Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital
Num destes sábados, um noticiário televisivo falava da implementação do registo biométrico nos hospitais. Talvez seja uma boa medida e possa um dia dar resposta às perguntas que hoje deixo: o que é que aconteceu nos dias 22, 23, 24 e 25 de Dezembro aos trabalhadores do Hospital de Santa Maria? Médicos, enfermeiros, auxiliares e pessoal de limpeza, onde estavam? Com autorização de quem? Porque não estavam no Hospital?
Os doentes, não escolheram os dias. Limitaram-se a ficar doentes. Mas persisto na pergunta: onde estavam os profissionais de saúde, pagos com as nossas contribuições, no maior hospital da capital de um país da União Europeia, durante 4 dias? Quem autorizou a aberração da tolerância de ponto, pelo menos nos serviços de Medicina do Hospital de Santa Maria? Qual é o contrato com a empresa de «outsourcing» de limpeza que permite que na segunda-feira, véspera de Natal, o piso do serviço de Medicina 2-D cheirasse indecentemente a urina? Quem decretou que os familiares dos doentes só podem ter informações de 2ª a 6ª entre as 12h e as 13h? E quem permitiu que a semana do Natal, não contemplasse a 2ª, nem a 3ª e que à 4ª, os poucos que foram trabalhar (após 4 dias de ponte, tolerância e feriado) não tivessem mãos a medir com a maçada de tantos “utentes" e não tivessem tempo para informar as famílias?
De certeza que o juramento de Hipócrates não refere nada sobre isto, porque jamais passaria pela cabeça de Hipócrates esta aberração. Estou convicta disto, porque se passou comigo! Entre muitas outras pessoas, a minha mãe foi internada em estado grave a 22 de Dezembro no Hospital de Santa Maria, de onde não a pude tirar devido ao seu estado, e a primeira vez que consegui falar com um médico foi no dia 26, quarta feira, cerca das 18 horas. Cinco dias após ser internada! E nem sequer era um médico desse serviço mas um profissional da Medicina Intensiva para onde foi imediatamente transferida. Ficou-me o sentimento de desespero e de total impotência, a perplexidade sobre a forma como este serviço público trata os contribuintes.
O facto de que, num momento da minha vida em que mais fragilizada me encontrei, fui tratada (com muitos outros) como uma indigente numa qualquer república desconhecida e atrasada de filme americano. Para lá de tudo sobre o que falamos durante o ano de 2007 acerca do mercado de trabalho, ao pensar quais as medidas urgentes para 2008, não posso deixar passar este facto. Como está a saúde em Portugal? A quem é preciso implorar para não sermos tratados como nada, quando temos a fatalidade de ter um familiar a morrer no período de Natal?
Estou convencida que há mercado de trabalho nos hospitais! A falta de pessoal, ou o pessoal que falta, é maior do que alguma vez possamos pensar e, pelos vistos, as características humanas da maioria que lá está (e que se ausenta desta forma) não são as mais adequadas, havendo seguramente um erro de «casting». Sou uma mulher de fé e, provavelmente, o desfecho teria sido o mesmo, ainda que algum serviço, ou pessoa, me tivesse tratado e à minha família, como gostaria de ser tratado um dia se tiver a infelicidade de lhe acontecer algo parecido. Ficam as perguntas. Fica a impotência! Alguém pode responder?