Manuel Posser de Andrade
O primeiro curso de formação
em tecnologias da microelectrónica deu a conhecer aos docentes
do secundário novos métodos de ensino
Avaliação excelente
ESTABELECER uma ponte entre o conhecimento leccionado no ensino superior
e no secundário, nomeadamente nas áreas científicas,
é uma tarefa cada vez mais necessária:
as universidades e politécnicos estão na vanguarda dos mais
recentes avanços científicos, tecnológicos e de investigação,
enquanto no secundário é cada vez mais crucial proceder
à reciclagem de conhecimento dos docentes por forma a estarem actualizados
com os novos paradigmas.
Colmatar esta lacuna foi um dos principais objectivos do 1º curso
de formação em tecnologias da microelectrónica, uma
iniciativa que surgiu no âmbito dos programas de formação
de professores do Ministério da Educação (PRODEP
III) em conjunto com o Departamento de Ciência dos Materiais da
Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova.
Intitulada "A microelectrónica e os materiais da electrónica
no ensino secundário", esta acção que contemplou
17 docentes do Secundário da área da Física e da
Electrónica, proveniente de instituições de ensino
em Lisboa, Óbidos e Entroncamento e realizou-se durante o período
de 11 a 16 de Julho.
Ao longo deste tempo, os formandos tiveram a possibilidade de projectar,
simular, construir, testar e encapsular um fotodíodo de junção,
com o objectivo de tornar as suas aulas mais práticas.
"O facto de ser utilizado um fotodíodo feito pelos próprios
professores motivará um maior interesse dos alunos que não
aconteceria, caso fosse usado um fotodíodo adquirido numa loja
normal de componentes electrónicos", refere Elvira Fortunato
Professora Associada do CENIMAT-Departamento de Ciência dos Materiais
da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
e responsável pela formação.
As tecnologias utilizadas no fabrico dos fotodíodos de junção
são comuns a todos os dispositivos da electrónica incluindo
circuitos integrados, por exemplo microprocessadores.
O fotodíodo é um dispositivo utilizado, de igual modo, na
optoelectrónica como sensor óptico ou ainda como uma célula
fotovoltaica.
"A avaliar pela opinião expressa pelos alunos, o curso excedeu
todas as expectativas, uma vez que tiveram oportunidade de contactar pela
primeira vez com tecnologias que desconheciam existir em Portugal".
referiu, por seu turno, Rodrigo Martins, professor Catedrático
da FCT-UNL, acrescentando que "neste campo específico,
o ensino secundário está bastante desactualizado pois no
passado, esta formação não era dada ao nível
universitário e a única licenciatura que lecciona há
mais de 10 anos a componente prática da microelectrónica
é a licenciatura em Engenharia dos Materiais da Universidade Nova".
O curso englobou inicialmente algumas noções teóricas
e, de seguida, repartiu-se por áreas práticas:
Uma vez que este tipo de tecnologias exige infra-estuturas bastante dispendiosas
(câmaras limpas e outras) a única forma de dar formação
é através de visitas de estudo ou vídeos.
"Depois da formação, os professores podem definir
com os alunos casos específicos de demonstradores que podem ser
desenvolvidos e analisar a sua funcionalidade nas aulas de uma forma muito
mais pedagógica. Uma coisa é ler, estudar e ensinar outra,
é fazer e depois ensinar", salienta Elvira Fortunato.
Segundo os responsáveis do Departamento da Ciência dos Materiais
da UNL, face ao empenhamento, motivação e interesse demonstrado
pelos docentes do secundário, nos próximos anos vão
continuar a participar neste tipo de iniciativas, com novas edições
deste curso e abrindo novas formações para docentes do secundário,
nomeadamente "Utilização de Energias Renováveis-Fabrico
de Células Solares"; "Tecnologia de Mostradores a Cristal
Líquido", "A Microelectrónica aplicada ao fabrico
de dispositivos MOS"; "A Microelectrónica e as tecnologias
de Fabrico de Sensores".
Para os nossos interlocutores, a criação de um curso terminal
de Engenharia na área da microelectrónica e computação,
para a actualização de conhecimentos dos Engenheiros Electrotécnicos
e de Telecomunicações, é outro objectivo.
Avaliação excelente
UMA unidade bem organizada que registou grandes progressos nos últimos
anos", refere um relatório de avaliação do Departamento
de Ciência dos Materiais Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade Nova de Lisboa (CENIMAT), referente a 2002.
Este departamento recebeu a nota máxima de 5 (Excelente), por uma
comissão internacional de avaliadores externos, seleccionados pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O relatório elogia vários aspectos, como a boa gestão
de fundos, a "vasta área de actuação em termos
de investigação" e o "bom espírito
de comunidade".
São, ainda, referidas as várias colaborações
com empresas ao nível industrial, como a Siemens, a EPCO, a Autoeuropa,
Akzo Nobel, entre outras.
Por seu turno, o elevado número de patentes importantes registadas
ao nível de protótipos, particularmente na área da
Optoelectrónica, contribuem para o sucesso deste departamento.
A nível de investigação de excelência, as principais
áreas são os materiais poliméricos e mesomórficos,
materiais electrónicos e optoelectrónicos e materiais estruturais.