Ruben Eiras
OS TRABALHADORES portugueses afectados pelas falências
e deslocalizações empresariais sofrem uma quebra salarial
na ordem dos 11%. Esta é a principal conclusão de um estudo
elaborado por Anabela Carneiro, docente na Faculdade de Economia do Porto,
que foi apresentado no seminário "Desenvolvimento Económico
Português no Espaço Europeu", organizado pelo Banco
de Portugal nos dias 11 e 12 de Março na Fundação
Calouste Gulbenkian. A investigadora baseou os seus cálculos nos
dados dos Quadros de Pessoal de 1994 a 1996, utilizando a informação
relativa aos trabalhadores que perderam os empregos devido ao encerramento
da empresa.
A pesquisa revela que os efeitos do desemprego provocado pelo encerramento
da empresa no salário são persistentes e de magnitude
significativa.
Com efeito, em comparação com as remunerações
dos trabalhadores que não foram afectados por este fenómeno,
o valor salarial por hora de trabalho dos homens é 10% menor
e o das mulheres chega a um valor 12% mais baixo.
Por sua vez, a análise empírica dos resultados mostra
que o aprofundamento do fosso salarial entre estes dois grupos de trabalhadores
se deve ao aumento da rotatividade no emprego e à mudança
do tecido industrial.
"Isto poderá significar que este fenómeno laboral
leva à destruição de características específicas
da empresa que influenciam positivamente os salários, como a
sua dimensão e o nível de vendas por trabalhador",
refere Anabela Carneiro.
Desempregados mais penalizados
Um terceiro factor que induz ao corte salarial nos trabalhadores afectados
pelo encerramento das empresas deve-se ao longo tempo em que estão
desempregados.
Neste plano, a investigadora constatou que a fatia da força de
trabalho que passou por uma situação de desemprego prolongada
sofreu, em média, uma penalização adicional de
3% a 6% na remuneração por hora de trabalho.
Para atenuar os efeitos desta situação, Anabela Carneiro
sugere que o serviço público de emprego deverá
apostar na assistência à procura de trabalho e em programas
de formação que visem a actualização e reconversão
de competências.
A investigadora também frisa que o estudo confirma que os trabalhadores
nas empresas em risco estão dispostos a enveredar pela moderação
salarial para evitar o encerramento da empresa.
"Todavia, como muitas pesquisas já mostraram, a incidência
do salário mínimo no nosso tecido empresarial é
significativo. Isto significa que muitas empresas não têm
margem para 'puxar' a massa salarial para valores mais baixos",
salienta.
Neste contexto, Anabela Carneiro defende que a inclusão do "lay-off"
temporário poderia reduzir o elevado nível de encerramento
de empresas que caracteriza a economia portuguesa.