Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
Temos todos a consciência de que o desemprego constitui um dos mais graves problemas sociais da humanidade, não apenas pelos elevados custos económicos e as graves sequelas que provoca nas sociedades mas, sobretudo, pelo extremo sofrimento psicológico que causa às pessoas involuntariamente desempregadas. No contexto do desemprego resultante da mobilidade das pessoas ao longo da vida, do desencontro entre a procura e oferta no mercado do trabalho ou das situações em que a procura global de mão-de-obra é diminuta, o desemprego voluntário surge com uma conotação pejorativa na medida em que resulta da decisão de alguém que estando desempregado recusa deliberada e frequentemente aceitar novas oportunidades de emprego.
Além daquelas pessoas para quem o desemprego é um estilo de vida e uma forma de recusa da sociedade em que vivem, os motivos mais frequentemente apresentados pelos desempregados voluntários resultam do facto de a oportunidade oferecida não corresponder aos padrões de exigência definidos pelos próprios em termos de «status» e /ou de remuneração.
Por tal motivo, as normas legislativas que vieram recentemente disciplinar em Portugal a atribuição do subsídio de desemprego, ao sujeitar os desempregados ao controlo dos centros de emprego, à aceitação de empregos convenientes ou formação e à obrigação de apresentar provas de procura activa de emprego constituem uma medida extremamente oportuna e um contributo para resolver o enigma de um país com níveis de desemprego muito elevados no qual, sem explicação, é frequentemente muito difícil recrutar.
As situações de desemprego voluntário que envolvem trabalhadores que interrompem a actividade profissional para enriquecer a sua formação, mães que suspendem a carreira profissional por motivos de maternidade ou estudantes em regime de alternância constituem exemplos bem menos frequentes mas que servem para ilustrar o princípio de que, felizmente todas as moedas têm duas faces.