Ruben Eiras
PORTUGAL tem que apostar numa política
de formação focalizada nas competências técnicas
e que leve em conta as necessidades do mercado, a fim de conseguir aumentar
a produtividade.
Esta foi a conclusão do debate gerado no painel
"A importância da formação profissional nas empresas",
organizado pela Certitecna, uma empresa de engenharia de segurança.
A iniciativa decorreu no dia 28 de Março, integrada na feira Segurex
2003, que decorreu na FIL, no Parque das Nações, em Lisboa.
Embora os últimos dados da formação profissional
do Ministério do Trabalho mostrem que, entre 1998 e 2000, as empresas
investiram mais nas áreas de engenharia e fabrico (16,4%), de informática
(14,7%), vendas e "marketing" (13,4%), Carlos Pitacas Antunes,
o responsável pela gestão do Programa Equal, adverte que
muitas das acções formativas de nível técnico
estão desadequadas tecnologicamente.
"Na nossa indústria, entre 60% e 70% das máquinas
ainda são manuais ou semiautomáticas. Estamos equipados
com a sucata da Europa", alerta, realçando que é
urgente uma acção no terreno que incentive os empresários
a adoptarem processos produtivos mais avançados tecnologicamente.
Carlos Pitacas Antunes avançou que o Equal (programa comunitário
que vem substituir o Adapt) vai, neste ano, concentrar esforços
na colocação em prática dos estudos e investigações
que na última década fizeram o levantamento de uma série
de boas práticas a este nível. "Se os resultados
não forem bons, não há dúvida de que a culpa
é inteiramente nossa", admite.
Mas será que a força de trabalho portuguesa, com tão
baixas qualificações, terá capacidade para aprender
a lidar com as novas tecnologias? Maria da Conceição Afonso,
técnica da Direcção Geral do Emprego e Relações
de Trabalho, está convencida que sim. Isto porque, se a população
activa nacional não possuísse, na prática, mais competências
do que aquelas que são reconhecidas a nível formal, "nós
não tínhamos conseguido alcançar o nível competitivo
que conquistámos durante a década de noventa",
observa.
Todavia, aquela responsável criticou o facto da aposta séria
na formação de adultos - crucial para actualizar as competências
da força laboral portuguesa - se ter dado tardiamente e com "má
articulação entre o IEFP e o Ministério da Educação".
Uma crítica à qual Carlos Fonseca, técnico do IEFP,
não respondeu directamente, mas avançou que aquela entidade
estatal está a testar um novo modelo de formação
decomposto por áreas de competência técnicas e operacionais.
"Neste novo formato, os trabalhadores só frequentarão
os módulos necessários ao preenchimento das suas lacunas
formativas", assegura.
Uma mudança de orientação defendida por Horácio
Covita, o responsável pelo projecto dos Centros de Recursos de
Conhecimento do Instituto para a Inovação da Formação,
que não poupou críticas à política formativa
seguida nos últimos 15 anos: "A maioria dos cursos foi
só formação em sala, de papel e lápis, porque
é mais barata e dá menos trabalho".
A comunidade profissional dos formadores também não escapou.
"Há pouco esforço por parte dos formadores no sentido
de compreenderem os problemas das empresas; a formação está
demasiado focalizada na oferta e despreza a procura. Isto não pode
continuar assim", sublinha. Este responsável também
alertou para a proliferação dos "turbo-formadores",
profissionais que "dão formação em quase
todas as áreas".
Para inverter esta situação, Horácio Covita sugeriu
a indexação do financiamento da formação ao
cumprimento de critérios de empregabilidade dos cursos, a aposta
na especialização dos formadores por áreas, o envolvimento
dos gestores das empresas na concepção dos programas de
formação públicos e a adopção de auditorias
de formação profissional para avaliar a eficácia
dos programas.