Mário Costa
Presidente do Grupo Select/Vedior
Quando falamos em cursos sem saída, ou em empregabilidade, ou nos questionamos sobre o que vale uma licenciatura, estamos a tocar numa da vertentes mais profundas e estruturantes do modelo de sociedade e da sua repercussão na vida dos indivíduos e das famílias. É inquietante que uma sociedade não proporcione trabalho digno aos seus cidadãos; mas, quanto uma parte significativa não trabalha, essa sociedade está gravemente doente. Ora, em Portugal, a taxa de desemprego anda perto dos 10%.
Há quem entenda que o diagnóstico está feito: o problema reside na desadequação entre o sistema de ensino e o mercado de trabalho. Este precisa sobretudo de formação técnica, mas sucede, pelo contrário, que cerca de 50% dos jovens saídos das nossas universidades são licenciados em direito e em ciências sociais e da educação. Na verdade, os cursos menos procurados são os de psicologia, sociologia, ciências da comunicação, história, filosofia, ou seja, de uma forma geral, os cursos ligados às ciências sociais e humanas.
No entanto, um curso não define, por si só, a educação do indivíduo, sendo esta, verdadeiramente, que potencia as suas aptidões e competências profissionais ao longo de toda a vida activa. Por isso, não conta apenas a formação de base, mas também as características da personalidade e da educação, que marcam a diferença e são garantia de evolução e sucesso profissionais.
É fundamental o desenvolvimento integrado de competências específicas e de competências transversais mais situadas nas áreas humanísticas, como, por exemplo, a sociologia, a psicologia e a filosofia. Nesta perspectiva, o desenvolvimento social deve combinar harmoniosamente o progresso técnico com uma forte solidez humanista.
É certo que, na globalização de que se fala, a natureza dos empregos é imposta pelos modelos de produção de bens e serviços, cuja definição é, em grande medida, transnacional. A esta luz, importa formar para as exigências dos postos de trabalho que se enquadrem naqueles modelos.
O designado Processo de Bolonha visa exactamente a harmonização da arquitectura do sistema europeu de Educação Superior, na vertente da convergência dos graus e ciclos de ensino superior, removendo, assim, os obstáculos à mobilidade de estudantes e professores e ao reconhecimento transnacional de qualificações académicas.
Todavia, tem-se vindo a constatar a falência das políticas públicas de emprego, visto que este é deixado à mercê das capacidades do indivíduo, num mercado de trabalho cada vez mais desregulado. Neste contexto, lamenta-se que o Estado esqueça o papel regulador que pode ser desempenhado pelo sector privado de emprego, nomeadamente pelas empresas de trabalho temporário, de selecção, recrutamento e orientação profissional, incluindo as de «outplacement».
O estabelecimento de parcerias com estas empresas é fundamental para aproximar e ajustar, de forma evolutiva e inclusiva, a oferta e a procura no mercado de trabalho.