Turismo socialmente responsável
(19-07-2007)
Carla Marisa Magalhães *
ebcarla@fgv.br
A Responsabilidade Social é um valor que nos deve acompanhar para toda a parte e em todos os contextos da nossa vida: do familiar ao profissional, do individual ao social. Sem dúvida que muitos dos momentos que nós mais apreciamos são aqueles que dizem respeito ao lazer, os quais, nesta fase do ano, se tornam particularmente apelativos, em virtude de, para a grande maioria da população do hemisfério norte (e não só), ser o período de férias. Deste modo, se vai de férias (seja cá para dentro ou lá para fora) leve na sua bagagem alguns conceitos e formas de estar, que certamente ajudarão esse período a ser bastante mais agradável para si e para os outros. Afinal de contas, se tudo o que nós fazemos tem consequências e provoca reacções, se o fizermos bem, certamente que tanto as consequências como as reacções serão positivas. E qual a melhor forma de “fazer bem”? É fazer com Responsabilidade Social!
Vejamos, então, alguns conselhos, que nunca são demais transmitir:
- Se tem animais de estimação, não os abandone para ir de férias. Eles não são brinquedos e, tal como nós, merecem ser respeitados e bem tratados. Se pensar e agir nesse sentido, vai ver que as férias lhe saberão melhor, assim como o regresso a casa.
- Se vai viajar de carro, tenha em atenção o seguinte:
• Utilize combustível “verde”, sempre que possível;
• Viaje de carro apenas quando for mesmo necessário. Uma vez em locais bem servidos por transportes públicos, opte por estes, pois além do menor impacto ambiental, é bem provável que poupe algum dinheiro (sobretudo devido ao estacionamento), que a probabilidade de se perder diminua e que possa vivenciar mais de perto o estilo de vida das populações locais;
• Se alugar um carro, opte por um modelo de baixo consumo;
• Não se esqueça que o melhor ar é o natural e não o condicionado. O Meio Ambiente agradece! É claro que por vezes o recurso ao ar condicionado torna-se inevitável, mas nem sempre é assim, por isso tente distinguir a necessidade do hábito;
• Se conduzir não consuma drogas (como o álcool). Se consumir, não conduza! Mesmo que ache que está em condições de o fazer. E este conselho é válido caso também esteja sob o efeito de medicamentos que possam interferir com a condução;
• Não estacione em locais proibidos ou susceptíveis de incomodar a mobilidade de terceiros, mesmo quando não existem proibições à vista. Lembre-se que viver em sociedade é saber respeitar os direitos dos outros, mas também antecipar-se a esses direitos, cumprindo os seus deveres, que muitas vezes são apenas de ordem moral;
• Não desrespeite as regras de trânsito, mesmo que esteja sem paciência ou com pressa (a não ser que seja uma emergência, mas nesses casos existem formas de sinalizar essa situação, como colocar um lenço do lado de fora da janela). Pense que certamente está cercado por pessoas que também estão na mesma situação, mas que nem por isso violam o código da estrada, desrespeitando os outros condutores ou peões.
- Se for visitar lugares com culturas diferentes daquela a que está habituado, procure respeitar o estilo de vida da população e tente adaptar-se ao máximo à forma de estar local, pois lembre-se que eles já lá estavam antes de nós chegarmos e que muitos nem sequer estão de férias.
- Não desperdice! Só porque não está na sua casa não significa que pode desperdiçar luz, água ou gás. A fonte destes recursos é o Planeta Terra, que deve ser poupado. E pela Terra todos nós somos responsáveis!
- Não polua! Mesmo que esteja num local onde as pessoas deitam lixo para o chão ou sujam as praias, não imite esses comportamentos. Faça a sua parte e dê um bom exemplo. Quem sabe as boas maneiras não são contagiosas? E, já agora, não se esqueça de contribuir para a reciclagem do lixo que produz. Mesmo estando num país onde essa prática não parece ser habitual, é provável que existam locais especializados nessa tarefa.
- Não fume em recintos fechados, mesmo que não seja proibido e estejam várias pessoas a fazê-lo à sua volta. Também neste caso deve dar um bom exemplo e quem sabe assim não desperta a consciência dos fumadores mais “distraídos”. Já imaginou como se sentiria se tivesse uma doença respiratória, por exemplo, e não pudesse frequentar inúmeros lugares por estarem repletos de fumadores? Ao menos que não lhe caiba a si parte da responsabilidade de situações injustas como essa. E, já agora, tenha cuidado para onde deita e como apaga o seu cigarro ou charuto. Os incêndios não precisam de uma segunda oportunidade para surgirem.
- Se viaja com crianças, tome cuidado com elas, mas também com os outros, isto é, o bem-estar dos seus filhos (e o seu) é muito importante, mas o das outras pessoas também é. As crianças são o melhor do mundo e se por vezes interferem com o sossego das pessoas, certamente que o fazem de forma inocente, natural e espontânea, senão não seriam crianças. Por isso, cabe aos seus responsáveis tentar equilibrar o estilo de vida infantil - mais activo – com o estilo de vida adulto – mais sereno, sobretudo em período de férias. Aos adultos cabe ainda o bom senso de saber distinguir os lugares próprios para crianças, daqueles que não o são. Talvez assim consigamos conter esse movimento tão perverso que parece estar a alastrar-se e que tem gerado um certo sentimento de “fobia” em relação às crianças, o que se tem materializado nas recusas de muitos restaurantes e hotéis em receber famílias acompanhadas por filhos mais pequenos e, portanto, mais susceptíveis de incomodar o sossego alheio. E, sem ter a intenção de fazer “comparações incomparáveis”, estes conselhos também se aplicam a quem viaja com animais, nas suas devidas proporções, é claro.
- Seja cordial, bem-educado, compreensivo e tolerante. Lembre-se que está de férias, mas as boas maneiras não estão e devem aplicar-se em qualquer altura e contexto: no trânsito, nas filas para entrar em locais e eventos, nas praias, nos restaurantes… Se assumir este comportamento, certamente terá mais probabilidade de chegar ao fim das férias com um grande sorriso nos lábios, já que comportamento gera comportamento.
Enfim, muitos outros conselhos poderiam ser aqui dados e certamente que a sua utilidade nunca se esgota (ao contrário dos recursos naturais), mas usando o bom senso concerteza saberá o que deve ou não fazer para agir com Responsabilidade Social. Até porque este conceito é inesgotável, abrangendo uma vasta lista de valores e atitudes, que passam também pela Cidadania e pelo Civismo, entre outros modelos de conduta. Lembre-se que a sua liberdade termina onde começa a liberdade dos outros! Se assim não fosse, ninguém seria livre!
Em suma, fazer turismo é bom, mas fazer turismo com Responsabilidade Social é ainda melhor! Boas férias!
*Carla Marisa Magalhães (marisamagalhaes@clix.pt) é investigadora e consultora na área da Responsabilidade Social e doutoranda em Ciências Empresariais, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em parceria com a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.