Paula R. Santos
TRABALHADORES dinâmicos, leais, empenhados e flexíveis são
os mais procurados por quem tem a seu cargo uma organização
de gestão moderna. Mas atenção: nem sempre os mandriões
e absentistas têm a total responsabilidade pelo «comodismo»
a que chegaram no seu posto de trabalho.
Segundo os especialistas contactados pelo EXPRESSO,
a produtividade assenta, na maioria das vezes, na forma como está
estruturada a empresa, bem como no facto de o empregador ter, ou não,
a capacidade de motivar profissionalmente os seus colaboradores.
A IBM - Companhia Portuguesa dá um bom exemplo, à escala
nacional, do que se deve fazer para manter os trabalhadores empenhados.
O segredo de gestão reside num misto de incentivos materiais,
possibilidade de progressão na carreira e benesses que tornam
a vida pessoal do trabalhador mais fácil.
«A nossa empresa, sempre que possível, começa
por utilizar o programa de recrutamento interno 'Best Person for the
Job', que visa promover o preenchimento de lugares disponíveis.
Recrutando internamente conseguimos obter uma satisfação
acrescida dos nossos colaboradores», adianta António
Cerejeira, responsável dos recursos humanos da empresa.
A política de incentivos da IBM abrange, entre várias
outras compensações, o programa de prémios baptizado
de «Global Recognition Program». «Este programa
consiste no reconhecimento, individual ou em grupo, de desempenhos considerados
excepcionais», explica António Cerejeira. Aqui se incluem
o programa «Bravo» - onde os directores premeiam os colaboradores
que têm demonstrado perseverança ou criatividade - ou o
programa «Win IBM», baseado em objectivos específicos
com impacto significativo para a empresa.
Mas as benesses não estão apenas acessíveis aos
trabalhadores da IBM. Os planos de saúde, por exemplo, abrangem
não só os trabalhadores, mas os respectivos agregados,
estando ainda previstos subsídios de formação para
os filhos dos empregados que cobrem a totalidade da vida escolar, da
pré-primária até à universidade. «A
cultura de orientação para resultados que a IBM desenvolveu
é a garantia de que a flexibilidade é, para nós,
um ganho em termos de eficácia e não um obstáculo
à vida privada dos nossos empregados», resume o director
de recursos humanos.
Dinheiro não é importante
A multinacional IBM integra-se no conceito que o sociólogo do
trabalho, Rui Moura, designa de «novo paradigma de funcionamento
das organizações». «Aqui existe um
ambiente flexível e dinâmico, assente em qualificações
cada vez mais elevadas e em novas competências», explica
o presidente da Associação Portuguesa de Profissionais
em Sociologia Industrial das Organizações e do Trabalho.
É nestas empresas que os licenciados desejam conseguir o seu
lugar ao sol.
«Os jovens recém-licenciados não possuem uma
representação estática do emprego e preferem trabalhar
num ambiente de cooperação entre as pessoas, no qual o
trabalho é desenvolvido com uma determinada autonomia e responsabilidade,
permitindo o progresso individual e oportunidades de formação
profissional», refere o sociólogo, citando um estudo
que ele coordenou e que contou com a participação de 205
recém-licenciados.
Uma das principais conclusões revelou que o salário estava
longe de ser a principal motivação dos novos licenciados.
Aliás, neste estudo, a remuneração aparece apenas
em sétimo lugar.
«Um bom emprego não é caracterizado pelos aspectos
materiais mais imediatos. O bom emprego é sobretudo aquele em
que surgem oportunidades de formação e progresso (77%
das respostas), existem dirigentes interessados nas pessoas (67%), clima
organizacional cooperativo (64%), autonomia e responsabilidade (60%),
liberdade para organizar o trabalho e a vida pessoal (43%), facilidade
de contactos sociais e convívio (42%) e trabalho bem remunerado
(42%), entre outros factores», conclui o estudo.
Leonel Domingues, docente do Instituto Superior de Ciências Sociais
e Políticas (ISCSP) corrobora: «As políticas
remuneratórias, sendo importantes, não ocupam as primeiras
posições. Quando inquirimos os trabalhadores sobre o que
mais os motivam, estes tendem a colocar como de maior importância
a agradabilidade do ambiente físico e humano, a relação
com as chefias, a democraticidade interna da organização
e as possibilidades de desenvolvimento de competências»,
reforça o especialista.
Mas, em Portugal, as expectativas dos licenciados acabam, frequentemente,
por sair defraudadas. Recorde-se que as PME representam 97% da totalidade
das empresas portuguesas e aqui o ambiente é marcado por métodos
de chefia tecnocrata e dirigentes direccionados essencialmente para
o lucro.
«As PME são, em muitos casos, dirigidas por pessoas
com baixa escolaridade, com escassos conhecimentos de gestão
e onde não são levados em conta outros factores de motivação
além da exigência de trabalho como contrapartida da remuneração
fixa contratualizada», conclui Leonel Domingues.
Não se acomode ao lugar
Se quer conseguir ou manter um bom lugar numa empresa de gestão
moderna e competitiva, lembre-se que a sua postura e atitude perante
a organização está em permanente avaliação.
Fique então a saber o que é realmente importante para
os empregadores:
- Lealdade
- Honestidade ao serviço da empresa
- Empenho na carreira profissional
- Desempenho flexível
- Abordagem pró-activa para o mercado
- Criatividade e inovação
- Facilidade de relacionamento
- Capacidade de negociação