Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
Lembro-me de que, há muitos anos, adolescente e curioso, a explicação que me davam para não haver eleições em Portugal era a de que os portugueses não estavam preparados para a responsabilidade de definir o seu próprio destino e tomar as decisões mais adequadas às complexidades da governação. A prova de que a história se repete e os extremos se tocam parece ser o facto de muitos anos depois estarmos, uma vez mais, a assistir a algo não muito diferente. Uma vez mais os detentores da verdade recusam as mudanças argumentando, no caso vertente, que se a legislação laboral for alterada os empregadores passarão a despedir de forma caótica, sistemática e socialmente irresponsável.
Caiu-se assim num impasse no qual, a par da negação dos mais elementares princípios dos equilíbrios naturais e da inteligência empresarial que regulam os sistemas socioeconómicos, acresce a recusa autista de interrogar a causa — efeito que nos tornou o país com maiores níveis de precariedade do emprego na Europa e gerou cerca de 200.000 detentores profissionais de recibos verdes.
Ilusoriamente protegidos pela legislação laboral mais obsoleta da Europa os jovens trabalhadores desempregados são as principais vítimas da legislação actual não apenas pela discriminação a que estão sujeitos em relação aos que que gozam de um estatuto praticamente vitalício de emprego mas — mais grave ainda — por não lhes revelar que, hoje e no futuro, cada vez mais, a única segurança de emprego a que poderão aspirar é a que se conquista através do esforço, individual e constante, de desenvolvimento das suas próprias competências humanas e profissionais.
Ao Estado compete velar para que as novas leis do trabalho previnam os excessos que uma situação de transição arrastará inevitavelmente da parte de uma franja resistente de empresas. Mas, por favor, não tratem os empresários e os gestores de recursos humanos como se fossem eles os filhos de um deus menor...