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Empreender contra a corrente

Os últimos dados do Fórum Económico Mundial revelam que Portugal caiu no «ranking» da Estratégia de Lisboa que mede o esforço dos países-membros para atingir os objectivos definidos em Março de 2000, onde se inclui por exemplo o fomento ao empreendedorismo
31.10.2008


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Cátia Mateus
Fazer da economia europeia a mais competitiva do mundo, com um crescimento sustentado, maior capacidade de criação de emprego e coesão social, com um mercado financeiro forte, desenvolvendo em simultâneo a produtividade das empresas e o empreendedorismo e inovação foram algumas das principais metas definidas pelo Conselho Europeu para um prazo de dez anos, em Março de 2000. Metas que ficaram agrupadas na Estratégia de Lisboa que agora merece um novo balanço da Rede Global de Competitividade que, a cada dois anos, compara a actuação individual de cada um dos membros da UE rumo ao alcançar destes objectivos. Os últimos dados não são favoráveis a Portugal que decaiu uma posição, passando a ocupar o 14º lugar no «ranking». Segundo o estudo, Portugal falha sobretudo na criação de indústrias de rede (como os serviços), na inclusão social mas também na capacidade de criar emprego e aumentar a sua população activa. Limitações próprias de um país que ainda parece passar ao lado na arte de empreender.

E são vários os factores que afastam os jovens da criação de novos negócios. Poucos são até os que, na ausência de um emprego por conta de outrém, encaram a via da iniciativa empresarial como uma porta de entrada na vida activa. Um estudo recente da investigadora e professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Aurora Teixeira (designado de ‘Atitudes dos estudantes face ao empreendedorismo', uma análise do caso português, realizado em parceria com o investigador Todd Davey da Muenster University of Applied Sciences) revela que apenas seis por cento dos alunos portugueses criam uma empresa, sendo a aversão ao risco o principal entrave ao empreendedorismo em território nacional. <MC1>Uma realidade que fica muito aquém de países como a Irlanda, os Estados Unidos ou até o Reino Unido, onde metade dos estudantes troca o emprego por conta de outrém pela criação do seu próprio negócio.

Curioso é que apesar da percentagem dos que já deram passos efectivos na criação da sua empresa se ficar pelos seis por cento, o estudo indicia que um em cada três alunos manifesta intenção em criar o seu próprio negócio. Medo de arriscar, falta de capacidade de inovar, pouca criatividade e desconhecimento das burocracias necessárias para a criação de empresas constituem assim as principais barreiras na criação de novas empresas. Segundo a autora do estudo, “a falta de financiamento leva mais de metade dos estudantes (60%) a preferir um emprego por conta de outrem a criar o seu próprio negócio”.

A especialista salienta ainda que a falta de conhecimento dos processos inerentes à criação de empresas por parte dos estudantes é um dos factores que mais inibem o empreendedorismo em Portugal. Aurora Teixeira acredita mesmo que é necessário o maior investimento do sistema de ensino nesta área promovendo, por exemplo, a interacção entre alunos e empresários em sessões de esclarecimento sobre esta temática.

A investigadora defende também a importância de fomentar a criação de pontes entre os estudantes com projectos empresariais e as organizações privadas e públicas de incentivo ao empreendeedorismo, como sejam incubadoras, empresas de capital de risco, associações de empreendedores e outras instituições. Até porque, segundo a autora do estudo, “a grande maioria dos estudantes inquiridos (80%) afirma que seria mais empreendedora se a universidade promovesse regularmente o contacto com empresários ou docentes com experiência empresarial”. Uma tarefa que parece ser mais fácil de alcançar nas instituições de ensino superior privadas e nos politécnicos já que o trabalho realizado conclui que nestas instituições se regista maior motivação rumo à criação de empresas.

A professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto revela ainda alguma preocupação face a uma das conclusões do estudo que conduziu em Portugal: os estudantes de tecnologias estão muito abaixo da média no que concerne às intenções de criação de empresas. Uma realidade que considera urgente modificar.

O inquérito conduzido por Aurora Teixeira insere-se num projecto internacional. As conclusões agora apresentadas fazem parte de uma primeira fase de entrevistas a estudantes portugueses estando já uma segunda fase em curso, cujos resultados serão divulgados em Dezembro deste ano.





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