Cátia Mateus
Os negócios verdes estão na ordem do dia. Nascem pequenos, como a quase totalidade das empresas, muitas vezes motivados mais pela ideologia do que pelo retorno financeiro imediato do investimento. Entre 2004 e 2006, foram criados na Rede Nacional de Centros de Formalidades das Empresas (CFE), 334 novos negócios cuja área de actividade está ligada às questões ecológicas e ambientais. Além destas empresas, outras terão sido criadas fora dos CFE, por empreendedores nacionais que abraçaram a causa de reconciliar o capitalismo com o ambiente. Gente que quer ajudar o país a crescer, devolvendo à natureza — em respeito — aquilo que ela nos oferece em recursos.
A consultoria ambiental e a reciclagem lideram nas áreas de actividade das empresas criadas nos CFE nacionais. Mas há que destacar a atenção dada aos produtos naturais e às energias renováveis, que sofreram um acréscimo significativo entre 2005 e 2006, passando de 8 para 18 empresas criadas.
A eficiência energética é exactamente uma das áreas de aposta de Tiago Vasconcelos que a partir da Trofa deu forma à I-Sete. Na sua empresa, o gestor de 36 anos, comercializa equipamentos de eficiência energética para Portugal e Países de Língua Oficial Portuguesa. Mas em simultâneo intervém em duas outras áreas: a consultoria energética e a reciclagem de consumíveis informáticos. “A empresa tem como clientes outras empresas e entidades consumidoras de energia e iluminação pública”, explica o empresário que justifica a sua opção de negócio com o facto de a área ambiental conciliada à redução de custos ser bastante motivadora e aliciante.
O empresário, que abandonou o seu emprego num grande grupo económico para criar a I-Sete, enfatiza ainda que “o facto deste ser um negócio em permanente mutação e que exige um esforço de evolução constante, é altamente motivador”. A I-Sete emprega neste momento 15 pessoas e tem no horizonte abraçar novas oportunidades de negócio relacionadas com a área em que actua. Tiago Vasconcelos é da opinião que “ninguém é nada sozinho” e por isso não fecha as portas à entrada de novos parceiros de negócio, eventualmente, “no país destinatário das exportações que deverão iniciar-se ainda este ano”.
Entre os projectos futuros do gestor estão a exportação e a avaliação de novas oportunidades de negócio, nesta que considera ser uma área com forte potencial de expansão no país e no estrangeiro. Mas se hoje as questões ambientais estão na ordem do dia, o líder da I-Sete considera que há 10 anos atrás, antes de criar a empresa, “tudo era menos fácil nesta área, começando por mim e pela experiência profissional que possuía, passando pelo processo burocrático e legislação que regulava o sector, bem como na responsabilidade ambiental das empresas”. Entraves que confessa ter ultrapassado com uma receita simples: “95% de transpiração e 5% de inspiração”.
Com esta ou outra estratégia, a equipa da empresa Terramater entrou no mercado actuando na área da comunicação e sensibilização ambiental. Esta equipa multidisciplinar composta por cinco elementos e liderada por Maria João e Pedro João, licenciados em gestão e matemática, respectivamente, tem por base o respeito pela natureza e a noção de que é necessário retribuir ao ambiente tudo o que ele oferece. Razão pela qual os empreendedores ousam referir que a sua missão empresarial é “salvar o mundo”.
E não é só aqui que a jovem equipa coloca a fasquia elevada. Maria João e Pedro não revelam o investimento inicial da sua empresa que dizem ter sido “todo o nosso ser e alguns tostões”, mas afirmam sem rodeios que “esse investimento só terá sido recuperado quando o filme do Al Gore já não fizer sentido”. A Terramater foi criada há um ano. O negócio está em expansão e a sua equipa aposta, através dos seus serviços, no desenvolvimento de acções de comunicação e sensibilização ambiental que tenham impacto no cliente e no seu público.
Nestas campanhas, a Terramater utiliza vários mecanismos como conteúdos científicos, jogos pedagógicos, observação da natureza, oficinas temáticas, estudos de impacte ambiental, consultoria para financiamentos ambientais, campos de férias, oficinas temáticas, guias ambientais e pedestres, acções de dinamização («teambuilding», teatro e acções de rua), entre outros. A equipa tem como metas ampliar a sua oferta de serviços e internacionalizar o conceito, talvez para África. Afinal o seu público é, numa escala global, o mundo. Talvez por isso, neste negócio inspirado pela natureza, pelas pessoas e pela qualidade de vida, o lema empresarial seja “aconteça o que acontecer, não esquecer de respirar”, revelam em tom de graça.
Mas a verdade é que apesar desta crescente sensibilização do país para as causas ecológicas, Portugal vive além das suas possibilidades em matéria ambiental. De acordo com o último relatório da organização ambiental WWF, “cada português deve 2,6 hectares à terra”. Isso mesmo. A “pegada ecológica” para Portugal — que contabiliza tudo de renovável que o ser humano consome, expresso num hectare global com produtividade média — revela que cada português precisa de pelo menos 4,2 hectares de terras e superfícies de água para si. Porém, o país só tem 1,6 hectares produtivos «per capita», vivendo claramente além das suas possibilidades e em défice ambiental. Apenas nas florestas, Portugal tem, por agora, mais capacidade de regeneração do que consumo.