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Pensar, sentir e agir: o triângulo crítico



01.01.2000



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Pensar, sentir e agir: o triângulo crítico

O choque cultural possui três níveis que é necessário gerir para enfrentar o stress da transição, mudar a percepção e interpretação dos conhecimentos e comportamentos (incluindo a sua re-significação)), e desenvolver assim as suas capacidades de socialização.

Esses níveis são o Pensar, Sentir e Agir.

Ao nível do pensar há a referir que viver num ambiente familiar bem estruturado e previsível facilita a compreensão das expressões, dos gestos e das regras culturais. Mas, se já é difícil geri-los no seu próprio país, é necessário adicionar o factor intercultural aos seus problemas e a complexidade atingirá uma nova dimensão. As diferenças culturais são mais evidentes na forma como as pessoas se comportam (particularmente em grupo). Qualquer quadro internacional facilmente encontrará estas diferenças, desde a forma de cumprimentar (em alguns países asiáticos e africanos, a primeira coisa que se deve perguntar a alguém conhecido é "como está a família"), no vestuário, nos hábitos alimentares, na conduta à mesa, dentro e fora do trabalho, etc.

Ao nível das emoções (sentir), é de referir que combinar as emoções com a inteligência é um dos factores mais importantes para o sucesso. Em 1996, David Goleman, autor do famoso livro "Emotional Intelligence", introduziu o conceito de inteligência emocional no mundo da gestão. Ela consiste na capacidade de nos conhecermos a nós próprios e aos outros, de sermos sensíveis e capazes de controlar as nossas emoções, de sermos sociáveis, ao mesmo tempo que aproveitamos o nosso potencial intelectual. Saber lidar com a pressão do trabalho no estrangeiro está intimamente relacionado com a inteligência emocional. As emoções influenciam o desempenho, a capacidade de lidar com tarefas complexas, bem como as relações interpessoais e as capacidades de gestão.

O ponto de partida para a adaptação a um ambiente de trabalho estrangeiro ou internacional consiste em antecipar os desafios que provavelmente enfrentará; se não o fizer ficará exposto a depressões profundas. Após isto há que efectuar uma análise pessoal, reflectindo sobre os seus principais pontos fortes e fracos e as diferenças mais marcantes entre a sua cultura de pertença e a cultura do país hospedeiro. É importante que o quadro internacional se concentre nos aspectos positivos e procure apoio, falando acerca dos seus problemas com amigos mais próximos ou colegas de trabalho em quem possa confiar.

Seguidamente, deve aprender a analisar a forma como interpreta as situações a que está exposto, cruzando a sua perspectiva com a de outras pessoas mais experientes; será que a sua forma de interpretar é "normalmente" realista, ou cria expectativas exageradas (positivas ou negativas)? É necessário (re)lembrar que a vida não tem que ser perfeita, donde é necessário saber distinguir as situações que consegue e que não consegue controlar, tentando fazer algo em relação às primeiras e ser pragmático em relação às segundas, não ficando demasiado absorvido ou mesmo "preso" em relação às que não consegue mesmo resolver.

Finalmente, a terceira dimensão do fenómeno, refere-se ao agir (comportamento). O contexto familiar, ao qual estamos habituados e no qual o nosso comportamento faz sentido, pode ser encarado negativamente numa nova cultura. Por exemplo, a rectidão, a firmeza e a comunicação explícita, directa e frontal, podem ser atributos positivos nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, mas são encaradas como atitudes inadequadas na China e em muitos outros países asiáticos, africanos e latinos. A identidade pessoal é abalada e pode levar-nos a ter que redefinir, integrando as novas experiências e reacções, no nosso velho "eu".

É verdade que a identidade e objectivos pessoais são determinados pelas experiências passadas pelos hábitos e tradições familiares bem como pelo contexto profissional e social. Para alcançar estabilidade pessoal e social, há que manter um bom relacionamento familiar, preservar os amigos, ter um emprego, entre outros. No entanto, tudo isto se pode alterar se formos trabalhar e viver para outro país, porque os padrões sociais e organizacionais que conhecemos podem não existir ou ainda, porque os modelos implícitos de organização podem ser radicalmente diferentes ou mesmo opostos, o que faz com que nos sintamos deslocados do contexto. Os quadros internacionais, não raras vezes se queixam de dificuldades a nível de integração social, o que lhes provoca séries crises de identidade ou situações de isolamento.

Contudo, uma vez ultrapassadas as dificuldades iniciais, o resultado é normalmente positivo. Pesquisas realizadas junto de diversos quadros internacionais identificaram as principais mudanças a nível da personalidade como consequência directa do trabalho, nomeadamente, maior confiança, flexibilidade, capacidade para ouvir os outros, tolerância, sensibilidade a outras culturas e sentido de independência.

Fonte RHM (continua)






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