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A um passo da realidade

Como descobrir um jovem talento ainda antes de o recrutar efectivamente para a empresa? Para ajudar a selecção, muitas são as empresas que estão a aderir aos estimulantes jogos de gestão, onde os candidatos são colocados perante desafios muito próximos da realidade
18.04.2008


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Marisa Antunes
É uma verdade de La Palisse: pessoas competentes geram resultados e contribuem para o sucesso das empresas onde trabalham. Cientes desta evidência, as organizações são cada vez mais cuidadosas no recrutamento dos seus executivos e na gestão dos seus talentos. Uma das formas que está a ser crescentemente utilizada para saber se a opção de selecção foi a acertada é colocar os futuros ou actuais colaboradores perante problemas reais e observar as suas capacidades de liderança, motivação, inovação e cooperação em grupo. A Danone e a Logica, multinacionais e líderes nas suas respectivas áreas de actuação, são apenas dois exemplos de empresas que já aderiram aos estimulantes jogos de gestão em ambiente internacional.

Reunindo 60 universitários finalistas de 12 países de diferentes pontos do globo como a Indonésia, Arábia Saudita, Brasil, China, Rússia ou Portugal, o ‘Trust Game' da Danone é uma competição aguerrida onde os jovens têm apenas um dia para definir estratégias de gestão perante uma situação real que as filiais da multinacional enfrentam nos seus mercados locais. O jogo, que decorreu na passada semana na sede parisiense da empresa, é um autêntico «braimstorming» ao vivo e a cores.

Distribuídos por equipas de cinco, os 60 jovens apresentam propostas que são depois devidamente fundamentadas e defendidas, no final do extenuante dia de trabalho (que começa bem cedo), perante um grupo de 60 chefias da Danone, de diversos departamentos. “O ‘Trust Game' é importante para a Danone porque para além de atrair jovens talentos, permite mostrar-lhes «in loco» qual o modelo de negócio que a empresa segue e a forma como alcançamos o sucesso. Além disso, incrementa a nossa «network» global”, pormenorizou ao Expressoemprego, Muriel Penicaud, directora da Danone para o departamento de Recursos Humanos, a nível mundial.

Lembrando que desde a primeira edição do jogo de gestão, em 2003, já foram recrutados cerca de 260 jovens, a responsável fez questão de sublinhar que o "‘Trust Game', apesar de não ser a maior fonte de recrutamento na Danone é, sem dúvida, a mais visível e a grande bandeira na abordagem de atracção de jovens talentos".

60 lugares para 5000 mil candidatos

Na edição deste ano que agora decorreu, a equipa russa, seguida da polaca e da chinesa ficaram nas primeiras posições. Os cinco jovens portugueses do Instituto Superior Técnico, do curso de Engenharia e Gestão Industrial ficaram na 11ª posição, mas apesar do compreensível desalento que sentiram no desfecho da prova, eles, tal como os restantes concorrentes da final, eram já à partida, vencedores, seleccionados entre mais de cinco mil universitários de 1013 equipas de todo o mundo.

Como explicou Hugo Faria, «manager» dos Recursos Humanos da Danone Portugal, o processo de selecção que premiou, a nível nacional, a equipa do Técnico, prolongou-se por três etapas e envolveu nove das mais prestigiadas universidades do país nas licenciaturas de Economia, Gestão e Engenharias. “Os participantes são avaliados a vários níveis: na capacidade analítica e conceptual de análise, na qualidade, rigor e empenho que colocam no trabalho, bem como na forma como dominam os conceitos de gestão, o modo como comunicam, trabalham em equipa e lideram e também no auto-controlo e maturidade reveladas perante situações específicas”, pormenorizou Hugo Faria.

Para os cinco jovens da equipa portuguesa (Joana Braz, Manuel Valente, Luís Diniz, Helena Macieira e Nuno Meireles), a experiência não poderia ter sido mais gratificante. “Dá-nos outro ‘estofo' para a nova etapa profissional que aí vem”, aponta Luís Diniz. “Crescemos sempre muito com estas experiências. E acabamos por aprender bastante até sobre nós mesmos”, reforça também Manuel Valente, que à semelhança dos quatro colegas já garantiu o estágio efectivo na Danone Portugal.

Tendo já arrecadado a distinção da melhor empresa para os jovens trabalharem no «ranking» do instituto «Great place to work», a Danone garante a muitos deles, interessantes oportunidades de carreira, inclusive a nível internacional.

Entrar pela via do «Trust Game» é só o primeiro passo. "Um ano após terem sido recrutados, dois terços destes jovens têm acesso a uma categoria que nós baptizámos de potenciais «high-flyers». Por aqui se vê, que do ponto de vista da qualidade das pessoas que contratamos, este é um processo muito seguro", enfatiza ainda Muriel Penicaud.

“A média final do curso já não chega”

Também a multinacional Logica, empresa líder em serviços de TI e Gestão, está a apostar seriamente nesta emergente forma de recrutamento. Em Portugal, a Logica já assegurou a sua presença na 29ª edição do Global Management Challenge, competição internacional de estratégia e gestão que envolve mais de 360 mil quadros de empresas e universitários de 28 países de todo o mundo.

Organizada a nível nacional pela SDG (Simuladores e Modelos de Gestão) e pelo jornal Expresso, esta iniciativa consiste em simular a gestão de uma empresa com o objectivo de obter a mais alta cotação das suas acções na Bolsa de Valores. A Logica far-se-á representar nesta competição por 15 equipas: uma de estudantes, uma de quadros da empresa e 13 mistas compostas por dois colaboradores e três estudantes.

A equipa vencedora irá representar Portugal na final internacional do Global Management Challenge, onde irá defrontar os vencedores dos outros países participantes.

“Para os estudantes universitários que vão integrar as equipas da Logica, esta é uma oportunidade de contactar directamente com profissionais e de conhecerem de perto a realidade de uma organização como a nossa”, afirma João Antunes, director de Recursos Humanos da Logica. “A participação nesta competição proporciona a experiência, ainda que simulada, de gerir uma empresa e de perceber como as decisões em diferentes áreas interagem e criam impacto nas organizações”, acrescenta ainda o responsável.

Para os colaboradores da Logica, e segundo João Antunes, “o objectivo é partilhar experiências e conhecimentos adquiridos e desenvolver competências na área da comunicação, liderança e motivação de equipas. Por seu turno, a Logica vê nesta competição uma oportunidade para observar de perto o talento e o potencial dos estudantes universitários, possíveis candidatos ao nosso programa de recrutamento de «graduates», o Refreshing Us”.

Também Jorge Marques, presidente da Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos (APG) reforça a importância destes jogos de gestão: “Estes modelos de avaliação estão agora muito em voga e vêm substituir os estágios reais, durante seis meses, a que as empresas recorriam com muita frequência há uns tempos”.

Para o especialista, hoje em dia, “a nota final do curso já não chega”. “As organizações procuram gente especial, verdadeiros talentos e esta é uma forma de os encontrar, pois os candidatos são colocados perante situações próximas da realidade e é possível, através destas simulações, atestar as suas atitudes”, remata Jorge Marques.





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