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Mulheres empresárias ganham terreno

03.10.2003


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Ruben Eiras

Indústria mais feminina


CERCA de 27% das mulheres empresárias (auto-empregadas com empregados) portuguesas desenvolvem o seu negócio no sector industrial, sendo esta a maior percentagem da UE, quase o triplo da média europeia.

Este é um dos resultados em destaque de uma análise estatística sobre o "gap" de empreendedorismo entre o sexo masculino e feminino, elaborado pelo Eurostat.

A maioria das empresárias nacionais situa-se no sector dos serviços (71%), mas este é o valor mais baixo da Europa, quando a média é de 81%.

Segundo Ana Bela Pereira da Silva, presidente da Associação das Mulheres Empresárias, estas mulheres empreendedoras estão "invisíveis aos olhos da sociedade", porque muitas delas desempenham funções relacionadas com a gestão interna das empresas.

"São empresas familiares, de pequena dimensão, em que muitas vezes as mulheres participam no capital da empresa em partes iguais com o marido", explica.

Só que, na maioria dos casos, a "cara" do negócio é sempre o homem. "Quem toma as rédeas dos processos de negociação e do relacionamento com os clientes é o marido. As mulheres ocupam-se mais da contabilidade e da gestão da produção", esclarece.

Para Armindo Monteiro, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), esta tendência no perfil do empreendedorismo português é um sinal da crise de individualismo que trespassa a sociedade.

"Isto é um indicador de que não existe confiança para aceitar outras pessoas fora do seio familiar para fazerem parte da sociedade da empresa", argumenta.

No entanto, aquele dirigente reconhece que este comportamento poderá gerar maior igualdade na iniciativa empreendedora em Portugal. "É uma oportunidade para que as mulheres demonstrarem com maior afinco as suas competências para o negócio", observa.

Portugal tem 27% de mulheres empresárias no sector industrial, sendo esta a taxa mais alta da UE

A mais-valia da intuição no empreendedorismo

É que, para Armindo Monteiro, o sexo feminino está mais habilitado para conseguir perceber melhor as motivações dos outros, porque as mulheres são "mais empáticas e intuitivas do que os homens". Uma mais-valia para a gestão das pessoas e no relacionamento com os clientes.

Empreendedoras

Por outro lado, o presidente salienta também que as mulheres são mais metódicas e objectivas na organização do trabalho, acrescentando valor nas capacidades de planeamento e de controlo do processo produtivo na empresa.

De acordo com os dois responsáveis contactados pelo EXPRESSO, os sectores industriais onde as empresárias portuguesas se encontram em maior peso são os da cortiça, do têxtil, da tanoaria, da construção civil e das tecnologias de ponta.

Mas Ana Bela Pereira da Silva refere que a cultura empresarial nestes sectores ainda é muito "masculina", sendo que a mudança de mentalidade progredirá a um ritmo mais lento.

Maior visibilidade no sector dos serviços
Já no sector dos serviços a realidade é diferente. Aquela dirigente salienta que neste segmento de actividade a mulher já está presente em quase todas as etapas do negócio, ganhando assim "visibilidade social".

A médio-longo prazo, Ana Bela Pereira da Silva preconiza que o peso das mulheres irá aumentar significativamente no mercado nacional, devido ao avanço do sexo feminino na aquisição de competências qualificadas.

"Com efeito, há mais mulheres licenciadas do que homens, e a opção pela criação do próprio negócio será cada vez mais significativa para a realização pessoal da mulher", remata.

Todavia, Armindo Monteiro a igualdade no empreendedorismo não avançará se a partilha das responsabilidades familiares não for mais profunda face àquela que existe actualmente. "O homem tem que ajudar mais na gestão familiar para que cada pessoa do casal se possa realizar profissionalmente", remata.





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