Cátia Mateus
PORTUGAL tem 10 mil biólogos e anualmente as universidades libertam para o mercado cerca de 750 licenciados nesta área. A conclusão consta de um estudo apresentado esta semana pela Ordem dos Biólogos (OBIO), em parceria com o Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Segundo o bastonário da OBIO, José Guerreiro, «a biologia está na moda e são cada vez mais os jovens a procurar esta área, sobretudo com o objectivo de aplicação nas áreas da genética e do ambiente». Contudo, da totalidade dos biólogos existentes, 90% estão a trabalhar na área do ensino e no serviço público, isto porque o sector privado não tem capacidade para absorver estes profissionais.
Segundo o estudo «Biologia e Biólogos em Portugal» — que analisa a fundo a inserção profissional e social dos biólogos —, estes trabalham sobretudo nas áreas do ambiente e da saúde, nomeadamente em laboratórios de reprodução medicamente assistida, análises forenses e de genética. O estudo revela também uma crescente feminização do sector já que são cada vez mais as mulheres a apostar nesta área.
José Guerreiro explica que a Biologia enfrenta a necessidade de uma reforma profunda, dada a procura crescente destas licenciaturas e a incapacidade do mercado absorver todos os profissionais. O bastonário explica que «um dos grandes desafios nesta fase consiste em criar novos postos de trabalho no sector privado para estas áreas». E como refere, «a taxa de emprego de biólogos no privado é muito residual».
Uma das áreas que mais adeptos tem vindo a ganhar entre os estudantes é Biotecnologia (tecnologias da vida). Mas também aqui o mercado tem carências. Portugal tem, segundo José Guerreiro, 36 empresas a operar no sector, «mas são necessárias mais de 3600», sugere o responsável. Guerreiro lamenta o desinvestimento do país neste domínio comparativamente à Europa.
O bastonário alerta para a necessidade de investimento privado na indústria da biotecnologia e adianta que «temos dez anos para recuperar 30 de atraso». Dos cerca de 10 mil licenciados, só 500 trabalham no sector privado. José Guerreiro é peremptório ao afirmar que «ou há capacidade económica dos empresários e da Banca para lançar um capital de risco e criar empresas de indústria da biotecnologia ou isto tudo não passará de uma quimera».
Uma ideia corroborada pelo ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, segundo o qual «o que falta a Portugal é o crescimento da indústria da Biotecnologia». Mariano Gago considera que «Portugal não teve a mesma evolução em duas áreas de grande expansão económica na Europa: a biologia e as tecnologias da informação». O ministro esclarece que «o desenvolvimento desta área partiu ao mesmo tempo e teve histórias diferentes o que não aconteceu noutros países».