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Proibido fumar

A lei antitabaco vai obrigar as empresas a tomarem medidas para salvaguardar os fumadores passivos
19.04.2007


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Marisa Antunes e Maribela Freitas
Em cada dia que passa morrem quatro fumadores passivos em Portugal. A nível comunitário, o número sobe para 216 pessoas que, apesar de não fumarem, acabam por perder a vida diariamente devido ao fumo alheio que lhes provoca cancro no pulmão, enfarte ou doença isquémica cardíaca, segundo o relatório europeu ‘Lifting the smokescreen'. Apesar de ter levado algumas décadas e uma mão-cheia de estudos e estatísticas a comprovar que existe uma correlação entre as doenças mortais e o fumo passivo, os não-fumadores começam agora a ver reconhecidos os seus direitos um pouco por todo o mundo.


Pressionados pela Comissão Europeia, também as autoridades portuguesas começaram a encarar seriamente a questão. A proposta de lei antitabaco apresentada recentemente pelo ministro da Saúde, Correia de Campos, vai ser discutida na generalidade pela Assembleia da República e já muitos vaticinam que será tomada uma decisão a curto prazo, tendo em conta que Portugal vai assumir a presidência da União Europeia no segundo semestre deste ano. Entre várias outras medidas, esta proposta prevê a proibição de fumar nos locais de trabalho. Para os prevaricadores, a lei prevê multas entre os 50 e 1000 euros.

Antecipando a lei, algumas empresas nacionais e multinacionais tomaram medidas para uma transição mais suave. Num programa de desabituação tabágica orientado pela farmacêutica GlaxoSmithKline inscreveram-se, no espaço de nove meses, 20 organizações empresariais, onde se contam por exemplo, a RTP, Xerox, a Edifer ou a Prosegur, segundo informação institucional da farmacêutica. Para aumentar a produtividade e reduzir o absentismo — em média, os fumadores perdem seis dias de trabalho por ano, segundo o estudo americano ‘Business costs in smoke-filled environment' — a empresa propõe acções de sensibilização para a implementação de uma política sem fumo e o acesso a terapia.

A Câmara Municipal de Mafra aderiu também a este programa desde o início do ano. Os cinzeiros converteram-se em floreiras, os fumadores só alimentam o vício no exterior do edifício e quem quiser libertar-se de vez da nicotina pode beneficiar de descontos nos adesivos transdérmicos de desabituação tabágica, graças ao protocolo que existe entre a autarquia e a farmacêutica.

Como explica o vereador da Acção Social, Armando Monteiro, grande dinamizador da ideia, “este foi um processo lento de sensibilização e informação às pessoas que começou três meses antes do dia 1 de Janeiro, altura em que passou a vigorar este despacho em todas as instalações camarárias, juntas de freguesia e escolas de Mafra”.

Um folheto explicativo com o título ‘Experimente o prazer de deixar de fumar' foi distribuído aos trabalhadores camarários e nele se pormenorizava sobre os malefícios do tabaco e as formas de deixar o vício. “A adesão foi muito positiva e já várias autarquias nos contactaram para saber de que forma implementámos este plano antitabaco. As câmaras municipais não servem só para gerir obras mas também para divulgar boas práticas”, lembra o vereador que é médico e ex-fumador. “Fumava dois maços por dia e deixei de o fazer da forma mais drástica: com um enfarte de miocárdio aos 32 anos”, recorda Armando Monteiro.

Nos escritórios da Danone Portugal também não é permitido fumar desde Março de 2006. Contudo, os funcionários que não resistem ao vício, podem sempre fazê-lo no terraço da empresa, no 15º piso. De acordo com Pedro Gonçalves Pereira, director de recursos humanos da Danone Portugal, a decisão de abolir o tabaco deveu-se à vontade de “criar um ambiente de trabalho saudável”.

“Esta é uma iniciativa coerente com os nossos valores de uma empresa com preocupações reais em prol da alimentação e estilos de vida saudáveis. À partida estávamos conscientes de que esta mudança poderia não ser bem recebida pelos fumadores e portanto, em simultâneo, lançámos um programa de ajudas para deixar de fumar”, conta o responsável. As medidas passaram por um rastreio interno de monóxido de carbono aos fumadores e na divulgação de vários métodos/tratamentos existentes e pela atribuição de uma ajuda de 100 euros a quem se quisesse inscrever nessas acções.

Mas apesar da lei antitabagismo adoptada pela Danone Portugal, Pedro Gonçalves Pereira não é um fanático antitabaco. “Se é verdade que quando proibimos fumar dentro da empresa estamos a respeitar o bem-estar e a escolha dos que não fumam, também é verdade que se não houver nenhum local previsto para os que fumam, não estaríamos a respeitar o bem-estar e a escolha dos que o fazem”, comenta.

Jorge Gaspar, presidente do conselho directivo do Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (ISHST), explica que “os locais de trabalho constituem uma fonte importante de exposição involuntária ao fumo ambiental do tabaco, principal poluente evitável do ar interior, pelo que não fumar aí contribui para os tornar mais seguros e saudáveis”. A este respeito o responsável pelo ISHST acrescenta que a exposição involuntária ao tabaco pode ter lugar de forma repetida e continuada durante toda a vida activa, o que agrava as suas consequências e pode constituir um factor de potenciação de outros factores de risco para a saúde ocupacional.





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