Cátia Mateus
Música, teatro, bailado, cinema e televisão atraem a Portugal jovens artistas oriundos de vários países em busca de uma oportunidade que a sua nação lhes negou. Chegam com a coragem e a vontade de mostrar o que valem, mas não encaram Portugal como um ponto de chegada. Antes sim, como um momento de travessia e uma porta de entrada na Europa. É que para estes artistas imigrantes, Portugal não é um país atractivo do ponto de vista do aperfeiçoamento artístico, mas representa uma oportunidade de trabalhar num mercado menos concorrencial do que, por exemplo, o brasileiro ou o dos países de Leste.
São sobretudo homens, jovens e provenientes de países europeus, Recusam uma discriminação positiva e acusam Portugal de ter políticas de apoio às artes demasiado centradas nos subsídios. Estes são os imigrantes empreendedores que habitam em Portugal e que o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI) retratou no estudo agora divulgado ‘Licença para Criar — Imigrantes nas artes em Portugal'.
O estudo chega a conclusões curiosas, como o facto de os artistas imigrantes serem proporcionalmente mais do que os portugueses e se concentrarem, sobretudo, na Área Metropolitana de Lisboa. As mulheres parecem ficar ainda de fora neste movimento artístico, representando uma minoria neste universo.
Das várias nacionalidades de artistas presentes em Portugal, são só europeus que apresentam uma maior tendência para trabalhar por conta própria. E segundo Magda Nico, uma das investigadoras envolvidas no estudo, “a análise dos dados permitiu concluir que os artistas oriundos da Europa chegam a Portugal já numa fase em que a sua carreira está cimentada enquanto os africanos, por exemplo, vêm sobretudo à procura de formação”.
Contudo, a especialista confessa que aos olhos dos inquiridos “Portugal não é um país atractivo do ponto de vista do aperfeiçoamento artístico e surge, sim, como uma porta de entrada para a Europa ou uma oportunidade de trabalho num mercado menos concorrencial”.
Entre os inquiridos, paira a ideia que “as políticas portuguesas de apoio às artes são demasiado baseadas nos subsídios”. E além desta limitação, os imigrantes inquiridos apontam ainda a questão da língua como uma debilidade para alguns artistas em áreas como a representação.
De acordo com o estudo da ACIDI, a música é a área de maior concentração de artistas imigrantes, logo seguida do teatro, do bailado, cinema e televisão. “Entre os trabalhadores por conta de outrem, o grupo mais representativo é o dos ucranianos, que não registam situações de desemprego, que são mais frequentes entre os africanos”, enfatiza a investigadora.
Por sua vez, “entre os oriundos de África, os angolanos são os mais numerosos e os mais qualificados. Os cabo-verdianos sobressaem pela sua juventude, sendo que quase 70% têm menos de 34 anos, e são a comunidade com maior percentagem de empregadores neste sector”, explica Magda Nico que acredita que “Portugal beneficiaria muito se potenciasse a entrada destes profissionais no sistema educativo e poderia colmatar o défice de professores que existe no ensino artístico”.
Esta investigação conduzida por quatro sociólogas combinou a análise de dados estatísticos fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística, o Ministério das Finanças e o do Trabalho e Solidariedade Social.