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A nova era das Humanidades

02.07.2004


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Susana Branco

NUMA altura em que a distância entre uma licenciatura e o emprego é cada vez maior, volta a fazer sentido optar por um curso de Humanidades. Esgotada a via da docência, em finais dos anos 90, as Letras começam agora a conquistar mais alunos e novos mercados de trabalho.


Segundo um estudo realizado pelo Observatório de Emprego (OE), projecto promovido pelo sector de Inserção Profissional do Gabinete de Formação e Educação Contínua da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), conclui-se que num universo de 2060 alunos (correspondente ao total de diplomados entre 1999 e 2002 pelos diversos cursos promovidos na FLUP), 61, 9% encontram-se já integrados no sistema de emprego, sendo que 51,5% obtiveram trabalho em menos de três meses e apenas 10% estiveram mais de um ano à procura de uma actividade profissional.

A partir de uma amostra válida, o OE destaca ainda a Administração, com 11,9%, e a Formação Profissional, com 11%, como as novas áreas profissionais para os licenciados em Letras.

Para Ana Monteiro, presidente do Conselho Directivo da FLUP, este poderá ser o início de uma nova era: "O curso de história foi a primeira vítima do desemprego na docência e, no entanto, desde o ano passado que os 'numerus clausus' neste mesmo curso têm vindo a aumentar".

Ao longo de 54 anos de funcionamento, a FLUP foi ampliando a oferta inicial de licenciaturas de Línguas e Literaturas, contando actualmente com mais de 50 cursos, entre licenciaturas, pós-graduações, e mais de 20 cursos livres de línguas.

Um leque opcional vasto que cativou novos públicos e contraria os efeitos dos últimos anos nas Faculdades de Letras, vítimas de uma violenta estigmatização social traduzida na perda crescente de público. "Temos cá a fazer o mestrado em Texto Dramático inúmeros actores e actrizes, encenadores e coreógrafos", sublinha Ana Monteiro.

A versatilidade dos cursos de Letras é igualmente sustentada por alguns dos ex-alunos da FLUP, bem como pela diversidade das suas actividades laborais.

O deputado Augusto Santos Silva, licenciado em História e doutorado em Filosofia, sublinha que "a vantagem destes cursos de banda larga está em oferecer às pessoas a oportunidade de uma formação geral de índole cultural bastante sólida e esse foi um dos recursos principais que recolhi para a minha formação, quer na área das ciências sociais, quer em teoria política".

Uma opinião partilhada por Eduardo Machado, responsável por uma empresa de consultoria de gestão e o primeiro licenciado em Filosofia, no Porto, a entrar para o Master and Business Administration (MBA).

"A Filosofia deu-me uma maior capacidade para sistematizar os conhecimentos no campo da gestão, uma área que é multidisciplinar"
, refere aquele que foi o primeiro director da Escola de Comércio do Porto.

De resto, a relevância dos conhecimentos adquiridos é salientada pelo estudo do OE sobre a forma de acesso à actividade profissional onde continua a prevalecer o concurso, com 24,1%, seguido por "redes de conhecimento" e "candidatura espontânea", com 18,5% e 18,2% respectivamente.

Ana Monteiro lembra que até há pouco tempo era difícil imaginar, por exemplo, um filósofo gestor, uma ideia que é no entanto corrente na Europa e nos EUA: "Antes de criar um novo produto, a Nokia aconselha-se com um filósofo norte-americano".

A actual generalização do desemprego aliada a uma consciência crescente da necessidade de uma formação permanente ao longo da vida são factores que, para o Conselho Directivo da FLUP, criam uma nova oportunidade para evidenciar a importância do conhecimento no domínio das Humanidades.

Fátima Barbosa, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, é actualmente directora comercial de um grupo bancário e sublinha a importância das Letras na sua vida profissional: "Ninguém pode acabar um curso e ficar à espera que o emprego surja e as Humanidades dão uma maior abertura para qualquer tipo de formação e, no meu caso, foi importante para eu ter uma melhor visão por exemplo na liderança de equipas e de pessoas. Além disso as Letras permitem uma percepção mais lata da vida e da evolução das coisas".

Já para Paula Ferreira Alves, licenciada em Filosofia e actual decoradora de interiores, "a tendência para uma nova valorização das Humanidades é um óptimo sinal, uma vez que face à globalização a sociedade deve saber lidar, cada vez mais, com a diversidade e demonstrar mais abertura em relação a todas as lógicas".

Entre os licenciados activos, os cursos que detêm uma maior taxa de empregabilidade são Línguas e Literaturas Modernas, Geografia e Sociologia com percentagens de 46,2%, 16,4% e 10,6% respectivamente.

Ana Monteiro lembra aos portugueses, dos oito aos 80 anos, que a FLUP é um espaço eficaz e eficiente para melhorar o desenvolvimento científico, cultural, social e económico dos fazedores da região em que se inscreve e do país a que pertence.





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