Ruben Eiras
O EMPREENDEDORISMO feminino português
está em franca expansão mas, ainda assim, são
os homens quem continuam a dominar.
Segundo os dados preliminares de um estudo sobre a participação
das mulheres na empresarialidade elaborado por Fátima Assunção,
docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
(ISCSP), a proporção de mulheres empresárias
passou de 15,8% em 1981 para 33,4% em 2001.
A pesquisa foi apresentada no X Encontro Nacional da Associação
Portuguesa de Sociologia Industrial, das Organizações
e do Trabalho, que decorreu na semana passada, na Fundação
Calouste Gulbenkian.
De acordo com aquela investigadora, o aumento da participação
das mulheres na actividade empresarial pode estar parcialmente relacionado
com o acréscimo da taxa de actividade feminina no período
em análise.
Por outro lado, contrapõe que este comportamento também
pode ficar a dever-se a situações de transição
entre emprego e empresariado. "Esta hipótese pode
fazer sentido, já que em Portugal, a incidência da
situação 'empregador' entre as pessoas com menos de
30 anos é menor do que a do trabalho por conta de outrem,
o que poderá indicar uma mudança de situação
profissional", explica. Só que a paridade sexual
no mercado laboral qualificado ainda é um cenário
longínquo na sociedade portuguesa.
Os cálculos de Fátima Assunção mostram
que, tanto no segmento dos trabalhadores por conta de outrem (TCO)
como no dos empregadores, a participação feminina
nos quadros superiores da administração pública,
dirigentes e quadros superiores de empresas fica abaixo dos 40%.
Mas o panorama muda na fatia dos especialistas das profissões
intelectuais e científicas. Embora nos empregadores o sexo
feminino detenha cerca de 40% dos postos de trabalho, no segmento
dos TCO este valor já é de 58,9%. "Estes dados
constatam que a infiltração das mulheres nos sectores
ocupacionais mais favorecidos do trabalho remunerado tende a dar-se
com base na tecnicidade dos saberes, em detrimento das ocupações
mais directamente relacionadas com o exercício do poder nas
organizações", observa a docente do ISCSP.
Por isso, Fátima Assunção defende que a via
mais rápida para as mulheres ocuparem cargos de gestão
e de direcção será a criação
da sua própria empresa.
O debate sobre o posicionamento da sociologia do trabalho no descortinar
das realidades escondidas no mundo do trabalho foi outra das questões
em destaque no certame. Ilona Kóvacs, docente no ISEG, aquando
da sua intervenção, criticou o facto dos sociólogos
na última década se terem seduzido pelas "modas"
de gestão. "Há que dar a conhecer a realidade
que está detrás dos conceitos de gestão propalados
pelos 'gurus', que, quando postos em prática funcionam sempre
ao contrário. Basta ver o que aconteceu com a nova economia",
sublinha.
Uma crítica corroborada por Juan Castillo, director do departamento
de sociologia da Universidade Complutense de Madrid. "Pregava-se
que os novos empregos do conhecimento iriam acabar com a precariedade
laboral. Todavia, a realidade mostra que muitos dos postos de trabalho
criados são, na verdade, desqualificados", acusa.
Neste plano, conclui com o exemplo dos "call-centers":
"Não são mais do que uma cadeia cerebral de
'taylorização' da informação, em que
as pessoas funcionam como atendedores humanos automatizados".