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Qualificados lideram emigração

18.07.2003


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Fernanda Pedro

Mais de 50% da nova vaga de emigração portuguesa possui qualificação de nível secundário e superior






Perfil do emigrante português em estudo



EM 2002, 53% dos portugueses que saíram de Portugal em busca de novas oportunidade de trabalho, partiram com carácter permanente (por um período superior a um ano) e 63% destes pertencem a camadas mais jovens da população.

Estes números correspondem ao Inquérito aos Movimentos Migratórios de Saída realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), relativamente ao ano transacto.

Ainda de acordo com este inquérito, os graus de instrução destes portugueses revelam que a população que emigrou de forma permanente apresenta níveis de ensino superiores em comparação aos que saíram de forma temporária.

No geral, 52,3% dos portugueses que emigraram possuem o grau de instrução ao nível do 3º ciclo, secundário e superior, contra 47,7% dos que têm apenas o ensino básico (1º ciclo) ou nenhum grau de instrução.

Estes números mostram que os portugueses continuam a procurar fora do país melhores condições laborais e hoje, ao contrário das vagas emigratórias dos anos 60, apresentam mais habilitações e competências profissionais. Cerca de 27 mil foi o total dos emigrantes portugueses em 2002.

Para José de Almeida Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portugueses, estas saídas são uma consequência da conjuntura económica que se vive em Portugal. "O aumento do desemprego em Portugal faz subir consequentemente a emigração", reconhece o secretário de Estado.

Os países de destino dos novos emigrantes continuam a ser os mesmos dos seus antecessores. A Suíça lidera com 30,3% da preferência da emigração, seguindo-se a França com 21,8%. A novidade é a passagem da Espanha para o terceiro lugar, obtendo 10,7% da preferência de muitos portugueses.

Só estes três países acolheram 63% da emigração total portuguesa em 2002. O Reino Unido recebeu 6,8% dos nossos emigrantes e, segundo os dados revelados pelo INE, regista-se a perda de importância da Alemanha e do Luxemburgo.

De acordo com aquele governante, uma das surpresas deste inquérito do INE diz respeito ao destino gaulês: "Não pensei que este fosse ainda um dos destinos preferidos dos portugueses, porque é um país onde também o desemprego está a aumentar".

Adelino Rodrigues, presidente da Associação de Reencontro dos Emigrantes (ARE), também concorda que estes números revelam o agravamento económico do nosso país. "Se os portugueses não encontram trabalho no país, procuram-no no estrangeiro", observa.

Mas aquele responsável salienta que os desempregados não são os únicos a partirem à conquista de um posto de trabalho fora de Portugal. "Os portugueses com emprego saem muitas vezes em busca de melhores condições laborais e salariais", sublinha.

O presidente da ARE também tem consciência que os actuais emigrantes portugueses já não possuem as mesmas habilitações nem as competências profissionais dos seus antepassados: "Muitos deles já são licenciados e os baixos salários que se praticam em Portugal obrigam estes profissionais a procurarem outros incentivos fora do país".

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas corrobora esta perspectiva. "Até os nossos investigadores emigram, o que é uma pena! Mas é incontornável esta vaga migratória, já que em Portugal eles não têm estruturas de trabalho. Fazemos pouca investigação e por isso perdemos muita 'massa cinzenta'. Mas penso que um dia muitos destes profissionais irão voltar com mais-valias para o país", assegura aquele responsável.

Apesar disso, José de Almeida Cesário considera a mobilidade das pessoas a nível global como sendo natural e positiva. Para este governante, muitos dos jovens que emigram saem ainda em busca de uma aventura. Contudo, salienta que as razões da emigração na faixa etária entre os 40 e 50 anos residem nas "necessidades económicas".

Para o presidente da ARE, se Portugal oferecesse melhores condições de trabalho aos seus cidadãos, reteria muitos dos seus profissionais qualificados.

Em 2001, os jovens até aos 29 anos registavam uma saída na ordem dos 50%. No ano passado, este valor disparou para 63%. Os números falam por si.




Perfil do emigrante português em estudo

JOSÉ de Almeida Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas está disposto a saber quais os problemas sociais e laborais com que os portugueses se debatem em todos os países que os acolhem.

Nesse sentido, está a realizar um levantamento dessas dificuldades para apresentar um "retrato" do trabalhador emigrante português numa conferência a realizar até ao final deste ano.

Vítor Gil, conselheiro social na embaixada portuguesa em França está neste momento a proceder a esse levantamento junto dos emigrantes radicados em terras francesas.

De acordo com Vítor Gil, uma das principais preocupações dos portugueses emigrados, diz respeito às pensões. "Temos cerca de 60 mil pessoas com mais de 65 anos de que trabalharam em França descontaram para a segurança social francesa e nunca reivindicaram as pensões a que têm direito", explica o responsável.

Outro dos problemas relevantes para a comunidade portuguesa é a não inclusão do ensino do português no sistema escolar francês.

Vítor Gil salienta ainda o facto de o governo português estar muito atento ao trabalho temporário que muitos portugueses realizam em França, principalmente na época das vindimas, onde por vezes se verifica a exploração desses trabalhadores.

No Luxemburgo, o cônsul Miguel Faria de Carvalho também refere o ensino do português como um dos problemas a solucionar neste país.

Quanto às pensões, o cônsul português salienta que não é uma das dificuldades dos emigrantes, bem pelo contrário, "são beneficiários de uma segurança social das mais generosas da Europa, senão do mundo. O mais difícil, é a articulação com os serviços públicos em Portugal".

Quanto à queda do Luxemburgo na lista dos principais países de destino dos portugueses, Miguel Faria de Carvalho explica que dada a pequena dimensão daquele país, a capacidade de absorção de emigrantes é limitada. "Os portugueses só escolhem este país quando encontram condições para permanecer", frisa.






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