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Um negócio com arte

02.07.2004


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Cátia Mateus

A SUA FORMAÇÃO académica passa longe das artes, mas na altura da decisão Carla Alvarenga não hesitou em deixar a informática de lado para se dedicar em exclusivo ao mundo artístico. O emprego numa multinacional americana ligada às tecnologias de informação ficou para trás e a empreendedora deu corpo à sua eterna paixão: a arte.


Há três anos decidiu dedicar-se em exclusivo à concepção do projecto empresarial que abriu caminho à criação da BelourArte Gallery. Sem pudores, confessa-se uma profissional realizada mas não nega que "não é fácil lançar uma galeria de arte em Portugal".

Os últimos anos foram de crise económica no país. E se por si só apostar na arte já é um risco, em conjunturas menos benéficas é preciso uma boa dose de coragem e acreditar muito no projecto onde vai investir. Requisitos que não faltaram a Carla Alvarenga.

Depois de vários anos de formação - divididos entre os Estados Unidos da América e Portugal - e uma experiência profissional centrada nas novas tecnológicas, a empreendedora resolveu não deixar por terra o talento artístico que desenvolveu de forma autodidacta.

Abandonou o seu trabalho e tirou dois anos para se dedicar à família, aperfeiçoar a sua técnica artística e estruturar o negócio. O ano de 2003 marcou a entrada em actividade da galeria BelourArte.

Para trás ficavam 75 mil euros de investimento e a empreendedora confessa nunca ter duvidado das potencialidades do seu projecto já que, como refere, "temos um mercado aberto para os apreciadores e para todos aqueles que gostam de investir em arte".

A empresária Carla Alvarenga define a sua galeria como "um espaço de encontro aberto aos nomes mais conceituados das Artes Plásticas nacionais e estrangeiras, com particular vocação para apresentar novos valores da comunidade artística".

A concepção do projecto resultou da experiência acumulada pela empreendedora ao longo das suas inúmeras viagens que sempre aproveitou para descobrir novos conceitos de museus e galerias de arte.

Encarando as obras de arte como um investimento alternativo - "num país que tem alguns artistas contemporâneos com boa valorização em termos de mercado" - Carla Alvarenga não nega contudo que quem decide apostar nesta área terá de se preparar para enfrentar algumas dificuldades.

Criada há menos de um ano, a empresa que lidera ainda não recuperou a totalidade do investimento - o que deverá até ao final do ano - mas "reúne já uma vasta carteira de clientes que tem conseguido fidelizar".

Contudo, apesar de encarar a criação da BelouArte como "uma aposta muito ponderada e bem sucedida", a empreendedora lamenta as dificuldades de lançar no mercado uma galeria de arte.

"Por maior que seja a qualidade do projecto e do trabalho desenvolvido, há obstáculos muito difíceis de ultrapassar nomeadamente ao nível da divulgação junto do público", explica.

A empresária adianta que "os órgãos que divulgam iniciativas ligadas à arte continuam presos às acções desenvolvidas por espaços já conceituados, dando pouca oportunidade a novas galerias".

Uma realidade que não desmotivou a empreendedora para quem a grande meta quotidiana é "fazer da BelourArte um espaço de referência enquanto galeria de arte, na área da grande Lisboa".

Ainda em fase de conquista de mercado, o projecto de Carla Alvarenga foi gerado sem recurso a qualquer subsídio e empresa, a título permanente, duas pessoas. A empreendedora não prevê a diversificação da actividade para outras áreas, nem a entrada de novos parceiros para o projecto. Ainda assim, não fecha as portas a parcerias ao nível do desenvolvimento de acções e organização de eventos ligados à cultura.

Coragem, persistência e a lucidez necessária para saber tomar as decisões certas no momento exacto são os lemas quotidianos de uma empresária que reconhece as dificuldades que se impõem no dia-a-dia de uma micro-empresa em Portugal.

BI EMPRESARIAL

Empresa: BelourArte Gallery
Localidade: Quinta da Beloura, Linhó, Sintra
Área de actividade: Organização de exposições
e mostras artísticas ao nível das artes plásticas nacionais e estrangeiras
Ano de Criação: 2003
Fundadora: Carla Alvarenga
Idade da fundadora: 38 anos
Formação académica: Licenciada em Informática, carreira que abandonou para se dedicar em exclusivo à arte
Investimento inicial: Cerca de 75 mil euros
Postos de trabalho criados: dois em regime permanente





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