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O trabalhador perfeito

Auferir um bom ordenado não está no topo das preocupações
29.04.2005


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Paula R. Santos

TRABALHADORES dinâmicos, leais, empenhados e flexíveis são os mais procurados por quem tem a seu cargo uma organização de gestão moderna. Mas atenção: nem sempre os mandriões e absentistas têm a total responsabilidade pelo «comodismo» a que chegaram no seu posto de trabalho.

Segundo os especialistas contactados pelo EXPRESSO, a produtividade assenta, na maioria das vezes, na forma como está estruturada a empresa, bem como no facto de o empregador ter, ou não, a capacidade de motivar profissionalmente os seus colaboradores.

A IBM - Companhia Portuguesa dá um bom exemplo, à escala nacional, do que se deve fazer para manter os trabalhadores empenhados. O segredo de gestão reside num misto de incentivos materiais, possibilidade de progressão na carreira e benesses que tornam a vida pessoal do trabalhador mais fácil.

«A nossa empresa, sempre que possível, começa por utilizar o programa de recrutamento interno 'Best Person for the Job', que visa promover o preenchimento de lugares disponíveis. Recrutando internamente conseguimos obter uma satisfação acrescida dos nossos colaboradores», adianta António Cerejeira, responsável dos recursos humanos da empresa.

A política de incentivos da IBM abrange, entre várias outras compensações, o programa de prémios baptizado de «Global Recognition Program». «Este programa consiste no reconhecimento, individual ou em grupo, de desempenhos considerados excepcionais», explica António Cerejeira. Aqui se incluem o programa «Bravo» - onde os directores premeiam os colaboradores que têm demonstrado perseverança ou criatividade - ou o programa «Win IBM», baseado em objectivos específicos com impacto significativo para a empresa.

Mas as benesses não estão apenas acessíveis aos trabalhadores da IBM. Os planos de saúde, por exemplo, abrangem não só os trabalhadores, mas os respectivos agregados, estando ainda previstos subsídios de formação para os filhos dos empregados que cobrem a totalidade da vida escolar, da pré-primária até à universidade. «A cultura de orientação para resultados que a IBM desenvolveu é a garantia de que a flexibilidade é, para nós, um ganho em termos de eficácia e não um obstáculo à vida privada dos nossos empregados», resume o director de recursos humanos.

Dinheiro não é importante


A multinacional IBM integra-se no conceito que o sociólogo do trabalho, Rui Moura, designa de «novo paradigma de funcionamento das organizações». «Aqui existe um ambiente flexível e dinâmico, assente em qualificações cada vez mais elevadas e em novas competências», explica o presidente da Associação Portuguesa de Profissionais em Sociologia Industrial das Organizações e do Trabalho. É nestas empresas que os licenciados desejam conseguir o seu lugar ao sol.

«Os jovens recém-licenciados não possuem uma representação estática do emprego e preferem trabalhar num ambiente de cooperação entre as pessoas, no qual o trabalho é desenvolvido com uma determinada autonomia e responsabilidade, permitindo o progresso individual e oportunidades de formação profissional», refere o sociólogo, citando um estudo que ele coordenou e que contou com a participação de 205 recém-licenciados.

Uma das principais conclusões revelou que o salário estava longe de ser a principal motivação dos novos licenciados. Aliás, neste estudo, a remuneração aparece apenas em sétimo lugar.
«Um bom emprego não é caracterizado pelos aspectos materiais mais imediatos. O bom emprego é sobretudo aquele em que surgem oportunidades de formação e progresso (77% das respostas), existem dirigentes interessados nas pessoas (67%), clima organizacional cooperativo (64%), autonomia e responsabilidade (60%), liberdade para organizar o trabalho e a vida pessoal (43%), facilidade de contactos sociais e convívio (42%) e trabalho bem remunerado (42%), entre outros factores», conclui o estudo.

Leonel Domingues, docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) corrobora: «As políticas remuneratórias, sendo importantes, não ocupam as primeiras posições. Quando inquirimos os trabalhadores sobre o que mais os motivam, estes tendem a colocar como de maior importância a agradabilidade do ambiente físico e humano, a relação com as chefias, a democraticidade interna da organização e as possibilidades de desenvolvimento de competências», reforça o especialista.

Mas, em Portugal, as expectativas dos licenciados acabam, frequentemente, por sair defraudadas. Recorde-se que as PME representam 97% da totalidade das empresas portuguesas e aqui o ambiente é marcado por métodos de chefia tecnocrata e dirigentes direccionados essencialmente para o lucro.

«As PME são, em muitos casos, dirigidas por pessoas com baixa escolaridade, com escassos conhecimentos de gestão e onde não são levados em conta outros factores de motivação além da exigência de trabalho como contrapartida da remuneração fixa contratualizada», conclui Leonel Domingues.


Não se acomode ao lugar

Se quer conseguir ou manter um bom lugar numa empresa de gestão moderna e competitiva, lembre-se que a sua postura e atitude perante a organização está em permanente avaliação. Fique então a saber o que é realmente importante para os empregadores:
- Lealdade
- Honestidade ao serviço da empresa
- Empenho na carreira profissional
- Desempenho flexível
- Abordagem pró-activa para o mercado
- Criatividade e inovação
- Facilidade de relacionamento
- Capacidade de negociação




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