Marisa Antunes
Muita tensão e desmotivação. A pressão da crise que se abateu sobre uma boa parte das empresas nacionais tem levado a que o humor partilhado entre os trabalhadores das organizações não esteja nos seus melhores dias. Para ‘injectar' uma dose extra de alento, garra e dinamismo, fundamentais para enfrentar a conjuntura agreste que se vive nos diferentes mercados e melhorar os resultados globais, muitas empresas estão a recorrer a acções específicas para levantar o astral dos seus colaboradores. Acções que passam por palestras motivacionais e ‘intervenções-choque' que provocam impacto e criam situações propícias para derrubar os obstáculos que sufocam a fluidez do funcionamento organizacional.
A C21Eventos organiza, entre outras actividades, sessões do riso para empresas cujos trabalhadores necessitem de um toque de descontracção para conseguirem interagir melhor em equipa. “Estas sessões permitem libertar as barreiras que existem na comunicação entre as pessoas e entre os departamentos das empresas. Isto acaba por ajudar os colaboradores a darem um melhor rendimento à empresa”, explica Ana Gaspar, responsável pela C21Eventos.
Aplicando os conceitos do médico indiano Madan Kataria, fundador do Yoga do Riso, que descobriu há 14 anos o poder das gargalhadas ao nível físico e emocional, a C21Eventos leva para as empresas a boa disposição de Sabrina Tacconi, devidamente diplomada através da fundação de Kataria como embaixadora do riso.
“Num contexto empresarial, trabalhamos com o lado lógico e analítico do cérebro, o hemisfério esquerdo. O que desenvolvemos com o riso é o hemisfério direito, ou seja, a intuição, a criatividade, o bem-estar. Desbloqueamos as pessoas individualmente e a partir daí, quando elas estão mais limpas emocionalmente, toda a relação com a equipa e com a empresa funciona melhor”, refere Sabrina Tacconi, que através da C21Eventos já levou o seu riso a empresas como as farmacêuticas Lusomedicamenta ou a Pfizer.
Pedro Tochas não é sisudo
Outro grande adepto de uma boa gargalhada, o comediante Pedro Tochas (foto de capa) tem-se desdobrado em palestras motivacionais, tendo como ponto de partida um lema que lhe é muito querido: “Costumo dizer que ser sisudo não é sinal de competência, é só sinal de que se é sisudo. Quem faz as suas tarefas bem-disposto não quer dizer que as faça pior do que os outros ditos sérios. Bem pelo contrário”.
Recorrendo ao humor, Pedro Tochas, speaker da empresa Izi Palestras, transmite determinadas percepções aos colaboradores das empresas que contribuem para reforçar o espírito de equipa, de liderança e o sentido de responsabilidade.
Em recessão, existe ainda uma tónica comum entre as organizações que o procuram: “Muitas pedem-me para passar a mensagem de que o grande objectivo subjacente é que empresa e colaboradores devem trabalhar todos no mesmo sentido e que estes percebam determinadas decisões hierárquicas, por difíceis que possam parecer”.
Com clientes regulares como a Sonae ou a HP, aquele que é também a cara das águas Frize, lembra que as boas empresas são as que apostam na formação (também comportamental) dos seus trabalhadores e que, no balanço final, são essas as que conseguem superar, mesmo quando a conjuntura económica não é a melhor. “Empresas que encaram de frente os problemas, que lembram que apesar de estes existirem não será o fim do mundo e que, no final, por serem competentes, o mercado continuará a precisar dos seus serviços. Não se pode é estar a dormir, pois quem dorme é eliminado”, realça ainda Pedro Tochas.
Na mesma sintonia, os responsáveis da Ideias e Desafio, empresa especialista em formação de liderança e coaching de equipas, acreditam que esta é a altura para agir e reagir, de forma a não ser engolido pelo mercado.
“Em relação à crise, costumo dizer que há uns que choram e outros que vendem lenços de papel. Ou as empresas se mexem e investem na formação, tornando os seus trabalhadores mais competitivos, ou então desaparecem”, sublinha José de Almeida, um dos responsáveis da empresa, que tem entre os seus clientes a Bayer e a Critical Software.
Para estimular, numa altura em que o espírito de alguns pode estar mais baixo do que nunca, a equipa da Ideias e Desafios recorre a intervenções ‘radicais' junto dos trabalhadores: partir tábuas de madeira, dobrar cabos de aço, andar descalço sobre vidros partidos ou sobre brasas incandescentes, são apenas algumas das tarefas que o comum dos mortais consegue surpreendentemente fazer, demonstrando tão-somente que afinal não há mesmo impossíveis.
Como pormenoriza Maria Vieira, também manager da Ideias & Desafios, a acção começa nestes exercícios radicais para ‘abanar' os participantes mas tem uma meta clara: “Que as pessoas percebam que, se conseguem fazer algo que parecia tão inatingível, também conseguem desbloquear outras tarefas que estão a limitar as suas vidas”.
Quando o círculo se fecha, é esta a garra que se quer nos trabalhadores, principalmente nos que estão no departamento de vendas. “Cada vez mais empresas nos procuram para as motivar em tempos de crise. Está a existir um grande investimento nessa área e, na prática, serão estes que estão em alerta que vão vencer a guerra”, remata ainda a responsável da Ideias & Desafios, que a 1 de Outubro irá realizar um congresso no Porto sob o lema ‘Motivação e desempenho'.