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Emprego em tempo de crise

Actividades ligadas à informática e às novas tecnologias da informação vão ser fonte de emprego em 2006. O sector da distribuição e áreas emergentes, como as energias renováveis, oferecem também oportunidades de trabalho
06.01.2006


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Marisa Antunes

O DESEMPREGO vai agravar-se em 2006, mas algumas classes profissionais parecem ter anticorpos suficientes para resistir aos efeitos da recessão económica. Engenharias de sistemas, de soft e hardware, vendas, distribuição, logística, energias renováveis, construção civil e atendimento em «call-centers» fazem parte do grupo de áreas que se revelam mais imunes à crise, segundo as previsões de alguns dos principais especialistas na matéria ouvidos pelo EXPRESSO.


«Prevejo movimentações em sectores como o das tecnologias de informação, ao nível dos quadros intermédios e seniores especializados, sobretudo na vertente comercial. E também continuará activo o sector da distribuição especializada e logística. O desemprego vai continuar a subir até 2007, mas vai afectar sobretudo os profissionais menos qualificados e também aqueles com uma faixa etária elevada, perto da reforma», refere Ana Luísa Teixeira, «country-manager» da MRI Worldwide Portugal, empresa de «executive-search».

Jorge Marques, presidente da Associação Portuguesa de Técnicos e Gestores de Recursos Humanos (APTGRH), corrobora: «Estarão favorecidos os jovens a entrar no mercado de trabalho, pois as empresas estão a renovar-se e procuram pessoas com potencial, ainda que sem experiência. Pode começar a surgir apetência pelos MBA's Executivos e pelas Escolas de Negócios que começam a ter um perfil internacional. A engenharia de sistemas, marketing, gestão e os recursos humanos estão em foco porque estão relacionados com os principais problemas com que as empresas se defrontam».

Ana Loya, «managing director» da Ray Human Capital, empresa igualmente especializada em «executive search», realça: «Enquanto recrutadores, os sectores da distribuição e dos produtos de grande consumo, graças aos novos licenciamentos para super e hipermercados, bem como a expansão de grupos com o El Corte Inglês, IKEA. A construção, devido ao imparável investimento em grandes centros comerciais, e as empresas de energias renováveis, por imposições comunitárias, estão também em destaque».

Na maior empresa de trabalho temporário a actuar em Portugal, a Select Vedior, o grosso das solicitações vai para operadores de «call-centers», informáticos, comerciais e trabalhadores das obras. «Tudo o resto está parado», diz Mário Costa, administrador-executivo da empresa. Mesmo em tempos de crise, o responsável lembra que a empresa que gere «cria 70 mil empregos por ano». E sublinha: «Apesar do que dizem os sindicatos em relação ao trabalho temporário, acabamos por perder um terço dos nossos colaboradores que acabam por entrar para os quadros das empresas que os solicitaram».

José Quintino, director comercial da Egor, empresa de consultoria de recursos humanos, partilha a opinião que «em 2006 continuará a ocorrer, ainda que de forma moderada, a aposta nos recém-licenciados, dada a reestruturação de algumas empresas». Mas, conforme salienta Ana Loya, a procura de licenciados em Gestão e Economia não abrange quem se formou em «faculdades privadas de menor renome e notoriedade no mercado de trabalho».

Com tanta oferta de mão-de-obra qualificada, os empregadores podem dar-se ao luxo de escolher. Por isso, Jorge Marques prevê «uma tendência crescente para as empresas optarem por pessoas que, tendo uma licenciatura numa área preferencial, possuam também uma pós-graduação prática numa outra área preferencial». Como, por exemplo, «ser-se engenheiro de sistemas e ter uma pós-graduação em recursos humanos», exemplifica o presidente da APTGRH. Já os mestrados não representam propriamente uma mais-valia, considera Jorge Marques, «porque são demasiado teóricos e sem adaptabilidade suficiente ao mercado de trabalho».

Em alta vão continuar os cursos tirados nos politécnicos, prevê Luciano Rodrigues de Almeida. O presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos lembra que, segundo um estudo do Observatório da Ciência e do Ensino Superior, 80% dos 102 mil estudantes destes estabelecimentos têm emprego garantido, pois «aliam um forte saber ao saber fazer», salientando que «nas áreas tecnológicas, a capacidade de absorção do mercado é total».

No entanto, «infelizmente, um terço das vagas dos cursos tecnológicos ficaram por preencher, algo que não aconteceria se o sistema de ensino em Portugal fosse semelhante a países como o Reino Unido, Alemanha ou Irlanda, onde a única condição de acesso às faculdades é a conclusão do ensino secundário com aproveitamento», sublinha Rodrigues de Almeida.

A culpa destas vagas por preencher é da Matemática, calcanhar de Aquiles dos estudantes portugueses e prova de ingresso obrigatória para quem quer seguir a vertente tecnológica.

Os empregadores

A APOSTA no Plano Tecnológico vai marcar ainda mais a procura de uma classe de profissionais cada vez mais disputados no mercado de trabalho: os tecnólogos.

João Picoito, responsável pela Siemens Communications, lembra que os engenheiros de todas as áreas de tecnologias de informação estão «em pleno emprego». O responsável da Siemens começou já a recrutar engenheiros de soft e hardware, electrónica e telecomunicações para o novo centro de inovação vocacionado para a gestão de redes de telecomunicações, a inaugurar em finais de Abril. «Serão cerca de 300 pessoas e cerca de um terço já estão contratadas», diz.

Num outro sector, o da distribuição, prevê-se também um nível elevado de recrutamentos. Segundo o presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), espera-se para este ano entre 100 a 120 licenciamentos para novas lojas. «Em 2005, as 104 lojas abertas, só dos nossos associados, permitiram a criação de 3500 postos de trabalho directos e cerca de dez mil indirectos, por isso acreditamos que o movimento seja semelhante para este ano», referiu Luís Vieira e Silva.





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