Ruben Eiras
Indústria mais feminina
CERCA de 27% das mulheres empresárias (auto-empregadas com empregados)
portuguesas desenvolvem o seu negócio no sector industrial, sendo
esta a maior percentagem da UE, quase o triplo da média europeia.
Este é um dos resultados em destaque de uma análise estatística
sobre o "gap" de empreendedorismo entre o sexo masculino e
feminino, elaborado pelo Eurostat.
A maioria das empresárias nacionais situa-se no sector dos serviços
(71%), mas este é o valor mais baixo da Europa, quando a média
é de 81%.
Segundo Ana Bela Pereira da Silva, presidente da Associação
das Mulheres Empresárias, estas mulheres empreendedoras estão
"invisíveis aos olhos da sociedade", porque
muitas delas desempenham funções relacionadas com a gestão
interna das empresas.
"São empresas familiares, de pequena dimensão,
em que muitas vezes as mulheres participam no capital da empresa em
partes iguais com o marido", explica.
Só que, na maioria dos casos, a "cara" do negócio
é sempre o homem. "Quem toma as rédeas dos processos
de negociação e do relacionamento com os clientes é
o marido. As mulheres ocupam-se mais da contabilidade e da gestão
da produção", esclarece.
Para Armindo Monteiro, presidente da Associação Nacional
de Jovens Empresários (ANJE), esta tendência no perfil
do empreendedorismo português é um sinal da crise de individualismo
que trespassa a sociedade.
"Isto é um indicador de que não existe confiança
para aceitar outras pessoas fora do seio familiar para fazerem parte
da sociedade da empresa", argumenta.
No entanto, aquele dirigente reconhece que este comportamento poderá
gerar maior igualdade na iniciativa empreendedora em Portugal. "É
uma oportunidade para que as mulheres demonstrarem com maior afinco
as suas competências para o negócio", observa.
Portugal tem 27% de mulheres empresárias no sector industrial,
sendo esta a taxa mais alta da UE
A mais-valia da intuição no empreendedorismo
É que, para Armindo Monteiro, o sexo feminino está mais
habilitado para conseguir perceber melhor as motivações
dos outros, porque as mulheres são "mais empáticas
e intuitivas do que os homens". Uma mais-valia para a gestão
das pessoas e no relacionamento com os clientes.
Empreendedoras
Por outro lado, o presidente salienta também que as mulheres
são mais metódicas e objectivas na organização
do trabalho, acrescentando valor nas capacidades de planeamento e de
controlo do processo produtivo na empresa.
De acordo com os dois responsáveis contactados pelo EXPRESSO,
os sectores industriais onde as empresárias portuguesas se encontram
em maior peso são os da cortiça, do têxtil, da tanoaria,
da construção civil e das tecnologias de ponta.
Mas Ana Bela Pereira da Silva refere que a cultura empresarial nestes
sectores ainda é muito "masculina", sendo que
a mudança de mentalidade progredirá a um ritmo mais lento.
Maior visibilidade no sector dos serviços
Já no sector dos serviços a realidade é diferente.
Aquela dirigente salienta que neste segmento de actividade a mulher
já está presente em quase todas as etapas do negócio,
ganhando assim "visibilidade social".
A médio-longo prazo, Ana Bela Pereira da Silva preconiza que
o peso das mulheres irá aumentar significativamente no mercado
nacional, devido ao avanço do sexo feminino na aquisição
de competências qualificadas.
"Com efeito, há mais mulheres licenciadas do que homens,
e a opção pela criação do próprio
negócio será cada vez mais significativa para a realização
pessoal da mulher", remata.
Todavia, Armindo Monteiro a igualdade no empreendedorismo não
avançará se a partilha das responsabilidades familiares
não for mais profunda face àquela que existe actualmente.
"O homem tem que ajudar mais na gestão familiar para
que cada pessoa do casal se possa realizar profissionalmente",
remata.