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Mulheres & empresárias

04.04.2003


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Ruben Eiras

O EMPREENDEDORISMO feminino português está em franca expansão mas, ainda assim, são os homens quem continuam a dominar.

Segundo os dados preliminares de um estudo sobre a participação das mulheres na empresarialidade elaborado por Fátima Assunção, docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), a proporção de mulheres empresárias passou de 15,8% em 1981 para 33,4% em 2001.

A pesquisa foi apresentada no X Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Sociologia Industrial, das Organizações e do Trabalho, que decorreu na semana passada, na Fundação Calouste Gulbenkian.

De acordo com aquela investigadora, o aumento da participação das mulheres na actividade empresarial pode estar parcialmente relacionado com o acréscimo da taxa de actividade feminina no período em análise.

Por outro lado, contrapõe que este comportamento também pode ficar a dever-se a situações de transição entre emprego e empresariado. "Esta hipótese pode fazer sentido, já que em Portugal, a incidência da situação 'empregador' entre as pessoas com menos de 30 anos é menor do que a do trabalho por conta de outrem, o que poderá indicar uma mudança de situação profissional", explica. Só que a paridade sexual no mercado laboral qualificado ainda é um cenário longínquo na sociedade portuguesa.

Os cálculos de Fátima Assunção mostram que, tanto no segmento dos trabalhadores por conta de outrem (TCO) como no dos empregadores, a participação feminina nos quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresas fica abaixo dos 40%.

Mas o panorama muda na fatia dos especialistas das profissões intelectuais e científicas. Embora nos empregadores o sexo feminino detenha cerca de 40% dos postos de trabalho, no segmento dos TCO este valor já é de 58,9%. "Estes dados constatam que a infiltração das mulheres nos sectores ocupacionais mais favorecidos do trabalho remunerado tende a dar-se com base na tecnicidade dos saberes, em detrimento das ocupações mais directamente relacionadas com o exercício do poder nas organizações", observa a docente do ISCSP.

Por isso, Fátima Assunção defende que a via mais rápida para as mulheres ocuparem cargos de gestão e de direcção será a criação da sua própria empresa.

O debate sobre o posicionamento da sociologia do trabalho no descortinar das realidades escondidas no mundo do trabalho foi outra das questões em destaque no certame. Ilona Kóvacs, docente no ISEG, aquando da sua intervenção, criticou o facto dos sociólogos na última década se terem seduzido pelas "modas" de gestão. "Há que dar a conhecer a realidade que está detrás dos conceitos de gestão propalados pelos 'gurus', que, quando postos em prática funcionam sempre ao contrário. Basta ver o que aconteceu com a nova economia", sublinha.

Uma crítica corroborada por Juan Castillo, director do departamento de sociologia da Universidade Complutense de Madrid. "Pregava-se que os novos empregos do conhecimento iriam acabar com a precariedade laboral. Todavia, a realidade mostra que muitos dos postos de trabalho criados são, na verdade, desqualificados", acusa.

Neste plano, conclui com o exemplo dos "call-centers": "Não são mais do que uma cadeia cerebral de 'taylorização' da informação, em que as pessoas funcionam como atendedores humanos automatizados".







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