Super Recrutadores
Há empresas que não se rendem ao fatalismo e à adversidade e contrariam a crise com iniciativa e muito trabalho para desbravar novos caminhos e oportunidades. Portugal tem desemprego, mas também tem empresas que se destacam no atual cenário económico pelo seu investimento na contratação. O país tem super recrutadores, não só pelo número de empregos criados mas pela atitude determinada com que fazem a diferença, num país que teima em ser notícia pelas piores razões.
23.11.2012 | Por Cátia Mateus
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Teleperformance, Deloitte, Olisipo, Armatis e Novabase vão fechar 2012 com um saldo de 2754 novos empregos criados em Portugal. Oportunidades de trabalho consolidadas no país que tem sido notícia pelas suas elevadas taxas de desemprego, mas que mostra que há organizações que batalham para construir, internamente, um sistema de imunidade à crise, sustentado num investimento contínuo em equipas motivadas, empreendedoras, qualificadas, pluridisciplinares e com forte sentido corporativo.
“Em alturas de adversidade e pressão, as empresas procuram sobretudo candidatos que evidenciem solidez e maturidade emocional, resiliência, visão estratégica, capacidade de trabalhar com autonomia e bons níveis de criatividade e inovação”, explica Carlos Sezões, partner da empresa de executive search Stanton Chase International. A estas competências o especialista acrescenta a importância de trabalhar em equipa e a capacidade de influência e networking “quer permite ligar a estratégia à execução” e uma formação universitária de bases muito sólidas que deverá ser incrementada com novas competências técnicas ou comportamentais, sempre adaptadas à exigência das funções.
É neste perfil que estão de olho os cinco super recrutadores nacionais, mas também todos os outros que continuam a gerar oportunidades de trabalho e carreira em Portugal (ver caixa “Onde param as oportunidades”). José Serra, CEO da Olisipo, confirma-o. Na empresa de formação e consultoria entraram este ano 100 novos colaboradores e mais ainda devem entrar antes do final do ano. “Estamos a arrancar agora com um programa de recrutamento para um cliente internacional, para o qual procuramos especialistas experientes em várias áreas das TI e que dominem bem o francês”, adianta José Serra explicando que o processo poderá abranger algumas dezenas de colaboradores ao longo do próximo ano.
Mas a nível interno, a Olisipo também estabelece metas para 2013: “neste momento temos 430 colaboradores e se tudo correr bem, prevemos atingir os 500 no próximo ano”. A empresa recruta na área das TI e procura sobretudo administradores de sistemas (Microsoft, Linux e SAP), técnicos de telecomunicações e consultores SAP (ABAP e funcionais). Universidade do Minho, ICTE, Instituto Superior Técnico e Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, são os principais fornecedores de quadros para a tecnológica que não fecha, contudo, as portas a profissionais formados noutras universidades. Até porque, José Serra procura sobretudo “profissionais com vontade de crescer”.
Pelas mãos da tecnológica nacional Novabase mais de 400 portugueses conseguiram este ano um emprego. A empresa acaba de integrar na sua equipa, através da Novabase Academy, 192 jovens recém-diplomados, mas além destes a tecnológica recrutou também perfis mais experientes. Célia Vieira, administradora da empresa, confirma que existem processos de recrutamento a decorrer em permanência e que a organização mantém o objetivo de continuar a investir no recrutamento e formação de jovens recém-diplomados e outros profissionais, em 2013. Célia Vieira não fala em números, mas adianta que para além das competências técnicas, a Novabase valoriza acima de tudo a atitude.
Uma competência que também é determinante para quem quer integrar a equipa da consultora Deloitte. A empresa entra em 2013 com uma herança de 300 novos quadros integrados este ano nas áreas de Audit, Tax, Consulting, Corporate Finance e BPAS, reforçando os escritórios da empresa em Lisboa, no Porto e também em Angola, onde a Deloitte colocou só este ano 45 novos colaboradores. Números que, segundo Gonçalo Simões, partner da consultora, “decorrem do crescimento esperado e da natural exposição dos nossos profissionais ao mercado, e que contribuem para aumentar a rede de talentos da Deloitte em Portugal que já conta com 1800 profissionais, e no mundo, onde somos mais de 200 mil em 150 países”.
A consultora tem neste momento a decorrer o programa de recrutamento de novos analistas e estima que no próximo ano abra as suas portas a 200 novos profissionais que integrarão os escritório de Lisboa e Porto. As principais apostas ne recrutamento vão para as áreas de auditoria, consultoria fiscal, corporate finance, business process and application solutions, mas Gonçalo Simões confirma “uma tendência de aumento consistente na área de Technology Information”.Captar talento de forma contínua é a missão da empresa para 2013 e são várias as áreas onde surgirão oportunidades. “O perfil de base que procuramos são recém-licenciados ou mestrandos com disponibilidade para integração a full-time. Recrutamos formados das áreas preferenciais da gestão, economia, finanças, direito e engenharias”, explica Gonçalo Simões, acrescentando que “no caso dos candidatos com experiência consolidada, o perfil procurado depende diretamente das necessidades do mercado e dos projetos que irão integrar, sendo heterogéneas as competências que procuramos”.
E numa altura em que contacto com o cliente é considerado estratégico, a Teleperformance espanta pelos resultados. Sozinha, criou em território nacional 1579 novos empregos e antes de 2012 chegar ao fim deverá ainda recrutar 195 colaboradores para a área de Customer Service Representative e 30 para as áreas de suporte. João Cardoso, CEO da Teleperformance Portugal, congratula-se com o facto de liderar uma das empresas que criou maior número de postos de trabalho num país em crise e adianta que para 2013, a perspetiva é um recrutamento na mesma dimensão. João Cardoso tem atualmente em marcha o recrutamento para uma equipa de gestores de cliente com fluência nativa em italiano, francês, alemão, holandês e, naturalmente, português. O líder da Teleperformance, justifica este investimento em novas contratações com a dinâmica de crescimento que a indústria de customer experience management e business process outsourcing está a registar e que ronda os 8%, apesar do ciclo económico negativo. Em 2013, a empresa prevê recrutar para a área comercial e de marketing, mas tem também na mira profissionais com formação em estatística, matemática, investigação operacional e engenharias (produção industrial, física, informática, química, mecânica e eletrotécnica) para desenvolvimento de carreira nas áreas de planeamento, gestão de tráfego e gestão e dá preferência “a candidatos com MBA”, enfatiza João Cardoso. No momento, a Teleperformance procura ativamente “supervisores de Contact Center com muita experiência para projetos portugueses e também para projetos em língua estrangeira como francês, italiano, alemão e holandês, casos em que deverão dominar o idioma com total fluência”.
Pronta para investir no mercado nacional está também a multinacional francesa Armatis que vai inaugurar em fevereiro o seu primeiro contact center, no Porto. A empresa que conta com 14 escritórios em França, escolheu Portugal para ampliar o seu mapa de expansão e vai juntar o novo escritório do Porto aos que já detém na Polónia e na Tunísia. Nos dois pisos que arrendou na baixa da cidade Invicta, prevê a criação de 200 postos de trabalho, mas para já avançou com um processo de recrutamento de 150 colaboradores, na fase inicial de arranque do projeto. Supervisores, formadores e responsáveis de produção são os perfis prioritários para a multinacional numa primeira fase, mas uma vez em pleno funcionamento, o contact center poderá criar novas oportunidades, sempre resultantes de um investimento estratégico.
Uma opção que segundo Carlos Sezões é comum a todas as empresas. “Numa conjuntura económica marcada pela contenção e pelo rigor, as Ooganizações têm-se tornado muito mais exigentes e selectivas nos seus investimentos em capital humano, orientando-os, internamente, para a mobilização, desenvolvimento e retenção dos seus actuais talentos e, externamente, para a atracção cirúrgica de líderes com elevada capacidade transformacional”, explica o partner da Stanton Chase que, em pleno ano de desemprego registou um crecimento de 54% na sua faturação, demonstrando a importância crescente que as empresas atribuem a recrutar cirurgicamente as pessoas certas.
Nunca tanto com agora, foi necessário às empresas minimizar o risco de recrutar os talentos errados para as suas equipas. “As empresas que valorizam o seu capital humano como factor crítico de sucesso estão dispostas, cada vez mais, a oferecer desafios, experiências enriquecedoras e possibilidades de desenvolvimento de carreira, ambientes de trabalho saudáveis, potenciadores de partilha do conhecimento e de um bom equilibrio pessoal e profissional”, explica. Mas para que um candidato consiga alcançar tudo isto, é necessário que se destaque pelo talento e competência e consiga passar o rigoroso crivo dos processos de recrutamento e seleção que são cada vez mais rigorosos.
Carlos Sezões não tem dúvidas de que “em Portugal, a crise no emprego não é igual de modo transversal a toda a economia”, mas a exigência e o crivo de seleção são crescentes em todos os sectores. “Perfis sólidos em áreas comerciais, tecnologias de informação, logística e engenharias orientadas para ambientes industriais e de produção continuam a ser bastante requisitados”, diz o especialista mas “em termos empresariais, são as entidades que apostam na internacionalização dos seus produtos e serviços que têm maiores possibilidades de crescimento e de continuar a recrutar”.
Onde param as oportunidades
Microsoft
Tem com regularidade processos de recrutamento a decorrer. O maior investimento nas contratações vai para as áreas tecnológicas, mas também vendas e marketing digital.
IBM
A tecnológica aposta sobretudo no reforço da sua equipa para as áreas das vendas e tecnologias. Entre os perfis que mais procura estão a Gestão TI e Economia.
Portugal Telecom
Tem programa de recrutamento a decorrer em permanência, para várias funções, mas também aposta forte na integração de recém-licenciados, em estágios profissionais. Integrou este ano 100 jovens profissionais. Matemática e engenharias, são as áreas de maior recrutamento.
Vodafone
Contratou este ano 120 novos colaboradores para o novo centro de monitorização de redes – Vodafone Atlantic NOC – instalado em Portugal. Abre regularmente vagas para perfis ligados à engenharia, tecnologias, marketing e finanças.
Rumos
Contratou este ano 100 novos quadros e prevê continuar a investir no aumento da equipa em 2013. As vagas geradas são sobretudo na área das tecnologias de informação.
TIMWE
A tecnológica portuguesa vende para todo o mundo aplicações para telemóveis e parece estar imune à crise. Tem 400 quadros, 33 entraram este ano e quer continuar a recrutar perfis das TI.
Mind Source
Foi eleita a segunda melhor empresa portuguesa para trabalhar e integrou este anos nos seus quadros 40 novos colaboradores. A tendência deverá manter-se em 2013, com a contratação de novos consultores.
Gatewit
Além dos 20 estagiários que acolheu este ano, a tecnológica recebeu cerca de 50 novos colaboradores, reforçando assim o seu centro de competências inaugurado em maio.
ATOS
Vai fechar 2012 com uma contabilização de 110 novos colaboradores, mas o recrutamento continua. A tecnológica quer atrair talentos das TI com “formação adequada, conhecimento de línguas, profissionalismo e vontade de vencer”, diz João Lopes, líder da empresa.
Logica
Integrou este ano 100 novos profissionais e deverá manter a tendência em 2013. Procura especialistas em tecnologias de informação, mas também engenheiros, gestores e economistas.
Portucel
Está decida a duplicar, já a partir de janeiro o seu número de vagas para estágios profissionais. Há cinquenta oportunidades em áreas como o Direito, Gestão, Economia, Marketing, Engenharia Florestal, Química, Mecânica ou Eletrotécnica.
Centro de Excelência e Inovação da Indústria Aeronáutica
Vai investir cerca de 30 milhões de euros na construção do novo Centro de Engenharia Aeronáutica e quer contratar, em 2013, 200 novos profissionais para a sua estrutura. 180 serão engenheiros ligados à indústria aeronáutica e tecnologias.
MELOM
Está à procura de 100 agentes para integrarem a sua equipa. Entre os perfis preferenciais estão arquitetos, engenheiros e profissionais técnicos de várias especialidades ligadas à construção.
GALP
Recruta sobretudo através de programas de estágio, integrado uma média de 50 recém-licenciados por ano em área diversas. A engenharia de produção e de reservatórios para exploração de petróleos é a prioridade do momento.
Vivafit
Está decidida em cimentar a sua expansão pelo mundo no seu país de origem: Portugal. A marca de ginásios tem contratado portugueses para liderar as novas unidades que inaugura noutros países. Índia e Singapura têm vagas para preencher.
IKEA
Tem como meta contratar até 2014 cerca de 300 novos colaboradores. Há vagas para operadores de loja, recursos humanos, apoio ao cliente, designers e decoradores.
Multiópticas
Quer lançar 42 unidades novas unidades até 2015 e está a contratar para dar resposta a esta expansão. Procura sobretudo optometristas.
OptiHome
A marca de imobiliário francesa está implantar-se em Portugal e quer recrutar 100 agentes para representar a marca.
Ernst & Young
Recrutou recentemente 90 recém-licenciados para a área da consultoria e deverá continuar a aumentar a equipa em 2013.
KPMG
Deverá fechar 2012 com cerca de 100 novas contratações. Um reforço justificado com a expansão da atividade para países como Angola. Em 2013 deverá continuar a recrutar na mesma dimensão.
TAP
Deverá recrutar até dezembro 40 técnicos de manutenção, uma das áreas que gera maior número de contratações da transportadora.
BNP Paribas Securities Services
Manteve em 2012 um recrutamento ativo e tem ainda cerca de 30 a 40 vagas para preencher até final do ano. Uma estatística que a empresa prevê manter no próximo ano.
Multifood
Além das 30 novas contratações que Tem a decorrer, perspetiva o arranque de um forte programa de recrutamento já em janeiro para as áreas de gestão de lojas e atendimento.
Bayer
Procura especialistas em cardiologia, oncologia e oftalmologia para dar resposta ao lançamento de novos produtos no mercado.
Sectores que dão trabalho
Tecnologias de informação, setores exportadores, engenharia (até a civil para funções internacionais), financeiro e alguns nichos de mercado estão a contrariar o desemprego nacional e a gerar trabalho a quem se qualifica nestas áreas.
A engenharia aparece logo à cabeça na lista das opções seguras, sobretudo nos ramos específicos ligados aos setores emergentes: tecnologias de informação e comunicação, energias renováveis, biotecnologia e biomedicina. Na engenharia civil as oportunidades são sobretudo para o estrangeiro, em países como o Brasil, Moçambique ou Angola, ainda que os especialistas portugueses em TI ou energias renováveis registem forte procura por parte de empresas estrangeiras.
Igualmente dinâmicos na criação de emprego estão os setores exportadores, por exemplo o vinícola. É comum encontrar ofertas apara gestores de exportações, diretores de mercados internacionais ou de expansão. O online e ecommerce fazem também movimentar o mercado numa altura em que, em qualquer sector, o marketing e as vendas online são cada vez mais estratégicos para os resultados das empresas. A par com este nicho de mercado, está também a aumentar a procura por especialistas em segurança informática.
E como em qualquer país em crise, também em Portugal as empresas estão atentas aos especialistas em fiscalidade, finanças e economia. Aumentou a procura destes profissionais e até já merecem destaque os controladores de créditos e cobranças, cada vez mais procurados, e os especialistas na cobrança de dívidas.
Dizem os especialistas que, apesar da crescente polémica que envolve as contratações de médicos e enfermeiros, o sector da saúde será sempre privilegiado em matéria de emprego. Sobretudo num país com um envelhecimento crescente da população. Mas, independentemente do sector, há caraterísticas determinantes para quem procura emprego na atual conjuntura. As empresas privilegiam profissionais criativos, empreendedores, determinados e dedicados, motivados e com apetências para a liderança e trabalho em equipa, resistência à pressão e forte orientação para a mobilidade.
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