Ruben Eiras
A CULTURA de trabalho de Portugal é uma vantagem
comparativa na UE, devido ao seu alto grau de flexibilização.
"Em comparação com outros países da UE, o
mercado laboral português é pioneiro e inovador, pois já
possui à volta de 35% da sua mão-de-obra flexibilizada.
Isto é uma enorme vantagem para criar mais eficiência na
economia", frisou Hugues de Jouvenel, director-geral do Futuribles,
um "think-tank" francês na área da gestão,
aquando da sua participação no seminário "Portugal
e a Nova Europa", organizado na semana passada pelo Conselho Económico
e Social na Sala do Senado da Assembleia da República.
De acordo com os dados apresentados por aquele especialista, cerca de
um em cada 10 portugueses trabalha a tempo parcial e um em cada 15 labora
em regime de contrato a prazo.
Se a estes indicadores for adicionada a percentagem de 20% que exercem
actividade por conta própria, então cerca de 35% da população
activa portuguesa encontra-se flexibilizada.
Todavia, Hugues de Jouvenel salienta que embora Portugal seja "um
exemplo de flexibilização", há que assegurar
melhores salários e a disponibilidade de bons empregos à
minoria que labora em regime flexibilizado.
Em contrapartida, o especialista gaulês defende que deverão
ser retirados alguns dos privilégios de segurança laboral
àqueles que trabalham num regime contratual sem termo.
"A insegurança tem que ser partilhada - não é
justo que uma grande maioria goze emprego para toda a vida, cheio de
regalias sociais, e uma minoria ande sempre a saltar de um trabalho
para outro", reitera.
Comportamento é crucial
Por outro lado, para que Portugal consiga criar actividades económicas
com maior valor acrescentado, Hugues de Jouvenel observa que a aposta
deverá incidir na aprendizagem ao longo da vida, com um especial
enfoque nas competências comportamentais.
"Com uma força de trabalho marcada por baixas qualificações,
o aumento não pode ser só focado nas competências
específicas para um determinado trabalho para outro - mas estas
têm que ser mudadas em determinados momentos da nossa vida. E
para fazer isso, é preciso ter educação básica
(ser capaz de ler, escrever, usar um PC e de aprender) e comportamental",
salienta aquele especialista.
Por isso, Hugues de Jouvenel sublinha que deverão ser desenvolvidas
na população activa portuguesa as competências de
capacidade de iniciativa, responsabilidade, mobilidade e de trabalho
em equipa. "Sem dúvida, a prioridade é o comportamento",
remata Hugues de Jouvenel.
Política em prática
MARIA João Rodrigues, uma das principais responsáveis
na Comissão Europeia pela implementação da Estratégia
de Lisboa, também participou no evento e deu as seguintes linhas
de acção para a sua aplicação em Portugal:
- Criar centros de formação próximos das empresas,
em especial das PME
- Autonomizar na negociação colectiva a questão
da validação de competências
- Estabelecer critérios na negociação colectivo
para que o progresso na carreira se baseie na formação
e não na antiguidade.