seus colegas de trabalho por ser a mais
nova e a única mulher líder na empresa.
Uma situação que para Sónia Santos deve ser comum
a muitas jovens profissionais. "Nos últimos anos a presença
feminina nas universidades cresceu brutalmente e com isso processou-se
uma necessária mudança no panorama laboral",
explica.
Para a jovem, há hoje muito mais mulheres em cargos de chefia
e "a tendência penso que será aumentarem".
Habituada a trabalhar no meio masculino, a engenheira acredita que o
mercado laboral não se compadece com sexismos, mas sim com competência
pois é o que conduz à produtividade e competitividade
das empresas.
Uma opinião partilhada por Paula Rita, uma engenheira civil de
35 anos. Apesar de reconhecer não ser muito comum encontrarem-se
mulheres na direcção de obras, ela já o fez e nunca
sentiu qualquer discriminação por esse facto.
"Os profissionais do meio acreditam em nós se eles se
aperceberem que estão perante alguém que lhes inspire
confiança do ponto de vista técnico, quer seja homem ou
mulher", explica.
Foi a sua vocação e interesse por tudo o que tem a ver
com edifícios que a levou até à engenharia civil.
Mesmo antes de terminar o curso, Paula Rita recebeu vários convites
para trabalhar, "Não me posso queixar da dificuldade
de entrada no mundo laboral e nunca senti qualquer obstáculo
por ser mulher, mesmo num meio tradicionalmente dominado por homens".
Nem mesmo esse facto impediu que Paula Rita tenha atingido cargos de
chefia no percurso da sua carreira, como por exemplo, responsável
pela área técnica de uma empresa que produzia material
de construção, responsável pela exportação
de membranas betuminosas, fiscalização de empreendimentos
ferroviários, directora de produção de uma unidade
fabril onde chefiava uma equipa de 17 homens, quase todos bastante mais
velhos.
Actualmente, além de integrar a equipa de gestão da intervenção
Polis em Setúbal, aventurou-se num negócio próprio
na área da arquitectura e "design" de interiores.
Paula Rita entende que as mulheres têm um papel fundamental no
futuro do país e que devem participar activamente no seu desenvolvimento
em igualdade de circunstâncias com os homens, "demonstrando,
acima de tudo, que as suas capacidades profissionais são igualmente
válidas".
Igualdades por conquistar
EMBORA o crescimento da escolaridade e da qualificação
das mulheres portuguesas tenha alcançado níveis sem precedentes
na década de 90 do século passado, as posições
de gestão de topo e de chefia ainda são dominadas pelos
homens.
De acordo com dados do INE, analisados por Eugénio Rosa, na categoria
profissional "dirigentes e de quadros superiores da administração
pública e das empresas", o seu peso que já era reduzido
em 1996, o sexo feminino representava cerca de 33% do total de profissionais
daquele segmento laboral. Em 2003, o valor diminuiu para 32,5% do total.
A nível salarial também existe uma batalha a ser ganha
para a igualdade entre os sexos.
Segundo dados do estudo "Qualificações dos Trabalhadores
Portugueses", publicado pelo Ministério da Segurança
Social e do Trabalho, entre 1991 e 2000, o salário dos homens
aumentou, em média, 60%, enquanto o das mulheres não foi
além dos 40%.
Por sua vez, de acordo com dados do Departamento de Estatística
do Emprego e Formação Profissional, o salário dos
homens atinge quase os 700 euros. Contudo, o das mulheres ultrapassa
ligeiramente os 500 euros.