Um salto no abismo
"Um salto no abismo ou mergulhar no escuro".
É assim que Maria Ana Sousa Machado define o seu pulo para o mundo dos
empresários. Começou numa arrecadação de casa com um computador e um telefone,
mas a força de vontade e a determinação fê-la chegar muito mais longe...
Hoje é dona da Show Off, uma empresa de publicidade
que organiza eventos. O seu lema é vestir a camisola do cliente, diz que
o seu sonho sempre foi gerir-se a si própria e acrescenta a rir que desde
muito cedo gostava de mandar. Em pequena só queria estar na secretária
do pai a carimbar cheques e a dar ordens à irmã. Hoje os seus trabalhos
são os seus bebés e ai de quem disser mal deles. É caso para dizer...
assim nasce uma empresária.
Qual foi o seu percurso académico?
Entrei para o IADE, para o curso de Marketing e Publicidade e logo no
final do primeiro ano comecei a trabalhar. Por causa disso, no segundo
quis passar para a noite. Quando iniciei o terceiro ano convidaram-me
para ficar como assistente de professor, dois dos meus professores foram
meus colegas de trabalho na Publicis.
Entretanto iniciei o projecto da Show Off e o trabalho já era demais o
que me levou a abandonar o curso.
Como foi o seu percurso profissional?
Comecei por estagiar na Publicis que é uma grande multinacional.
Estive um ano no departamento de relações públicas e acessoria mediática.
Depois trabalhei nas primeiras páginas de Internet interactivas, que eram
para a Super Bock que na altura era cliente da Publicis.
Mais tarde, passei para o departamento criativo e de fotografia, fiquei
lá mais um ano e meio e depois sai e tive mais alguns convites para outros
projectos. Entretanto, apareceu-me uma oportunidade para realizar um evento
a que eu perguntei se podia concorrer como free lancer. Como a resposta
foi positiva, concorri com uma amiga e acabámos por ganhar, foi óptimo!
Tratava-se do lançamento de um carro e correu tudo muito bem.
Tivemos a grande sorte de começarmos logo com clientes grandes, fizemos
uma enorme festa de Natal para a Império ainda a Show Off não existia.
Aliás, fizemos para a Império duas festas em simultâneo, uma em Lisboa
outra no Porto, uma para 800 pessoas e outra para 200. Lembro-me que a
minha sócia tinha estado numa empresa de eventos e havia aquelas tricas
do género "aquelas duas juntaram-se e formaram uma empresa de eventos"
e aí nós pensámos: porque não? Estávamos a investir o nosso trabalho e
ideias para outras pessoas, para formar novas empresas e novos projectos,
então, porque não formar o nosso? Nessa altura eu ainda não tinha deixado
os estudos, pelo que era complicado. Acabei por deixá-los quando comecei
como free lancer, em 1998, com a Show off oficiosa. A Show off começou
realmente em Janeiro de 1999.
Quais foram os principais passos que deu para constituir a sua empresa?
Loucura, motivação, inconsciência e um risco brutal. Nunca recorri a nenhum
apoio da comunidade europeia, sobrevivemos nós próprios sozinhos, não
devemos nada a ninguém. Além disso não investi capital quase nenhum, começámos
numa arrecadação de casa, com um computador e um telefone.
Concorremos para o sector de comunicação e relações públicas da Crysler
Jeep que estava por essa altura a chegar a Portugal e chamaram-nos. Em
seguida disseram-nos que queriam conhecer as nossas instalações e nós
tivemos de encontrar um escritório. Vimos imensos, até que apareceu um
com aluguer barato no Príncipe Real, a fachada do prédio era feia no entanto,
estas instalações tinham sido o antigo atelier do grande arquitecto Conceição
e Silva, o espaço era giríssimo, e eu disse: é aqui! E aqui ficámos. O
cliente nunca apareceu para ver as instalações, mas foi assim que conseguimos
começar.
Qual o maior desafio que enfrentou?
Foi sem dúvida, ficar com o departamento de comunicação de uma marca automóvel
que toda a gente em Portugal tinha uma expectativa brutal em conhecer.
Era uma marca mundialmente conhecida e de repente fica entregue a duas
raparigas que ninguém sabe quem são. Eu tinha o que se pode chamar intuição
e as bíblias na mão, apesar de não recorrer muito a elas. Tinha estado
três anos numa agência de publicidade, sempre atenta a várias áreas. Mais
tarde ficámos sem o departamento da Crysler Jeep porque eles cresceram
brutalmente e deixava de fazer sentido terem um departamento de comunicação
exterior, no entanto continuamos a trabalhar com eles.
Foi difícil constituir a agenda de contactos?
Não, eu e a minha ex. sócia, a Marta, tínhamos uma base de contactos fabulosa.
Em termos de publicidade à agência houve o chamado "palavra passa palavra",
isto porque as pessoas contavam que determinado evento tinha sido realizado
pela Show Off, e assim fomos fazendo clientes. Além disso fui ver o raking
das agências de publicidade, havia empresas que faziam acções e é a pessoa
chegar lá, não ter medo e ir apresentar-se. É acreditar na nossa capacidade
de trabalho.
É importantíssimo que o meu cliente sinta que tem segurança e acho dificil
ter passado essa segurança com apenas 23 anos, essa era a desvantagem
que a Show Off tinha. Foi um salto no abismo, foi como mergulhar no escuro!
O que mais gosta de fazer na Show Off?
Do trabalho de RP, foi sempre a minha paixão, daí eu ter passado para
o departamento criativo para produzir os eventos...é a concepção, a idealização,
a visão do tempo.
Hoje por exemplo, estruturei logo pela manhã, três propostas criativas.
Isto significa rentabilidade de tempo e gozo pessoal. Dou a conhecer marcas,
faço acções promocionais e com a imprensa. Tenho de assinalar que há um
leque de fornecedores que considero meus parceiros, o sucesso da Show
Off também se deve a eles. Além disso, gosto de ideias loucas e não tenho
medo de as implementar. Acredito que as coisas se fazem e pronto! é uma
questão de pragmatismo, para mim as coisas nunca são impossíveis, eu tenho
ideias e gosto de arriscar e trabalhar para um objectivo.
Que conselho daria a alguém que queira criar uma
empresa?
É preciso ter uma grande dose de risco e acreditar que as coisas acontecem.
Ter paixão pelo que se faz, senão o projecto não vinga, tem de ser uma
paixão absoluta!
Pensou em mais algum curso sem ser publicidade?
Direito, pela adrenalina das barras de tribunal. Pensei ainda em gestão
já com a intenção de mais tarde fundar uma empresa, houve sempre a ideia
de gerir-me a mim própria, de gerir o meu tempo.
Qual era o seu sonho de criança?
Queria ter a minha empresa! Nunca quis ser trapezista nem "bombeira".
Só queria estar na secretária do meu pai a brincar, a carimbar cheques
e a dar ordens à minha irmã. Ainda hoje me dizem que gosto de mandar,
mas é inconsciente. Penso que me influenciou o facto do meu pai ter uma
empresa.
AF