Fernanda Pedro
AS PROFUNDEZAS das águas da costa portuguesa estão
a ser estudadas num projecto que envolve as instituições
norte-americanas Ocean Techonology Foundation e a Universidade de Connecticut,
e portuguesas como o Centro de Ciências do Mar do Algarve da Universidade
do Algarve, a Universidade Autónoma de Lisboa e o Instituto Hidrográfico
da Marinha Portuguesa.
O projecto SEMAPP-Ciência, Educação e Arqueologia
Marinha, destina-se à investigação nas áreas
de arqueologia, biologia e geologias marinhas, visando igualmente o
desenvolvimento de aplicações tecnológicas para
o estudo do oceano. Coube à Agência Nacional para a Cultura
Científica e Tecnológica, através da Ciência
Viva, o papel de desenvolver a vertente educativa deste projecto.
Nesse sentido, além das instituições de ensino
superior, vários estabelecimentos de ensino secundário
estão ligados ao SEMAPP. De acordo com Ana Noronha, da direcção
da Ciência Viva, esta iniciativa é de importância
extrema, porque incentiva os jovens para a investigação
e para as ciências do mar. "A nossa costa é rica
para desenvolver projectos de investigação, daí
que acções como o SEMAPP motivam os estudantes para estas
áreas", explica a responsável.
O Instituto Hidrográfico que se juntou ao projecto em 2003, actua
como catalizador desta iniciativa. "Além dos recursos
que dispomos temos equipas de investigação que abordam
todas as áreas relacionadas com o mar", revela o comandante
Lopes da Costa do Instituto Hidrográfico.
Na realidade, este organismo empenha-se neste momento no estudo dos
canhões submarinos (espécie de desfiladeiros ou vales
acentuados no leito do mar na zona da plataforma continental) da Nazaré
e do sul do Algarve.
Foi no canhão de Portimão, que uma equipa composta de
cientistas americanos e portugueses, bem como quatro alunos e um professor
da Escola Secundária Diogo Gouveia de Beja, a bordo do navio
da armada portuguesa "Schultz Xavier", participaram na investigação
dedicada a estudos sobre a fauna marinha e sobre os aspectos geológicos
destas formações.
Nesta expedição participou um minisubmarino tripulado
norte-americano, o "Delta" (ver foto), e que permitiu a aquisição
de imagens, dados e amostras do fundo do mar. Segundo o comandante Lopes
da Costa, o oceano desempenha um papel fundamental como regulador do
clima global, é fonte de vida e de recursos.
"A investigação científica do mar é
uma ferramenta essencial para o conhecimento dos recursos e potencialidades
de aproveitamento económico e para a preservação
de um ambiente saudável", explica o responsável.
De acordo com Lopes da Costa, as áreas de investigação
do Instituto Hidrográfico desenvolvem-se nos domínios
da oceanografia (física, geológica e química),
da hidrografia, da cartografia náutica, da navegação,
da protecção do meio marinho e do aproveitamento de recursos
naturais, bem como da qualificação dos recursos humanos.
Nesse sentido, o Instituto Hidrográfico colabora activamente
com as universidades na formação onde oficiais e técnicos
colaboram no ensino em disciplinas da especialidade. O Instituto acolhe
ainda cerca de vinte estagiários e segundo o comandante "realizam
trabalhos na área de oceanografia física, geologia marinha,
química em sistemas de informação geográfica
ou hidrografia, os quais são mais valias para a futura inserção
no mercado de trabalho".
Através da escola do Instituto Hidrográfico são
também preparados especialistas em Hidrografia, civis ou militares,
sendo também usada no âmbito da cooperação
internacional.
Projectos marinhos em curso
ENTRE os projectos de investigação em que o Instituto
Hidrográfico está envolvido em regime de cooperação
com a comunidade científica nacional e europeia, destacam-se:
Mocassim - Este projecto tem como objectivo o desenvolvimento
de ferramentas de modelação numérica com técnicas
de assimilação de dados, tendo em vista um sistema integrado
de previsão de circulação oceânica, de dinâmica
sedimentar e agitação marítima.
Pammela 2 - Tem por meta o desenvolvimento de modelos de propagação
da agitação marítima em águas pouco profundas,
até à rebentação na costa. Está implementado
em toda a Costa de Portugal.
Euro Strata Form - Visa estudar os processos sedimentares e forçamentos
associados que ocorrem na margem continental europeia - explicam a estrutura
e evolução dos estratos sedimentares que formam a margem
continental. No projecto europeu, o Instituto é responsável
por estudar o papel dos principais canhões submarinos na Costa
Oeste portuguesa e na exportação de sedimentos da plataforma
continental para o oceano.
Atoms - Estuda o estado do oceano, em termos de propriedades físicas,
através de métodos de tomografia acústica. Esta
consiste na medição de tempos de percurso e da fase dos
raios sonoros. Através da sua propagação na água,
é possível, através de cálculos matemáticos,
reconstituir o fundo oceânico, suas correntes e temperaturas.