Cátia Mateus
Chama-se INSerralves e abre as portas no próximo ano para acolher novas empresas totalmente ligadas à indústria da criatividade e inovação. Trata-se de um projecto inédito no país que só agora verá nascer, no Porto, a primeira incubadora de empresas especificamente pensada para negócios que se fazem à base de uma criatividade constante. Um importante passo no fomento ao auto-emprego em áreas onde nem sempre é fácil encontrar trabalho.
Produção artística, cinema, vídeo, fotografia, «design», produção de conteúdos audiovisuais ou até arquitectura, são algumas das áreas de actividade que poderão encontrar um espaço nesta ‘incubadora artística' pensada com o objectivo de estimular o desenvolvimento e a criação de empresas ligadas à actividade criativa, com potencial comercial.
Trata-se de aplicar, de forma inovadora, o conceito de incubação empresarial importado dos Estados Unidos e muito em voga nas áreas das tecnologias, ao mundo criativo e artístico, ainda que a respeito deste projecto e durante a sua apresentação pública António Gomes de Pinho, presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, tenha frisado: “Estamos a falar de negócios e empresas e não de arte”.
Cristina Paz, membro da direcção-geral da Fundação de Serralves envolvida no projecto, explica que “o lançamento da incubadora é o culminar de um estudo de quase três anos sobre a relação entre a cultura e a economia”. A responsável adianta que “Serralves sempre foi um exemplo de sucesso neste domínio e só agora se encontraram as condições ideais para avançar com este projecto”.
A nova estrutura terá, numa fase inicial, capacidade para acolher 12 projectos empresariais recém-nascidos, por um prazo de dois anos. E, à semelhança dos demais modelos de incubação empresarial espalhados pelo país, representará um importante contributo na fase de arranque da empresa, ajudando a minimizar (pela redução de investimento inicial em instalações e equipamentos) os riscos inerentes a qualquer novo projecto empresarial. Um risco que para Cristina Paz não é exclusivo às áreas de negócio onde a criatividade é a pedra basilar. Mas a responsável não nega que “se todas as empresas têm necessidades especiais na sua fase de arranque, as ligadas à cultura não são excepção e poderão ter dificuldades adicionais nos campos da gestão, por exemplo”.
António Gomes de Pinho não tem dúvidas em considerar a INSerralves “um projecto estratégico e um salto para o século XXI. A ideia é também ajudar a promover o Porto como um «cluster» das indústrias criativas e, para isso, o responsável acredita que será muito importante a qualidade do processo de selecção das empresas a incubar.
As candidaturas à INSerralves estão em curso até 14 de Janeiro. Os jovens empresários deverão formalizar a sua candidatura através da elaboração de um dossiê que inclua a descrição das suas ideias detalhadamente, dando relevo aos factores de diferenciação criativa e de negócio. Depois de analisadas todas as candidaturas serão divulgados os 12 negócios a incubar. Um processo rigoroso que António Gomes de Pinho considera fundamental para o sucesso da iniciativa.
Às 12 empresas seleccionadas desta triagem, a Fundação de Serralves cede uma infra-estrutura de 400 metros quadrados, no edifício localizado em frente à Casa de Serralves, a troco de um pagamento mensal de 12 euros/metro quadrado. Este valor cobrirá, além do espaço, acessos à Internet, faxe, telefone e demais equipamentos. Paralelamente a esta incubação, a Fundação de Serralves vai assegurar a monitorização dos resultados deste projecto, bem como o estabelecimento de várias parcerias, tendo em vista, também, a dinamização económica das empresas incubadas. É que a INSerralves enquadra-se num projecto mais vasto que tem como meta o desenvolvimento das indústrias criativas na região norte do país.
A incubadora que abrirá as portas em Março do próximo ano será, por isso, o «case study» de um estudo macroeconómico a realizar sobre o sector criativo que visa apurar o potencial desta indústria naquela região. Além da Fundação de Serralves, a INSerralves conta com a participação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, da Área Metropolitana do Porto, da Casa da Música e da Sociedade de Reabilitação da Baixa Portuense. Mas além destas instituições, a Vodafone, a REN, a Siemens ou até a Inditex poderão vir a sagrar-se parceiras da primeira incubadora criativa do país.
Apoios que Gomes de Pinho considera fundamentais até porque, como referiu, “os parceiros desta iniciativa poderão vir a funcionar como clientes das empresas criadas e queremos fomentar essa proximidade”. A materialização do projecto INSerralves implica um investimento na ordem dos 400 mil euros. A primeira incubadora empresarial totalmente voltada para o mercado da criatividade abre as portas em Março de 2008. A meta é a médio-prazo alargar a capacidade de empresas a incubar.