Entre a filosofia das artes marciais e a gestão quotidiana de equipas ou empresas há muito mais semelhanças do que diferenças. Hugo Silva, market director da Whirlpool Portugal e autor do livro “Cinto Negro” comprova-o ao explicar o segredo que levou inúmeras empresas orientais a vencer no mercado global. Naquele que é o seu primeiro livro, o gestor demonstra como se pode aplicar a filosofia das artes marciais orientais ao dia-a-dia das empresas, das organizações e das pessoas.
“O praticante de artes marciais deve fazer tudo para não perder os seus desafios e combates, contudo, deve estar consciente de que não existem vitórias consecutivas”, explica o gestor realçando que o mesmo sucede com as empresas: “nenhuma empresa, nem nenhum pais, cresce consecutivamente, sem sofrer qualquer derrota ou ciclo negativo”. Para Hugo Silva, o recente ciclo de crise global é a clara constatação de que esmo as melhores empresas ou países podem sofrer dificuldades com o efeito corretor do mercado. “Compreender o yin-yang é entender que esta crise era previsível, inevitável e necessária. Os excessos são sempre corrigidos, sejam eles a ganância, a mentira, a arrogância ou o poder bélico”, reforça.
É este entendimento que o autor procura promover com a sua obra defendendo, num constante paralelismo entre o quotidiano empresarial e a filosofia das artes marciais, que “o segredo da evolução é o que fazemos, enquanto profissionais e seres sociais, nos ciclos positivos, para mitigar e desacelerar o ciclo negativo seguinte”. Praticante e 3º dan de Karate-Do Goju-ryu Ohshikai, Hugo Silva é fundador do Bushido Portugal, desenvolve ações de formação e team building para empresas e organizações, levando a filosofia das artes marciais a distintos públicos. Na obra que acaba de lançar, descreve os princípios das artes marciais e das atuais formas de vida no ocidente, alertando para uma série de paradoxos dos tempos modernos e mostrando que cada ação sucede uma reação e que o mais difícil desafio passa pelo equilíbrio entre as forças positivas e negativas que, “em contínuo movimento, descrevem os ciclos de vida das pessoas e das empresas”, explica o gestor.
Orientada para uma lógica de equilíbrio, gestão de forças e fragilidades, respeito, nobreza e pela procura de harmonia entre opostos, a cultura oriental e os princípios de vida colocam a prática das artes marciais focada no objetivo de “contribuir para a evolução do individuo ajudando-o a enfrentar e encarar a realidade com energia, disciplina e coragem”. Hugo Silva garante que está na empresa como num dojo, procurando ajudar a aperfeiçoar os elementos da sua equipa, estimulando a sua disciplina e motivação. “O espírito do karaté é o da evolução constante, de ser melhor hoje do que ontem, e isso aplica-se às empresas”, garante.
Além de apresentar o potencial da aplicação da filosofia oriental às gestão organizacional, Hugo Silva descreve em “Cinto Negro” um conjunto de exercícios práticos, que podem ser utilizados para enfrentar situações quotidianas, quer a nível pessoal, quer a nível empresarial. No final, o autor desafia os leitores a uma reflexão sobre a forma como estes princípios podem influenciar e impactar positivamente os modelos de liderança ocidentais, sendo certo que como refere o autor, “esta não é uma obra de fórmulas perfeitas. Há muito erro pelo meio, mas também muita tentativa de evolução e melhoria a cada dia”. Princípios que, realça, devem nortear a estratégia de qualquer gestor.