Basta analisar o Guia do Mercado Laboral 2016, esta semana divulgado pela consultora Hays, para identificar sinais claros de otimismo entre as empresas e a sua intenção em reforçar equipas. Mas há um dado crítico entre os números mais relevantes: pela primeira vez em muito anos, a percentagem de empregadores que pretendem contratar igualou a percentagem de profissionais que equacionam mudar de emprego: 74%. Se por um lado esta realidade confirma o crescente dinamismo do mercado, por outro ela tem de ser encarada com preocupação, segundo a líder da Hays Portugal. É que nunca, alerta Paula Baptista, “o número de profissionais em busca de novos projetos foi tão baixo”.
Foi em 2014 que a percentagem de profissionais disponíveis para a mudança atingiu o pico máximo dos últimos seis anos: 83%. Desde então a tendência tem vindo a decrescer e é mais acentuada em áreas como as Tecnologias de Informação (onde só 67% dos profissionais estão recetivos a uma mudança profissional) ou as Ciências da Vida (68%). Áreas onde a luta das empresas pela captação e retenção de talento está, há muito, ao rubro e é agravada pela concorrência de empresas internacionais que contratam em Portugal para operações globais. Paula Baptista reconhece que em muitas organizações a contratação dos perfis certos representa já um problema.“55% das empresas portuguesas recrutaram profissionais menos adequados por não encontrarem o candidato ideal”, realça.
A disparidade entre as competências que as empresas mais valorizam no momento de constituir equipa e a que os candidatos disponíveis detém é real, mas não é o único factor a dificultar a vida aos empregadores. A indisponibilidade dos profissionais para a mudança - apesar da elevada percentagem dos que se assumem insatisfeitos com as suas perspetivas de progressão (75%) - poderá ser um dos principais problemas com que os recrutadores terão de lidar este ano e Paula Baptista não tem dúvidas do impacto que isto poderá gerar para os milhares de empresas que procuram candidatos.
Nos últimos anos “as empresas tornaram-se mais estratégicas, mais eficiente e mais ágeis, de modo a acompanhar a volatilidade do mundo atual. No entanto, a filosofia do fazer mais com menos, acabou por reduzir muitas equipas a mínimos funcionais, pelo que aos primeiros sinais de retoma, algumas estruturas não tinham disponível o capital humano necessário para executar planos de crescimento”, explica. Impulsionado pela retoma, 2015 destacou-se como o ano em que as contratações se tornaram urgentes, “sem que o mercado de trabalho conseguisse dar resposta ao crescimento volume de solicitações”, reconhece a líder da Hays que avança números: entre os 800 empregadores inquiridos no guia deste ano, 78% confirmaram ter enfrentado dificuldades em recrutar talento, seja porque os candidatos disponíveis não possuem as competências que os empregadores procuram, ou porque os projetos e condições oferecidas não vão de encontro às expectativas dos profissionais.
E nesta matéria há outro dado curioso. É que 47% dos profissionais no ativo recusaram ofertas de emprego no último ano. Em 2016, as perspetivas de contratação das empresas estão maioritariamente centradas na área Comercial, Engenharia e perfis das Tecnologias de Informação, justificando-se com o crescimento das empresas. “O grande desafio estará, sem dúvida, na capacidade destas empresas atraírem e reterem os melhores talentos. Algo que pode ser particularmente difícil tendo em conta as condições aliciantes oferecidas no estrangeiro aos profissionais portugueses”, destaca Paula Baptista reconhecendo que para profissionais e empresas, aproximam-se momentos de forte competição pelos melhores profissionais do mercado, tornando-se vital que as empresas saibam responder às aspirações dos profissionais nos benefícios que oferecem. E também aqui há problemas. É clara a desadequação entre o que procuram os candidatos e o que oferecem as empresas.
A oferta salarial, apontada por 81% dos candidatos como um dos fatores com maior peso na sua motivação para a mudança, só é elencada como um ponto forte por 20% das empresas na sua auto-avaliação. O mesmo sucede com os planos de carreira que para 67% dos profissionais são determinantes e só são prioritários para 16% das organizações, ou com os prémios por desempenho: 42% dos profissionais valorizam-nos e só 13% das empresas os praticam. Equilibrar estas ambições poderá ser vital para a missão das organizações de captar talento. Tanto mais que como reforça Paula Baptista, “o verdadeiro crescimento e sucesso estará do lado dos empregadores que conseguirem garantir e preparar as melhores equipas”.