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Empreendedores em potência

A 9.ª edição da Feira do Empreendedor voltou a encerrar com saldo positivo. Durante tr~es dias, estudantes, empresários e potenciais empreendedores partilham o mesmo espaço
24.11.2006


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Cátia Mateus
JOÃO Rafael será, provavelmente, um dos mais jovens visitantes que pisou a 9ª edição da Feira do Empreendedor que no passado fim-de-semana decorreu no edifício da Alfândega do Porto. Tem cinco anos e acompanhou os pais, ambos empresários, na sua visita anual ao certame. Com a curiosidade própria das crianças, mas também dos empreendedores, largou por escassos minutos a mão da mãe para ver mais de perto o stande de uma das 90 empresas presentes no evento. A acção valeu-lhe uma repreensão, mas assegurou-lhe a entrevista.

O João garante que quer ser empresário e foi sob o olhar atento dos pais que explicou ao Expresso o que estava ali a fazer. “Viemos comprar um negócio”, argumentou com ar sabedor. E até sabe o que procura. O João quer ser dono de uma empresa que fabrique brinquedos electrónicos, “iguais àqueles cães-robô que falam e tudo”. E a melhor parte é que quer fazê-lo em Portugal, “lá na garagem, onde o pai tem as ferramentas para arranjar a moto”, explica.

O João vai ter ainda algum tempo para aprender que os negócios não se compram assim como os bolos ou as gomas e que para ter uma empresa é preciso mais do que sonhá-la e o processo nem sempre é simples. Não sabemos se nessa altura abandonará a ideia de ficar por Portugal. Mas mesmo assim, talvez possa vir a integrar uma nova geração de empreendedores. Uma geração que encara a criação do auto-emprego como uma forma de ingresso no mercado de trabalho. Uma geração que tem um contacto directo com o empreendedorismo logo desde os primeiros anos de vida escolar. Uma geração com menor aversão ao risco e com maior espírito de iniciativa.

É esse um dos objectivos da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), entidade promotora da Feira do Empreendedor que este ano apostou num certame mais informal e reforçou a proximidade entre os potenciais empreendedores e os empresários já estabelecidos. Sempre concorrida, a Feira do Empreendedor voltou este ano a reunir grandes adeptos entre os jovens estudantes que, literalmente, invadiram o recinto da feira logo no primeiro dia para assistir às várias conferências temáticas e percorrer as várias ruas da “cidade de todas as oportunidades”.

Uma adesão que Armindo Monteiro, presidente da ANJE, acolhe com agrado confessando que se trata de um sinal claro do interesse que as novas gerações têm vindo a ganhar pela vida empresarial. A Feira do Empreendedor parece ter encontrado uma boa fórmula para alcançar públicos distintos. Num mesmo espaço é possível encontrar estudantes, expositores, docentes, trabalhadores por conta de outrem, empresários juniores, empresários seniores e aspirantes a empresários. O objectivo é o mesmo: aprender a empreender.

E neste plano, Armindo Monteiro considera que o país já percorreu um longo caminho, mas ainda há muito a fazer. Portugal já venceu várias etapas mas há uma que ainda se impõe como entrave: o medo de fracassar. Uma limitação que até o Governo considera urgente ultrapassar. Na sessão de abertura da Feira do Empreendedor, foi o próprio secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, Fernando Medina, quem relembrou a velha máxima de que “errar é humano e é sempre pior não tentar do que fracassar”.

Num discurso em que incentivou claramente os presentes a combaterem a aversão ao risco e encararem a vida empresarial como uma carreira igual a tantas outras, Fernando Medina lamentou que o medo ainda seja um entrave em Portugal, e apelou a que se encare o fracasso como um aspecto pedagógico. Um objectivo que Armindo Monteiro diz ser partilhado pela ANJE. E o presidente da associação realça “o importante papel que o ensino pode ter no combate a esta ideia tão enraizada na cultura portuguesa”.

Para a ANJE “é fundamental que os currículos escolares sejam mais voltados para o mercado”, explica Carlos Freitas, director de Empreendedorismo e Ensino daquela associação. O responsável explicou que a ANJE aproveitou a presença do secretário de Estado no certame para lhe fazer chegar uma proposta que reúne várias medidas na área do empreendedorismo, entre as quais a integração desta disciplina nos currículos deste o pré-escolar ao ensino superior.

Em declarações ao Expresso, Armindo Monteiro enfatizou a aposta constante da associação que lidera no campo da formação e qualificação de recursos humanos, sejam eles empresários ou trabalhadores por conta de outrem. Para o líder dos jovens empresários, “é fundamental aumentar o nível de qualificações da mão-de-obra portuguesa e a ANJE vai prosseguir com um plano de formação completo e ambicioso em vários domínios e áreas de saber”.

Segundo o presidente, “as apostas de formação da ANJE para 2007 estão já bem definidas, contudo, temos neste momento uma incógnita que é o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)”. Para Armindo Monteiro, “a meta é caminhar no sentido de uma formação que possibilite uma equiparação à educação mais tradicional”, mas confessa que “até aqui não tem sido possível”.

Além das várias metas que já estabeleceu para o futuro, Armindo Monteiro quer também levar a Feira do Empreendedor a outras cidades do país que não o Porto e Évora, onde o certame já tem lugar. Lisboa está na mira dos presidente dos jovens empresários que considera não fazer sentido que o certame das oportunidades não chegue à capital do país.





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