Lidar com as pessoas
"Criar uma empatia fácil com as
pessoas" deve ser o segredo para um bom Gestor de Recursos Humanos.
A dica é de Mário Neves, Administrador da New Value People,
Recursos em T.I., que conversou connosco e provou a sua empatia.
Tirou o curso de Engenharia Informática
e veio parar aos Recursos Humanos. Como é que explica esta mudança?
Quando acabei o curso comecei a programar e a fazer toda aquela parte
técnica. Depois dediquei-me um pouco à formação,
ao contacto com as pessoas e a perceber o problema das pessoas. O meu
percurso antes de chegar aos Recursos Humanos passou por esta área
de Formação.
Aí, comecei a perceber que gostava mais de trabalhar com pessoas
do que, propriamente, com máquinas ou computadores.
De onde é que surgiu esse investimento
na formação?
Foi por iniciativa própria deixar a parte da programação
e dedicar-me a 100% à formação. Foram dois anos bons
a nível de formação, em 92 e 93. Depois, as coisas
começaram a diminuir em termos de quantidade. Essa diminuição
teve reflexo no mercado de formação e os formadores decidiram
sair e voltar, quase todos, às antigas profissões.
Eu, na altura, saí da formação e voltei às
máquinas, mas foi uma experiência muito curta na Novabase.
Comecei como programador e passado algum tempo já era analista/programador
e já estava em contacto com os clientes e não tanto com
as máquinas. Depois, na Novabase surgiu a oportunidade de me dedicar
a esta área dos Recursos Humanos, onde estive durante um ano e
aprendi bastante.
E como é que isso aconteceu?
A oportunidade da Novabase surgiu quando, uma vez, abri o jornal Expresso
e vi um anúncio da empresa que dizia: "Novabase procura gestor
de recursos humanos com o perfil xyz". Pensei logo que o meu perfil
encaixava ali perfeitamente. Recortei o anúncio e cheguei ao pé
do administrador e perguntei-lhe porque é que ele andava à
procura de uma pessoa se eu estava ali.
Acha que teve sorte para construir a sua carreira
actual?
É assim, as coisas foram aparecendo, mas eu também as procurei...
há aqui um equilíbrio. Não sei, se calhar tive um
bocadinho de sorte porque as coisas apareceram na altura certa. Às
vezes não aparecem mesmo que estejamos à procura delas.
Mas foi um pouco a conjugação das duas coisas: aparecerem
as oportunidades e eu agarrá-las no momento certo.
Até agora, quais foram as maiores dificuldades
que teve na profissão?
As coisas técnicas dos Recursos Humanos que eu tive de aprender
foram o que me deu mais dificuldade.
Do resto, aquilo que é o mais importante, como o contacto com as
pessoas, não tive dificuldades porque gosto muito de estar com
as pessoas e resolver os problemas. Preocupo-me com cada uma das pessoas
que trabalha connosco. Acho que esta parte é muito interessante
nos Recursos Humanos.
Depois há a tal dos ordenados, férias, processos legais,
gestão... esta parte foi mais difícil e chata de aprender,
mas fui sempre compensado com a outra.
Quais são os "ingredientes" principais
para se ser um bom RH?
Um RH tem de ser uma pessoa suficientemente aberta para os outros e que
saiba ouvir. Basicamente, tem de ser capaz de criar uma empatia fácil
com as pessoas, ser aberto e saber ouvir.
Dentro da medida do possível, tem de resolver os problemas e não
ser ele parte do problema. As pessoas quando têm problemas, seja
a que nível for, sabem que podem ir falar com aquela pessoa que
está ali para os ouvir e resolver o problema. Mesmo que não
consiga resolver, o facto de, às vezes, as pessoas desabafarem
e falarem já ajuda.
Como é que se pode investir numa carreira
em Recursos Humanos?
Convém sempre tirar um curso e, por exemplo, fazer uma pós-graduação.
Quem não é gestor de Recursos Humanos deve tirar um curso
que esteja relacionado com a gestão, mas mais virado para aquelas
partes técnicas e não na parte pessoal que é inerente
à pessoa. É também importante ir a seminários
e aos congressos dos chamados gurus da área.
Em Portugal, o que é que está bem
e mal nos Recursos Humanos?
Isso depende muito das empresas. As grandes empresas estão a perceber
que os Recursos Humanos são uma parte fundamental e que a gestão
e acompanhamento das pessoas é importante para qualquer instituição.
Estão a fazer-se algumas alterações, mesmo a nível
dos grandes grupos que tinham apenas uma parte administrativa e o resto
não existia. Mas é claro que, ainda, há coisas que
estão mal e a administração pública nisso
é uma desgraça porque simplesmente não há
gestão dos recursos humanos.
E como é que se pode melhorar?
Passa um pouco pela mentalização das pessoas. Mentalizar
os gestores de topo de que a área de recursos humanos é
um investimento e não um gasto.
Qual é que foi o seu maior desafio profissional?
Foi a criação da New Value. Na Novabase também foi
importante porque quando vamos para uma área onde nunca estivemos,
temos que pedalar muito mais e provar muito mais do que as outras pessoas.
A New Value foi a criação de uma coisa a partir do zero,
onde eu já não era uma pessoa da organização
que tinha alguém para disparar os problemas que existissem, mas
era quem estava à frente do barco.
Perspectivas para o futuro...
É complicado... mas vejo a minha carreira sempre como empreender
qualquer coisa, quer seja na New Value ou em paralelo à New Value.
Aquilo que eu gosto de fazer é criar coisas novas e que tenham
a ver com as pessoas.
TP