Fernanda Pedro
A MAIORIA das empresas portuguesas admite contratar colaboradores com deficiência. Esta é a conclusão a que chega o estudo elaborado pela RHmais, Organização e Gestão de Recursos Humanos, a pedido do Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência (SNRIPD) — organismo tutelado pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. Segundo o relatório, 55% das empresas que não têm a trabalhar consigo pessoas com deficiência admitiram a possibilidade de empregar um trabalhador com deficiência e apenas 23% admitiram que não.
Apesar desta vontade, o mesmo estudo explica que a principal razão para não se realizarem contratações deste tipo é a falta de informação. O inquérito do SNRIPD conclui ainda que as barreiras físicas no local de trabalho e eventuais problemas de adaptação estão na base dos principais receios e dificuldades expressas pelos empregadores.
O estudo revela também que os empresários nunca se lembram que a deficiência não será necessariamente motora, ou sensorial, podendo ser também mental. De acordo com Cristina Louro, secretária nacional da SNRIPD, «as barreiras à entrada das pessoas com deficiência assentam essencialmente em problemas de natureza cultural e nos estereótipos que os agentes económicos possuem em relação à deficiência».
Responsabilidade social
O estudo adianta mesmo que a grande maioria das organizações (80%) refere conhecer o conceito de responsabilidade social empresarial (RSE), mas apenas 55% conseguem identificar a sua definição correcta. A responsável da SNRIPD realça ainda que, embora a integração de pessoas com deficiência nas organizações faça obviamente parte da RSE e as empresas acreditem que devem realmente actuar como mecenas e empregadoras, falta ainda difundir eficazmente esta prática.
Para os empregadores, o papel do Estado deve ser orientado essencialmente para a regulação do mercado de trabalho. Ou seja, segundo aqueles responsáveis, o Estado deve criar condições para a inserção das pessoas com deficiência em vez de lhes dar directamente emprego.
As opiniões dos agentes que operam na área da deficiência são maioritariamente contra o princípio da obrigatoriedade das quotas (recorde-se que, por forma a favorecer a integração profissional de deficientes no mercado de trabalho, é instituída uma quota obrigatória de 5% nos concursos externos de ingresso na função pública. Ou seja, em concursos onde haja 10 ou mais lugares para preencher 5% deverão destinar-se a deficientes.
Nos concursos para menos de 10 vagas deverão ser estabelecidas regras específicas caso a caso). A coerção não parece constituir para a generalidade dos entrevistados a solução para o problema. Foi para combater a falta de informação que a GRACE, uma associação que actua na área da responsabilidade social empresarial, lançou o manual «A integração de pessoas com deficiência nas empresas: como actuar», em parceria com o Instituto brasileiro ETHOS de empresas de responsabilidade social.