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Sabe falar chinês?

Falar mandarim ou espanhol é já um trunfo no mercado de trabalho. As escolas de idiomas têm cada vez mais procura
12.05.2006


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Cátia Mateus e Marisa Antunes
JÁ LÁ vai o tempo em que saber falar inglês ou francês fluentemente bastava para fazer um brilharete na empresa. A globalização e a emergência de novos mercados começaram a ditar outras exigências linguísticas aos profissionais da geração XXI, que hoje vão além do idioma de Shakespeare. São muitas as empresas que no momento do recrutamento já exigem outros «trunfos» línguisticos. E são, também, cada vez mais os profissionais que decidiram apostar por antecipação no enriquecimento dos seus currículos e aprender, por sua conta e risco, idiomas até agora pouco convencionais nas escolas portuguesas.


«O inglês continua essencial, mas o francês tem perdido para o castelhano, o russo começa a evidenciar-se cada vez mais e é indiscutível que o mandarim ainda não é um requisito exigido aos executivos, mas está a ganhar cada vez mais terreno», resumiu Rafael Mora, director da Heiddrick & Struggles.

Margarida Alberty, que dá o nome à escola de línguas Margarida's School, no Estoril onde se leccionam 13 idiomas diferentes, com 27 professores e uma rotatividade de 600 alunos por ano, confirma esta tendência: «principalmente o castelhano está a ter cada vez mais procura por parte não só das empresas mas dos estudantes que já perceberam que é uma mais-valia no seu currículo quando mais tarde ingressarem na vida activa, além daqueles que pretendem tirar o curso de medicina em Espanha».

João Marques é um dos alunos de castelhano, nesta escola. Trabalha na multinacional Kellogg's e à semelhança de outros colegas, está há ano e meio a aprender o idioma, por incentivo da própria empresa. «As pessoas têm a ideia que falar ou perceber o castelhano é fácil mas as coisas não são bem assim. Nós lidamos com os espanhóis no nosso dia-a-dia e por isso precisamos mesmo aprofundar o idioma», conta o executivo.

Parceiro de turma de João Marques no ensino do hispânico, Manuel Mello Breyner está ligado ao desporto automóvel e desloca-se a Espanha pelo menos uma vez por mês. «Tenho de saber bem o idioma por causa da assinatura dos contratos mas também devido aos todos os outros contactos, com a organização, mecânicos, etc», contou. Na escola de Margarida Alberty o ensino é personalizado e as turmas são sempre reduzidas para que os alunos possam tirar o maior partido da aprendizagem que segue um método criado pela própria directora, licenciada em Filologia Germânica e fluente em sete línguas.

Há dois meses, para responder a vários pedidos, Margarida resolveu incluir no leque de opções linguísticas, o ensino do mandarim leccionado pela professora Zhu Fengxin. «O mandarim é o futuro. As pessoas que vão à China com frequência para concretizar negócios sentem-se enganadas se não falarem a língua, por isso sentem mesmo necessidade de aprender o idioma», explica a responsável da escola, que tem seis professores a deslocarem-se às empresas ou às embaixadas para darem as aulas.

Também no Porto, os alunos já descobriram as potencialidades das línguas alternativas. A Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) tem uma oferta de 15 idiomas que abrangem o árabe, chinês, japonês, polaco, romeno, entre outros idiomas. Entre os mais procurados estão, segundo Marta Craveiro, porta-voz do Gabinete de Formação e Educação Contínua da FLUP, «o mandarim e o árabe».

A responsável explica que «os alunos destes cursos não têm um perfil único já que podem inscrever-se todos os interessados, a partir dos 16 anos». Todavia, Marta Craveiro reconhece que a preocupação das empresas em formar os seus quadros em línguas alternativas, é crescente. «No ano transacto houve duas empresas que contactaram o GFEC mostrando interesse em que os seus colaboradores frequentassem o curso de chinês», explica.

Mas na verdade, o encanto do mandarim parece ir além da utilidade prática desta língua. Marlene Oliveira Macedo, rendeu-se aos encantos deste idioma. Licenciada em Relações Internacionais, a jovem portuense de 30 anos acumula no currículo a aprendizagem de várias línguas. Aos tradicionais idiomas inglês, francês e alemão juntou o italiano, o neerlandês e, agora, o mandarim. Confessa que sempre teve interesse em aprender línguas novas e que «o mandarim constitui um desafio, quer pela dificuldade, quer por achar que a curto/médio prazo a aprendizagem deste idioma pode resultar numa oportunidade em termos profissionais».

A jovem que integra o Gabinete do Portugal Fashion, na Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), tem uma actividade profissional ligada aos têxteis e preferiu não encarar a China como uma ameaça, mas antes como uma oportunidade de expansão para a qual já começou a preparar-se.

Desde Outubro que frequenta as aulas de mandarim e sabe que precisará, «na melhor das hipóteses, de três a quatro anos até começar a dominar o idioma. Isto com muito empenho pessoal e muito trabalho de casa», esclarece. Ainda assim, esta curta aprendizagem já lhe permitiu alguma notoriedade numa recente visita ao país. «Foi logo no início do curso, mas já sabia dizer bom-dia e obrigado, mas este acto de vontade foi bem interpretado pelos locais», relembra.

A jovem profissional é da opinião que «o simples acto de tentarmos falar a língua do país onde estamos é muito positivo num relacionamento comercial já que simboliza uma tentativa de entendimento e há alguns povos que dão muito valor a isso». Para lá do gosto pessoal que tem em aprender esta língua, Marlene espera poder aplicar o mandarim, «quem sabe ajudando as empresas nacionais a estabelecer relacionamentos negocial com a China».

É esta vantagem competitiva em termos profissionais que leva muitos alunos à Associação Centro de Cursos Livres (CCL), sedeada no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa (ISCTE). «O centro tem, neste momento, cerca de 3000 alunos que procuram, essencialmente, aprender idiomas como árabe, japonês, mandarim e russo», explica Ana Jaleco, do departamento de comunicação do CCL.

A responsável explica que este interesse pelas línguas alternativas se tornou maior nos últimos dois anos e acrescenta que «a aprendizagem destes idiomas poderá constituir uma ferramenta preciosa em termos de mobilidade profissional nos vários países da UE, particularmente no actual contexto de criação do passaporte de línguas EUROPASS». A curiosidade, a profissão e as questões pessoais lideram as razões que levam à aprendizagem destes idiomas.





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