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Negócios sem limitações

26.11.2004


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Cátia Mateus e Maribela Freitas

A CAPACIDADE empreendedora não se restringe com as diferenças. Ser portador de uma deficiência está longe de constituir um impedimento para a criação de um projecto empresarial. Mas não é menos verdade que estes empreendedores têm dificuldades acrescidas. Para vencê-las contam com a sua força de vontade, e muitos conseguiram provar que ser diferente não é ser menor no mundo dos negócios.

 


Renato Guedes Duarte venceu em 2002 a segunda categoria do Prémio de Mérito, atribuído anualmente pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) aos melhores projectos empresariais concebidos por empreendedores portadores de deficiência.

Sofre de paralisia cerebral mas a doença não o impediu de perseguir os seus objectivos. Licenciou-se em Engenharia Informática e, à semelhança de muitos outros jovens com perfil empreendedor, aproveitou um trabalho de final de curso para materializar a criação da Estudamédia, uma empresa vocacionada para a elaboração de produtos multimédia, com sede em Vila Nova de Gaia.

Aos 29 anos, o empreendedor não tem dúvidas de que o seu empenho foi recompensado. Confessa que a necessidade tem um «efeito-motor» quando se quer concretizar um objectivo. «Uma das razões que me levou a apostar neste projecto prende-se com a minha limitação física, que não me permite uma adaptação a qualquer área, e as novas tecnologias oferecem alguma flexibilidade», explica.

Profissionalmente realizado, Renato Duarte emprega neste momento uma pessoa a tempo inteiro e reúne na Estudamédia um grupo de colaboradores. Entre as principais dificuldades que sentiu na concretização do seu negócio salienta «o investimento inicial e o facto de, na área multimédia, os projectos terem uma fase de produção bastante longa».

Em actividade há dois anos, a empresa de Renato Guedes Duarte aposta essencialmente no segmento de produtos didácticos direccionados para crianças e jovens. No futuro, o empresário quer alargar o seu raio de acção a outros segmentos, como a concepção de «sites» de utilidade pública.

Rui Almeida tem 31 anos de idade e é licenciado em gestão e administração pública. Em Dezembro de 2003 este invisual criou a Consultideias, uma empresa que actua em três áreas: consultoria estratégica para a responsabilidade e «marketing» social; formação vocacionada para pessoas com necessidades especiais e «e-business» na perspectiva da criação de soluções inovadoras de produção de conteúdos acessíveis a pessoas com necessidades especiais.

«Esta empresa surgiu por dois motivos. Primeiro pela minha dificuldade em penetrar no mercado de trabalho; em segundo lugar, por ter verificado que existia aqui um nicho de mercado», comenta Rui Almeida. Desde que acabou o curso em 1998, este empreendedor viveu mais do que uma vez situações de desemprego.

Com o desenvolvimento da própria empresa criou um posto de trabalho para si e trabalha em parceria com outros colaboradores e empresas no desenvolvimento de alguns projectos. Quanto a apoios, Rui Almeida explica: «Tive apoios estatais derivados de um conjunto de medidas de apoio à criação do próprio emprego de pessoas com deficiência».

No futuro este empreendedor sedeado na área da Grande Lisboa quer «apresentar projectos novos e consolidar a área de negócio em sectores como a mobilidade e orientação, serviços e conteúdos didácticos», refere.

Apesar de bem sucedido, Rui Almeida considera que no mercado laboral existe ainda alguma relutância em contratar pessoas portadoras de deficiência.

 

Apoios para «mentes» empreendedoras

ALÉM das iniciativas do IEFP, várias estruturas dão um apoio especial aos empreendedores portadores de deficiência. A Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), em parceria com outras entidades, tem em curso o projecto «PODER – Promover Organizadamente o Desenvolvimento do Emprego», direccionado a jovens com idade superior a 18 anos e portadores de deficiência.

O programa tem como objectivo fornecer ferramentas e estratégias que permitam aos cidadãos portadores de deficiência delinear o seu próprio destino em matéria de emprego. Decorrente da iniciativa comunitária EQUAL e co-financiado pelo Fundo Social Europeu (FSE), este programa compreende dois estados de prossecução que abarcam a formação e a da criação de empresa.

O PODER utiliza um método de trabalho centrado nas ferramentas interactivas com recurso à Internet e formação à distância. Desta primeira edição sairá já em 2005 uma empresa composta por quatro jovens portadores de paralisia cerebral. O Grupo Insonética, estruturado com o apoio da ANJE, trabalhará nos domínios do multimédia. A actividade ficará centrada na prestação de serviços de tratamento de imagem, recuperação de fotografias antigas, modificação e criação de logotipos, criação de páginas «web» e recuperação de fitas de vídeo danificadas.

Para Mário Genésio, coordenador de projectos Equal da ANJE, «o objectivo é que outras empresas sejam criadas a partir deste projecto». O responsável salienta que «a coordenação não é fácil, já que os jovens têm necessidades e limitações muito distintas entre si e há que conseguir canalizar os seus perfis para as funções certas na estrutura da empresa». Um processo que necessita de acompanhamento permanente.

Na primeira edição do PODER, estão envolvidos cerca de 20 formandos. Mário Genésio adianta que a ANJE tem já na mira uma nova iniciativa para 2005.

 

 






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