Cátia Mateus e Maribela Freitas
        
         MOBILIDADE, experiência, intercâmbio, valorização 
        pessoal e profissional são as grandes bandeiras do programa Erasmus. 
        Em 15 anos de existência, este programa comunitário já 
        movimentou mais de um milhão de estudantes em toda a Europa. Uma 
        iniciativa de sucesso, num programa que muda por completo o rumo dos que 
        nele participam.
      
    
    
      
      
    
  
  
  
  
     
       
        
          No último ano lectivo, 2825 estudantes portugueses beneficiaram 
          desta iniciativa, de acordo com os dados oficiais. Jovens como Sofia 
          Leitão ou Patrícia Alves Rocha, que encontraram no Erasmus 
          uma forma de alargar horizontes e, quem sabe, de vir a trabalhar fora 
          de Portugal no futuro.
          
          Mesmo antes de entrar para a universidade, Sofia Leitão já 
          pensava em ingressar no programa Erasmus. A frequentar o terceiro ano 
          do curso de Relações Internacionais da Universidade Lusíada, 
          esta aluna de 23 anos decidiu partir em Setembro para a Universidade 
          Montesquieu IV, de Bordéus, ao abrigo deste programa.
          
          "Tinha duas hipóteses de escolha: França ou Itália. 
          Acabei por optar pela primeira porque pretendia aperfeiçoar os 
          meus conhecimentos nesta língua", conta Sofia Leitão. 
          
          
          Além disso, pesou na decisão de ir para fora um ano, o 
          facto de estar a fazer uma licenciatura em relações internacionais 
          e pretender um dia mais tarde, vir a trabalhar no estrangeiro. 
          
          Sofia espera que o ano que vai passar a fazer o programa Erasmus lhe 
          traga benefícios futuros em termos de carreira e também 
          uma maior facilidade no acesso ao mercado de trabalho depois de terminar 
          a licenciatura.
          
          Apesar de estar apenas há três meses em França, 
          a jovem portuguesa confessa estar a adorar a experiência. Acrescenta, 
          no entanto, que "no início foi complicado. Estava numa 
          cidade nova, sem amigos nem família e fui morar para uma residência 
          universitária. Mas ao fim de alguns dias já tinha ligação 
          com outros estudantes estrangeiros que se encontravam na mesma situação 
          que eu".
          
          Além disso, sentiu ainda diferenças no método de 
          ensino - que apelida de bastante teórico -, acrescido pelo facto 
          de todos os exames e orais serem feitos em francês, uma língua 
          que não domina na perfeição. Refere ainda que "os 
          franceses não são nada abertos e não ajudam muito 
          os estrangeiros". 
          
          Mas, mesmo com todas as dificuldades que a decisão de ir estudar 
          para um país estrangeiro implica, Sofia Leitão não 
          poupa elogios às vantagens desta experiência. "Um 
          ano de Erasmus traz consigo muitas mais-valias, nomeadamente perspectivas 
          profissionais, possibilita o domínio de uma outra língua, 
          o conhecimento de um país diferente do nosso e faz com que tenhamos 
          a oportunidade de fazer amigos de outros países", refere 
          com um brilho no olhar.
          
          Razões partilhadas por Patrícia Alves Rocha, que também 
          faz um balanço positivo da sua experiência enquanto estudante 
          Erasmus. Veterana na matéria, esta economista de 23 anos não 
          conseguiu resistir ao apelo da experiência internacional e no 
          terceiro ano da licenciatura trocou os anfiteatros na Universidade de 
          Coimbra pela condição de estudante Erasmus em França. 
          As dificuldades foram muitas mas, dois anos depois da experiência, 
          confessa que ficou uma pessoa diferente.
          
          Não falava francês quando escolheu como destino uma universidade 
          daquele país. Com o à-vontade de quem gosta de desafios, 
          Patrícia lá vai dizendo que pior do que a dificuldade 
          de fazer exames numa língua que não se domina, são 
          as saudades de casa.
          
          Na realidade, a jovem afirma sem hesitações que "o 
          período de adaptação de um estudante estrangeiro 
          é sempre difícil. Uns porque não dominam o idioma, 
          outros porque sentem falta da família. Eu combinava os dois: 
          não falava francês e tinha imensas saudades de casa, tantas 
          que nos primeiros tempos quase não ligava para Portugal porque 
          me custava imenso".
          
          Hoje, acredita que a determinação e vontade de chegar 
          ao fim são fundamentais para sobreviver à experiência. 
          E se, por vezes, as saudades de casa falaram muito forte, o seu espírito 
          vencedor assegura que "não conseguiria desistir à 
          primeira contrariedade e ficar sempre com a ideia se teria conseguido 
          ou não cumprir o meu objectivo".
          
          Na altura tinha 20 anos. Concluiu o Erasmus com sucesso e regressou 
          a Portugal para terminar a licenciatura. Confessa que o saldo mais positivo 
          que retirou desta experiência terá sido "a possibilidade 
          de conhecer outras pessoas com uma cultura completamente diferente da 
          nossa". 
          
          Durante o ano que esteve em França, Patrícia dividiu um 
          apartamento com outra estudante portuguesa e um árabe. Garante 
          que esta coabitação a enriqueceu e acima de tudo a tornou 
          "mais tolerante e capaz de contornar as dificuldades".
          
          Condições também elas fundamentais para vencer 
          nesta experiência além-fronteiras. É que a jovem 
          alerta: "O pior erro que um estudante Erasmus pode cometer é 
          ficar fechado no seu cantinho, com muita vergonha de falar e dizer os 
          disparates próprios de quem não domina a língua, 
          sem se relacionar com ninguém". Diz Patrícia 
          Alves Rocha que "optando por esta via, o mais provável 
          é que não retire nada de positivo da experiência 
          ou então acabe mesmo por desistir".
          
          Em termos profissionais a jovem não tem dúvidas que este 
          é um contributo forte, mas confessa que ainda não retirou 
          da experiência todos os benefícios que esta confere ao 
          seu currículo. 
          
          É que Patrícia optou por concluir a licenciatura e dar 
          seguimento aos estudos. Deu prioridade ao mestrado em Economia que frequenta 
          neste momento na Universidade do Porto. Ainda assim, trabalha no Departamento 
          Financeiro de uma empresa ligada ao turismo.
          
          Gosta do que faz, mas a sua grande ambição é enveredar 
          pela carreira académica. Do Erasmus herdou a vontade de conhecer 
          o mundo e apostar numa carreira internacional. 
          
          Talvez por isso Patrícia Alves Rocha confesse sem que, "sem 
          dúvida o doutoramento será fora de Portugal". 
          A área será a da Economia, o destino é que ainda 
          está por escolher!
          
        
        Rumo à Europa
        São cada vez mais os estudantes portugueses a embarcarem rumo 
          a uma experiência académica noutro país europeu, 
          com vontade de conhecerem outras culturas e enriquecerem o seu currículo. 
          Há 15 anos que quem fala em intercâmbio de estudantes, 
          pensa em Erasmus. 
          
          Um conceito de tal forma enraizado que já movimentou qualquer 
          coisa como um milhão de estudantes no espaço comunitário. 
          Para participar neste programa basta ter concluído o primeiro 
          ano do curso e que a universidade que frequenta seja uma das aderentes 
          à iniciativa. 
          
          A partir dai o estudante tem a possibilidade de frequentar o seu curso 
          numa universidade europeia por um período que varia entre os 
          três meses e um ano.
          
          Aos alunos Erasmus é atribuída uma bolsa de mobilidade, 
          pensada para apoiar os alunos nas despesas complementares. Ou seja, 
          não cobre a totalidade da estadia no estrangeiro, mas sim os 
          gastos que o aluno não teria em Portugal tendo em conta o eventual 
          nível de vida mais elevado do país de acolhimento.
          
          É o estudante quem trata de todo o processo e por isso é 
          fundamental a recolha de informações sobre o país, 
          mas o primeiro passo é mesmo conhecer os prazos de candidatura 
          e requisitos a cumprir (pode fazê-lo em www.desup.min-edu.pt 
          . Depois há que preparar a estadia. Entre os destinos preferenciais 
          dos portugueses destacam-se: Espanha, Itália, França, 
          Alemanha e Reino Unido.
          
          'Dicas' de sobrevivência
          
          Quem parte para um país estranho, com uma língua praticamente 
          desconhecida, necessita de alguns conselhos práticos de sobrevivência. 
          Para saber como dar a volta por cima e aproveitar ao máximo esta 
          oportunidade, ficam aqui algumas 'dicas' para sobreviver a um ano de 
          Erasmus: 
          
          - É fundamental interiorizar a ideia de que qualquer pessoa 
          pode "sobreviver" a esta experiência desde que enfrente 
          com determinação as dificuldades;
          
          - Evite o isolamento, aproxime-se das pessoas e faça amizades;
          
          - O apoio da família é fundamental. Mesmo estando 
          longe é importante saber que há alguém pronto a 
          ajudar; 
          
          - Quem aposta no Erasmus deverá ter um espírito 
          aventureiro e estar aberto a conhecer novas culturas e pessoas;
          
          - Como é o estudante quem trata de todo o processo é 
          fundamental ter atenção aos pormenores. Quem já 
          passou pela experiência aconselha a encontrar alojamento apenas 
          quando lá estiver.
          Arrendar casa à distância pode trazer surpresas desagradáveis;
          
          - E porque está por sua conta e risco saber "cumprir 
          as lides domésticas" parece ser fundamental.