Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital
Ao reflectir sobre a qualificação dos recursos humanos em Portugal, podemos utilizar um método absoluto mas, talvez seja mais útil recorrer ao método comparativo. Onde nos situamos numa curva normal? Na média Europeia? Abaixo da média? Muito abaixo?
Recorrendo a este método, é difícil não cair no pessimismo ou na síndroma de ‘Calimero'. Desde o início dos anos 80 que se fala deste tema,provavelmente até antes, mas eu não me lembro. Fazendo a análise comparativa (será que estamos três desvios padrão abaixo da média?) e ao definir um plano de acção, seria bom lembrarmo-nos de que os outros países não ficam parados e que, também eles (apesar de estarem acima da média), querem qualificar-se mais e mais ainda.
E a média muda, e o nosso plano de acção que, efectivamente melhorou a nossa qualificação, não acompanhou o ritmo de qualificação dos melhores. Têm sido criados Programas e Planos (como o agora apresentado QREN), têm sido disponibilizados fundos monetários para qualificar os recursos humanos porque, nas mentes mais esclarecidas, esta é uma turbina no desenvolvimento de um país e, consequentemente na sua Economia.
Ao olhar para trás penso verdadeiramente que se gastou muito e se ficou aquém. Não se mexeu significativamente no Sistema Educativo e, portanto, temos cada vez um maior número de pessoas para qualificar (mesmo licenciados). Continua o paralelismo entre a formação que se tem feito nestes últimos 30 anos e as aprovações quase aleatórias de licenciaturas que formam jovens para o desemprego e que não formam quadros para o desenvolvimento do país.
Por exemplo, em 2005 Portugal tinha 32 Licenciaturas de Psicologia! É lugar comum sermos um país de deprimidos mas será que esta solução é eficaz para as nossas necessidades? O que temos de pagar para tornar estes licenciados em população activa? Continuo convencida de que pouco mudará enquanto não se mudar o Sistema Educativo. Nem é preciso inventar! Basta copiar de outros países europeus. O Ensino Profissional continua a ser incipiente — pelo menos desde que se acabou com ele há 30 anos.
Dota-se os cidadãos com o nível básico para se posicionarem na sociedade mas não se ensina uma profissão. Oscilamos entre o licenciado e o indiferenciado. A qualificação passa por dotar os recursos da Formação necessária ao país, à semelhança do que os outros países europeus detêm e que as empresas que se implantam no nosso país procuram. É difícil explicar isto a um estrangeiro.
É hora de nos convencermos que somos e vamos continuar a ser um país de serviços. As políticas das últimas décadas assim o decidiram. Como do D. Sebastião, esperamos pelo comboio de alta velocidade. Até lá, corremos o risco de perder o comboio.